Restaurantes da Capital trazem diferentes versões da feijoada, com legumes e até mariscos

A iguaria, de receita-base feijão preto, carne de porco e temperos, se consagrou como prato nacional, simbolizando a gastronomia e a cultura brasileira

Escrito por Redação ,
Legenda: Popularmente conhecida na Capital, a feijoada da Zena conta com uma receita tradicional premiada
Foto: Natinho Rodrigues

Época de folia e exageros, o Carnaval pede um bom samba como trilha sonora. Já a música brasileira é o complemento ideal para uma feijoada completa, com couve, farofa e tudo o que se tem direito. Para curar a ressaca, recuperar o fôlego e continuar a animação da festa, estabelecimentos da capital cearense oferecem diversas variações do tradicional prato, algumas com modificações interessantes.

De origem milenar, a feijoada provoca discussões quanto ao seu ponto de partida. No Brasil, ela é comumente apontada como criação culinária dos escravos, que aproveitavam as sobras dos alimentos para compor a refeição. Após sofrer resistências e modificações, tal qual o uso do feijão-preto como insumo principal, a iguaria se consagrou como "prato nacional", simbolizando a gastronomia e a cultura brasileira.

Há 51 anos instalado no mesmo endereço, no Centro de Fortaleza, o restaurante da Zena serve sua tradicional feijoada com o mesmo objetivo: comida boa por preço justo. Guarnecida de arroz, couve e farofa de torresmo, a iguaria que antes era servida apenas aos sábados, hoje é ofertada a partir da quarta-feira. O motivo? O estabelecimento lota de clientes ávidos para experimentar a delícia.

A grande procura, por parte deste público tão heterogêneo, enche de orgulho dona Zena. A casa, já consolidada como parte da história de Fortaleza, costumava receber boêmios e artistas da antiga cena cultural. "Vem muita gente de fora sempre. Italiano, francês, curitibano, mineiro e paulista. Vem de tudo um pouco. Fora quem está aqui todos os dias. Isso é o mais legal", afirma.

Praça

Para aliar a gastronomia à música, o Café Passeio comemora, em 2020, dez anos de feijoada e chorinho. Situado na Praça do Passeio Público, o restaurante convida, todos os sábados, diversos grupos para a apresentação instrumental, de modo a embalar a refeição com seu ritmo solto e sincopado.

Legenda: Localizado na Praça do Passeio Público, o Café Passeio serve feijoada aos sábados e domingos
Foto: Divulgação

Com a crescente demanda ao longo dos anos, a proprietária, Rosana Lins, decidiu crescer a oferta. Atualmente, a feijoada também é servida às sextas-feiras, em forma de prato executivo e, aos sábados e domingos, no buffet de self-service. Os acompanhamentos são os já conhecidos: couve, torresmo e tutu de feijão. Mas o preparo é algo característico, que Rosana faz questão de salientar.

"A feijoada tem uma característica marcante na aparência e no sabor. O feijão tem que tingir todos os ingredientes e isso é um processo muito difícil, porque cada carne tem um tempo de cozimento diferente. É um processo de paciência, em que você vai fazendo cada etapa até conseguir concluir o prato e saboreá-lo", revela.

Novas versões

Embora ancestral, a receita da feijoada também passa por inovações. É o caso da iguaria feita à base de mariscos pelo restaurante da Culinária da Van. No lugar das carnes vêm lula, polvo, camarão e filé de beijupirá. Já o feijão preto é trocado pelo branco.

Legenda: Para além da receita original, a feijoada da Culinária da Van leva camarão, polvo e peixe
Foto: Jether Junior

Sempre trazendo elementos da cultura regional, o estabelecimento se propõe a valorizar os insumos locais. "É um restaurante cultural, porque unificamos a música com o nosso cardápio e temos a proposta de servir a comida cearense da forma que ela merece ser servida. Todos os pratos têm nome de músicas de Luiz Gonzaga, que é um artista que eu muito admiro", explica a chef Van Régia.

A ideia surgiu da vontade de Van servir uma feijoada que fosse mais leve e que contemplasse clientes que tivessem uma dieta restrita, como quem não come carne vermelha, por exemplo. Acompanhada de torresmo de tilápia, arroz branco e farofa crocante de coco com dendê, o prato recebe o nome de "Rainha do Mar", canção do Rei do Baião.

Outra reformulação que tem agradado ao paladar do público é a feijoada vegana, feita sem alimentos de origem animal, resgatando a tradição do prato para quem abdicou do consumo de carne. A novidade, servida pelo Le Gumis, trouxe para Fortaleza uma tendência mundial: um açougue vegano. A proposta é criar produtos que já existem nos açougues tradicionais, porém, feitos completamente à base de plantas.

Legenda: Vegano e sem glúten, o Le Gumis oferece a feijoada sem ingredientes de origem animal
Foto: Lucas Carneiro

Com carne de soja, cogumelos, legumes e linguiça calabresa feita de feijão branco, o restaurante recria os sabores em receita livre de glúten. O proprietário, Robinson Garbes, diz que a possibilidade surgiu da intenção de trazer uma novidade para o cardápio durante o Carnaval. "Estava todo mundo anunciando uma feijoada 'cura-ressaca', então pensamos em fazer uma, mas com a nossa proposta", lembra.

Seja na feitura original, seja nas renovações provenientes da gastronomia, eis aqui uma iguaria que aproxima pessoas de diferentes vivências, através de seu sabor característico, seus ritos de preparos e seu valor cultural.

Serviço

Restaurante da Zena
(85)3226.3690

Café Passeio
(85)3063.8782

Culinária da Van
(85)3046.8600

Le Gumis
(85) 3109.7009

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