Um dos álbuns mais influentes do rock completa 30 anos de lançamento

"Doolittle", do Pixies, foi inspiração para o surgimento de bandas icônicas como o Nirvana e o Radiohead

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@diariodonordeste.com.br
Legenda: Joey Santiago, Kim Deal, Black Francis e David Lovering formavam o quarteto da fase clássica do Pixies

Há 30 anos, sem Internet, eram escassas as chances de um ouvinte acompanhar o lançamento de um disco, sem que as grandes gravadoras facilitassem sua distribuição nas lojas físicas. No cenário musical brasileiro, muita coisa aconteceu até que o público, críticos e demais apreciadores do rock reconhecessem "Doolittle", do Pixies (EUA), como um dos álbuns mais influentes da história da música. 

Lançada dia 17 de abril de 1989, a sequência de 15 faixas, gravadas por Black Francis (vocal, guitarra e violão), Kim Deal (baixo, vocal e violão), Joey Santiago (guitarras) e David Lovering (bateria), nunca foi um grande sucesso comercial, mas se tornou um pilar para a criação de emblemas como o Nirvana e o Radiohead - duas dentre as grandes bandas de rock da história do gênero. 

Boa parte do que se convencionou chamar de "rock alternativo", a partir da década de 1990, bebeu das fontes do DNA do quarteto de Boston (EUA). Além de ser um ítem fundamental da discografia básica do rock, "Doolittle" entregou para o cenário da música pop os hits "Debaser" e "Here comes your man", composições reconhecíveis, até hoje, por quaisquer ouvintes que sequer tenham escutado falar do Pixies. 

Kurt Cobain (1967-1994), do Nirvana, fez um comentário clássico sobre os Pixies. Ao descrever a dinâmica alternada entre peso e suavidade do mega hit "Smells like teen spirit" (1991), o líder do trio de Seattle (EUA) admitiu que só estava tentando soar como Pixies. 

Apelo

A influência ecoa pelo mundo até hoje e, em Fortaleza, encontrou reflexos sobretudo na geração de músicos que hoje atravessa a faixa etária de 35 a 50 anos. Para Régis Damasceno (47), guitarrista da banda cearense Cidadão Instigado, a sonoridade do Pixies integra uma das combinações mais interessantes entre o apelo pop e a estranheza.

Legenda: Régis Damasceno foi integrante do Velouria, extinta banda de Fortaleza inspirada no Pixies
Foto: Foto: Georgia Branco

Régis fez parte, na década de 1990, da banda fortalezense Velouria (o nome é inspirado em uma música do Pixies, lançada no álbum posterior a "Doolittle", intitulado "Bossanova"). "Fui conhecer o Doolittle em 90. Quem me apresentou o disco foi o Júnior, que acabou sendo o baterista do Velouria. Lembro que passei a ouvir muito. Fiquei meio que viciado no disco. Tem muita coisa boa e inusitada", atesta o músico.  

O guitarrista recorda que, nesse tempo, bandas como o Pixies eram chamadas de "guitar bands", e os rótulos "rock alternativo" ou "indie rock" ainda não tinham força. De cabeça, ele destaca faixas como "Debaser, "Wave of Mutilation" e "Monkey Gone to Heaven", sem distinção dentre "as mais pops, quanto as mais estranhas. É um disco muito bom e importante", reforça.  
 
Essência

Régis chama atenção para a estética do Pixies, centrada no apelo da sonoridade, sem integrar uma identidade visual ou outro recurso que se sobresaísse além da música. Lembra que o próprio Nirvana e a cena grunge, de onde surgiu o trio de Seattle, traziam mais apelos para alcançar o sucesso comercial.

E os Pixies não tinham nada disso, não tinham bem uma roupa. Só uma música estranha e composições muito bem feitas. Fui gostar do Pixies porque já ouvia Talking Heads há algum tempo. E percebi que o Pixies fazia algo tão cerebral e consciente, gosto disso. Como hoje em dia, gosto do Dirty Projectors", analisa Régis, ampliando as referências.

Para o guitarrista cearense, o legado do Pixies passa pela ousadia de levar uma atitude mais desafiadora para a música pop. O quarteto teve sua fase "áurea" de 1986 até 93, separou-se, e depois voltou a se reunir em 2004. 

"Escuto até hoje os discos da primeira fase, acho inspirador sempre. Ouvi o último disco deles ("Head Carrier", 2016), mas não achei muito legal não. Sempre que está passando na TV algum show deles, eu paro e vejo. Adoro as músicas, como eles tocam, e toda a carreira deles", sintetiza Régis Damasceno.

Legenda: A banda e sua formação atual: Paz Lenchantin é a terceira baixista do Pixies

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