Oscar 2019: 91ª edição abraça a diversidade de propostas fílmicas dos principais indicados

Panorama é favorável para "Roma", mas a Academia pode guardar algumas surpresas para a cerimônia de premiação que acontece no próximo domingo, dia 24 de fevereiro, em Los Angeles

Escrito por Diego Benevides* - Especial para o Verso ,
Legenda: Filme "Roma", de Alfonso Cuarón, desponta como um dos favoritos ao principal prêmio da Academia

Os oito filmes indicados à categoria principal do Oscar provam que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas segue na tentativa de se atualizar e fazer com que esse seja um momento de igual prestígio para artistas, realizadores, estúdios e distribuidores.

O resultado reconhece de vez o poder do streaming com a indicação "Roma", dá atenção a obras que dialogam com questões políticas e sociais, como "A Favorita", "Vice", "Green Book - O Guia" e "Infiltrado na Klan", e se rende aos filmes de grandes bilheterias, como "Pantera Negra", "Bohemian Rhapsody" e "Nasce uma Estrela".

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Em geral, não é um dos anos mais inspirados e talvez por isso se torne imprevisível. É inegável certo favoritismo de "Roma", dirigido pelo mexicano Alfonso Cuarón. A vitória consagraria a Netflix como distribuidora, ao mesmo tempo que deixaria um recado "amargo" de que a produção americana não foi tão boa assim.

A dúvida que fica é se os votantes dariam dois prêmios de melhor filme (geral e estrangeiro) para "Roma", como aconteceu no Bafta. É uma escolha arriscada, que pode ser contornada com a vitória de Cuarón na direção, enquanto na categoria principal outro concorrente pode ser escolhido.

"A Favorita", dirigido pelo grego Yorgos Lanthimos, deve competir pelos prêmios técnicos com "Roma". O diretor, que divide a opinião da crítica especializada com frequência, parece que fez seu filme mais conciliador até o momento, tendo na trinca de atrizes formada por Olivia Colman, Emma Stone e Rachel Weisz o magnetismo que o elenco de "Roma" ficou devendo.

A indicação de Lanthimos entre os diretores, ao lado de Cuarón e do polonês Pawel Pawlikowski, mostra o interesse da Academia em realizadores não-americanos. Completam os indicados Adam McKay, por "Vice", e Spike Lee, por "Infiltrado na Klan".

Vencedor do Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes do ano passado, "Infiltrado na Klan" fez uma temporada morna, ainda que tenha acumulado elogios da imprensa internacional. Das seis indicações ao Oscar, a principal vantagem está em roteiro adaptado, mas surpresas podem acontecer.

Lee assina a obra mais madura em estética e linguagem, além de estar alinhado com as discussões sobre representatividade étnica. O longa joga com o passado para falar sobre o racismo enraizado na cultura americana de hoje, permitindo-se também o flerte com a comédia.

Pode ser uma opção para a Academia por ser mais "neutro" e maduro, além de finalmente reconhecer a filmografia impecável de Lee.

Também nesse contexto de pensar os meios-termos, o crescimento de "Pantera Negra" foi notável nos últimos meses. Não é mais estranho pensar que um blockbuster de super-herói possa levar a melhor, até porque é uma obra que enaltece a cultura africana e seria um momento bonito para marcar a cerimônia.

O longa surpreendeu ao vencer o prêmio principal do Sindicato dos Atores, em janeiro, que não deixa de ser um indicativo para levar em conta no que pode acontecer no dia 24.

Pensar quem tem mais chances no Oscar é fazer esse exercício de olhar para os meios-termos, não exatamente para a unanimidade. Tanto que "Green Book - O Guia" por algum tempo foi o mais cogitado para o prêmio principal. É um filme correto, talvez inocente demais, que discute racismo sem grandes alardes.

Seria uma opção lógica, no entanto, a imagem do filme foi abalada após polêmicas antigas envolvendo o roteirista Nick Vallelonga em acusações de racismo e assédio.

Lanterninhas

Para "Nasce uma Estrela" sobra o favoritismo de "Shallow", interpretada por Lady Gaga, como melhor canção original. Gaga ainda tem alguma chance entre as atrizes, mas a disputa deve ficar mesmo entre Glenn Close, por "A Esposa", e Olivia Colman, por "A Favorita". Qualquer uma das duas está de bom tamanho, mas já passou da hora de coroar Close.

Por mais que tenha surpreendido ao vencer a categoria de melhor filme dramático do Globo de Ouro, "Bohemian Rhapsody" parece ser a opção menos provável para a Academia.

Das cinco indicações recebidas, Rami Malek tem vantagem entre os atores e deve travar uma grande batalha com Christian Bale, por "Vice", de Adam McKay, que faz um estudo político que o Oscar adora reconhecer, mas que também enfrentou uma trajetória morna.

As transformações enfrentadas pela Academia nos últimos anos, que finalmente entendeu a importância da representatividade a partir de movimentos como o #OscarsSoWhite, sobre a falta de indicados negros, e o #TimesUp, sobre as denúncias de assédio na indústria cinematográfica, buscam uma maior integração entre as minorias.

Em junho do ano passado, 928 novos membros foram convidados, totalizando cerca de 9 mil filiações de acordo com informações da Variety. Com isso, melhor do que apostar em quem vai realmente vencer é entender quais caminhos a Academia pretende abrir para a indústria nesse momento. Mas uma vitória do filme "Infiltrado na Klan" não seria nada mau!

*Jornalista, crítico de cinema, curador e pesquisador audiovisual. Presidente da Associação Cearense de Críticos de Cinema (ACECCINE) e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE).

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