Período natalino demanda atenção para o estímulo do consumo exagerado em crianças

Quando a noite de Natal se aproxima aumentam as expectativas dos presentes, principalmente entre as crianças. Psicóloga diz que o incentivo à imaginação é válido, mas o consumo exagerado pede cuidado

Escrito por Mylena Gadelha , mylena.gadelha@svm.com.br
Legenda: Para as crianças, a figura do Papai Noel é um contato com a fantasia, algo importante nessa fase da vida
Foto: Divulgação

A árvore de Natal rodeada de presentes é um dos símbolos dessa época do ano, assim como a figura tradicional, imponente e delicada do Papai Noel. São eles os responsáveis por "enfeitar" o imaginário dos pequenos e dar cor a uma magia natalina ainda capaz de fazer brilhar os olhos.

Se a troca de agrados, a reunião entre familiares e a espera pela figura do Bom Velhinho são situações tão aguardadas, também vale o questionamento: até onde as tradições natalinas podem levar ao consumismo para a vida das crianças?

A passagem da véspera para o dia 25 de dezembro é cercada de expectativas. Para o pequeno Arthur Elias, de apenas cinco anos, o ritual de escrever a cartinha e pedir o presente é sinônimo de crença.

Segundo a mãe do garotinho, Paula Kelly Araújo, todo o conto foi apresentado de forma natural, sem cobranças e visando sempre o espírito de felicidade. "Essa semana mesmo ele estava escrevendo os pedidos. É algo que eu ensinei também", conta. De acordo com ela, as conversas com o menino vão mais além."Procuro dizer muito a ele que o Natal não é só isso, não é só festa. Falo do nascimento do Menino Jesus, da alegria em homenageá-lo, de não se importar apenas com os bens materiais e, sim, com o amor, carinho", revela.

Essa atitude, inclusive, pode auxiliar no desenvolvimento da criança e no costume por hábitos fora do consumo desenfreado, algo visto como prejudicial por especialistas. A psicóloga clínica infantil, Ana Cecilia Prado, comenta que as figuras importantes para a imaginação devem estar presentes, quando administradas com cautela.

"É um período muito importante da infância. A fantasia faz parte disso e é um fator de sustento. Acaba sendo uma forma de a criança compreender a realidade ou até mesmo de transformá-la em algo mais agradável", diz ao explicar como a naturalidade, ao inserir essa história, é importante.

Consumo

Nos contornos de uma sociedade capitalista, a verdade é que a figura do Papai Noel, muitas vezes, é utilizada como um indutor das compras por parte dos pais. Paula Kelly não deixa de presentear o filho, mas busca estratégias para difundir valores como a generosidade e a preocupação com o próximo.

"É um costume nosso também fazer doações. Como o Arthur tem muitos brinquedos, desde pequenininho incentivo na questão de desapegar dos objetos. Então ele já internalizou isso, e sempre acaba me perguntando sobre o que pode doar ", comenta.

Nesse caminho de incorporar a ideia das boas ações nesse período, conversas simples e diretas são a melhor saída. "Fazer uma lista para saber o que a criança está realmente precisando, por exemplo, pode ser uma boa escolha. Outra opção bacana é fazê-la entender que já possui muitos brinquedos e que outra criança pode ficar muito feliz com esses objetos", explica a psicóloga.

Delicadeza

Ainda que os detalhes singelos sejam lindos e capazes de encantar até os adultos, o momento do questionamento e da incredulidade vai chega a partir do crescimento. De acordo com Ana Cecília, por volta dos oito anos é comum ver as crianças iniciando o processo de abandono dessas figuras consideradas "mágicas".

Nesta fase, "elas começam a questionar esses dados de realidade. É quando elas contrapõem a magia do Natal com a lógica sobre o trenó que voa, como o Papai Noel entra nas casas, esses detalhes. É um momento para ser conduzido com muito carinho pois configura uma quebra diante da descoberta", alerta.

Conduzi-los nessa vertente para fugir do consumo e aproveitar toda a energia natalina não é tarefa simples. "Ele vê os amiguinhos falando e as propagandas na televisão, mas eu ainda enxergo nele essa inocência. É todo um trabalho e eu tento mostrar que o Natal é muito mais", conta Paula Kelly. No fim das contas, alimentar a crença da criança, de forma singela, é uma forma de proximidade com o real espírito de fazer o bem.

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