Personalidades cearenses escrevem cartas a Casa de Juvenal Galeno celebrando centenário

Zelito Magalhães, Linda Lemos, Alvarus Morenos e Auzeneide Cândido prestam tributo afetivo ao equipamento cultural

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@verdesmares.com.br
Legenda: Máquina de escrever sob posse de Juvenal Galeno foi instrumento de fruição de ideias
Foto: Foto: Helene Santos

O cotidiano de Juvenal Galeno era marcado, sobretudo, por uma afeição esmerada às pessoas, ao que elas tinham a contar. Apesar de residir no Centro da cidade, lugar da nobreza fortalezense, o escritor manteve atento olhar sobre o genuíno povo do Ceará, dada a vocação ao cuidado e à recepção. Para ele, todo dia era dia de preservar a identidade dos seus.

Não à toa, desenvolveu produção em sintonia com esses vieses. Nascido na Rua Formosa, número 66, em Fortaleza (hoje Avenida Barão do Rio Branco), pouco tempo depois foi para o Sítio Boa Vista, pertencente aos pais, localizado no município de Pacatuba. Passou parte da vida convivendo com os moradores da serra, ouvindo histórias, lendas, causos. Tudo registrado no que depois se tornariam obras seminais da literatura local e nacional.

Consta também a faceta de Juvenal no ofício de teatrólogo quando, em 1861, no Teatro Taliense, na Capital, foi apresentada ao público a montagem "Quem com ferro fere com ferro será ferido", primeira peça produzida e encenada no Ceará, relevante feito.

"Ele fazia parte de todas as agremiações literárias de sua época. E como ficou recolhido em casa, sem poder participar de reuniões externas devido a um glaucoma, muitos dos encontros foram acontecendo nesse espaço, atraindo mais e mais escritores e artistas da palavra", conta Antônio Galeno, justificando como a casa se moldou à vocação do autor pela interação e desejo de alimentar a cena cultural do Estado.

Na próxima página, trazemos cartas de quatro frequentadores assíduos da residência verde. São personalidades que, à própria maneira, igualmente escrevem a história do Ceará com vistas a perpetuar o legado cultural de nossa terra e se utilizam da Casa de Juvenal Galeno como maneira de estender essa valiosa herança.

São eles: Zelito Nunes Magalhães, jornalista, escritor e presidente da Academia Cearense de Literatura Popular; Maria Linda Lemos Bezerra, presidente da Academia de Letras Juvenal Galeno; Alvarus Moreno, tenor lírico, recitalista, compositor, poeta, cordelista, professor e pesquisador; e Auzeneide Cândido, cantora e professora.

Leia:

Ilustríssima Casa de Juvenal Galeno,

Ao ensejo das comemorações de seu centenário que ora celebramos, resta-nos enviar-lhe os mais efusivos parabéns pela grandiosa data. Como não poderia deixar de dizer, foi no Solar da Fraternidade onde dei os primeiros passos em direção às letras e cultura, de um modo geral. Foi em seu interior onde me abeberei das mais diversas e gloriosas lições repassadas de Juvenal para Henriqueta e para Cândida Galeno. Orgulhamo-nos da oportunidade que tivemos de criarmos ali a "Noite das Violas" (1967) e integrarmos a primeira diretoria da União Brasileira de Trovadores-UBT - seção do Ceará (1969). Por último, agradecemos pelo apoio que tem dispensado às 27 instituições de caráter literário, folclórico, circense e evolutiva nas artes do tablado. A Academia Cearense de Literatura Popular, fundada neste ano de 2019, cuja presidência nos foi confiada, é uma das distinções que somente o tempo se encarregará de agradecer. Salve os 100 anos da Casa!

Zelito Nunes Magalhães
Jornalista, escritor e presidente da Academia Cearense de Literatura Popular

 

Cara Casa de Juvenal Galeno,

Escrevo estas poucas linhas para dizer o muito que representa o legado que você, centenária casa verde, deixa para artistas que sonham com um mundo melhor, cheio de esperanças. Não só sua estrutura em si, mas também os bens materiais e imateriais que abriga, inclusive obras literárias de seu principal morador. Muita gente circulou por seus cômodos. A Rachel de Queiroz lançou o livro que a consagrou, "O Quinze", em seu interior. E posso citar o mais novo visitante, o poeta Bráulio Bessa, Sócio Honorário da Arcádia que leva o nome de Juvenal Galeno. A biblioteca ganha novos exemplares a cada dia, entre outras conquistas. Acontecem eventos diariamente, pois 27 entidades lítero-culturais funcionam na Rua General Sampaio 1128. Você está linda, casa do querido poeta. Verdíssima de esperanças. Seus familiares, o Estado do Ceará, e todos nós, escritores, cuidamos muito bem de você. Agradecemos o legado que nos deixa e, particularmente, fico muito honrada em ocupar a presidência da Academia de Letras que leva o nome de Juvenal Galeno.

Maria Linda Lemos Bezerra
Presidente da Academia de Letras Juvenal Galeno

 

Querida Casa centenária,

Passava eu em frente à sua porta quando dei de cara com a Dra. Henriqueta Galeno. Saía de mansinho para seu ofício diário. Ela, filha do Mestre Juvenal Galeno. Ao cumprimentá-la, interpelou-me: "O senhor conhece o interior desta casa?". Respondi que não. Convidou-me, então, a adentrar, logo explicando as finalidades daquele ambiente, destinado à amostragem de produções artísticas para todos. Fui vendo e ouvindo, estarrecido e curioso. Quanta maravilha aquele espaço expõe na representação artística do Ceará! Desde belos quadros até artesanatos históricos da vida de seu fundador. Há também funcionamento de atividades diversas, que beneficiam dezenas de interessados. Declaro aqui minha satisfação dessa convivência harmônica há décadas, pois sou testemunha dos benefícios que você, estimado lar, oferece às pessoas, sem distinção. Convido a toda sociedade e autoridades a zelarem por esse patrimônio e morada acolhedora. Parabéns à querida Casa!

Alvarus Moreno
Tenor lírico, recitalista, compositor, poeta, cordelista, professor e pesquisador

 

Amistosa Casa de Juvenal Galeno,

Hoje acordei destinada a fazer um relato sobre o meu afeto por você, prestimoso lar centenário. Pois bem, enquanto à luz do meu quarto repousava, imaginei a lua cheia, formosa e atraente, a flagrar os namorados! Recordei-me, carinhosamente, do meu querido pai, José Auto Cândido, que tanto a admirava. Adormeci e sonhei. Sonhei que estava voando nas asas da poesia, ouvindo o canto da passarada, quando me vi cantando, no seu palco aconchegante, de Casa de Juvenal, onde adentrei pela primeira vez em 1996, sob forte emoção, de mãos dadas com o tenor Alvarus Moreno. Agora, registro meu elo afetivo com a aniversariante, Patrimônio Histórico, que supera crises, quase ilesa galga conquistas, continuando firme, se doando, recebendo e transbordando no social. Quanto orgulho para nós, brasileiros, a criação abençoada do cearense, o Bardo Juvenal Galeno, conservada por sua ilustre família e por todos que dela usufruem. Parabéns à Casa Centenária e minha gratidão a Deus pela existência dela.

Auzeneide Cândido Cunha Fonseca
Cantora lírica, compositora, regente de corais e professora

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