Um bloco para cada um: conheça os perfis de alguns grupos carnavalescos

Fortaleza traz várias opções gratuitas de para os brincantes do pré-Carnaval de diversos estilos e idades

Escrito por Redação ,
Legenda: A preparação para o pré-Carnaval já começa desde a escolha da fantasia ao bloco que vai seguir
Foto: Camila Lima

A movimentação do pré-Carnaval em Fortaleza tem crescido ano após ano. Motivados pelo resgate dessa tradição popular, produtores culturais e artistas da cidade se reúnem para proporcionar ao público folião festas para os mais diversos estilos. 

Neste ano, 56 blocos foram contemplados com o apoio financeiro da Prefeitura de Fortaleza por meio da Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor). Desse número, oito são estreantes do edital. 

O Verso selecionou alguns dos blocos de rua de Fortaleza para você conhecer. Tem para as crianças, para quem gosta da música popular brasileira, para quem quer brincar com liberdade e também para quem quer acompanhar o desfile ao som dos sambas-enredos na Avenida.

Entre eles, está A Turma do Mamão, um dos mais antigos da cidade. Desde 1975, o grupo sai em cortejo nas ruas do bairro Moura Brasil tocando músicas tradicionais de samba. 

Há também o Pra Quem Gosta é Bom, criado em 2018 por amigos foliões. Ritmados pelo som da MPB, os brincantes se concentram na Praça Waldemar Falcão, localizada no Centro da cidade. 

Luxo da Aldeia

Legenda: O Luxo da Aldeia se apresenta nas sextas-feiras, na Praça do Ferreira
Foto: Thiago Gadelha

O bloco surgiu depois de uma proposta feita pelo pai de Matheus e Bruno Perdigão, Marcus Vinicius de Oliveira, que já fazia parte do Concentra Mas Não Sai. Os irmãos ao lado de amigos criaram o Luxo da Aldeia. A primeira apresentação aconteceu em 2007. O repertório é formado por músicas de cearenses e também pelas autorais que embalam os brincantes na Praça do Ferreira. Atualmente, os shows da banda acontecem nas sextas-feiras que antecedem o Carnaval. O Luxo da Aldeia foi um dos blocos contemplados com o apoio financeiro da Prefeitura de Fortaleza neste ano. A organização se dá principalmente com a escolha do repertório, com ensaios no estúdio, além da escolha do tema, que é “Um grito de carnaval, é um grito de liberdade”. Para Matheus, realizar essas iniciativas é democratizar cada vez mais o lazer e incentivar a ocupação de espaços públicos. 

Chão da Praça

Legenda: O Chão da Praça, d'Os Transacionais, movimenta o público na Praça Verde
Foto: Luiz Alves

Sob o comando d’Os Transacionais, o bloco gratuito movimenta a Praça Verde do Dragão do Mar nas quintas-feiras que antecedem o Carnaval há oito anos. No entanto, a relação da banda com o período carnavalesco vem desde antes. “A gente já tinha meio que flertado com esse estilo”, conta Jolson Ximenes, baixista do grupo. Com repertório intitulado como Retrô Brasileiro, músicas do Carnaval de praia do Ceará e dos tradicionais clubes entram no setlist, além do frevo e das origens do axé. Composições dos cearenses Ednardo e Fausto Nilo também embalam as festas. A proposta é de fazer o público ‘virar os olhos’ para a tradição. Para 2020, o mote do Chão da Praça é a “Arte e as Minorias”. “A questão do desenvolvimento LGBT, do movimento negro, das religiões afro e da questão da arte como um todo, por sentir que nesse momento, politicamente, todas essas minorias e a arte vem sofrendo tensão. Nos sentimos na obrigação como artista de fincar essa bandeira e levá-la adiante”, explica Jolson. 

Bloco Pra Quem Gosta é Bom

Legenda: O repertório do bloco Pra Quem Gosta é Bom é composto por músicas da MPB
Foto: Analice Diniz

O grupo surgiu a partir da união de foliões que tinham a vontade de ter um bloco que fosse de dia e na rua, com acesso democrático, e com um repertório diferenciado, em 2018. “A ideia era fazer uma nova opção de bloco na cidade e que surgissem outros para que as pessoas pudessem escolher para onde querem ir. A gente queria ocupar os espaços públicos da cidade. Fazer uma festa de todos”, explica Marcos Romano, integrante e organizador. Sem um dia fixo de apresentação, a proposta do Pra Quem Gosta é Bom é de se apresentar pelo menos dois dias na Praça Waldemar Falcão, no Centro da cidade. No repertório, hits consagrados da MPB que vão desde os clássicos de Caetano Veloso, Moraes Moreira e Marina Lima, além de novos nomes a exemplo de Céu, Johnny Hooker, Lorena Nunes, Saulo Duarte, Curumim. O tema do bloco deste ano é inspirado na música ‘Bola de Cristal’, do Baiana System. O trecho “Você tem poder para mudar o mundo” estampa o abadá. 

Bloco das Travestidas

Legenda: O Bloco das Travestidas reúne o público no Largo dos Tremembés
Foto: Mário Sabino

De uma vontade do ator cearense Silvero Pereira nasceu o bloco. Com raízes consolidadas no teatro, o artista tinha vontade de fazer As Travestidas conversarem com outras linguagens com a própria trupe carnavalesca, além de ser mais representativo em termos de diversidade. Em 2017, o sonho se tornou realidade e teve até trio elétrico que agitou a Avenida Beira Mar. Apesar de a ideia ter partido de Silvero, ele não pôde estar presente na estreia, já que ainda estava no período de gravações da novela ‘A Força do Querer’, da TV Globo, conforme lembra Renata Monte, uma das organizadoras. Hoje, com o apoio da Prefeitura de Fortaleza, o bloco reúne uma média de seis mil pessoas por show no Largo dos Tremembés. Com o tema “A Cor dessa Cidade”, o repertório deste ano foi dividido em trechos: Forrozão das Antigas, Axé Poc, Criança Viada (com músicas dos anos 1990, como do grupo É o Tchan) e Axé do Axé (com músicas que remetem a religiões de matriz africana). 

A Turma do Mamão

Legenda: A Turma do Mamão desfila na Avenida Domingos Olímpio
Foto: Kid Junior

Da reunião de quatro amigos percussionistas lá em 1975, surgiu o bloco A Turma do Mamão, no bairro Jacarecanga. Naquele ano, decidiram sair batucando pelas ruas do bairro e atraíram cada vez mais público e adeptos. A partir de 2008, conseguiram apoio da Prefeitura de Fortaleza por meio de edital e começaram a se organizar localmente com a produção de abadás e com a compra de mais instrumentos. Desde 2011o grupo carnavalesco desfila na Avenida Domingos Olímpio e, em 2015, foi campeão. Para esta edição, a Turma traz como temática a música e a história de Beth Carvalho, a madrinha do samba. De acordo com Raimundo Nonato, fundador e organizador do bloco, o perfil do público que frequenta é bem diverso, mas é composto também por uma ‘velha-guarda’. “A gente, a cada ano, busca se adaptar e colocar músicas que atendam aos mais jovens também”. O repertório é formado por muito samba-enredo, axé da Bahia, além de músicas de consagrados cantores brasileiros, como Tim Maia. 

Os Filhos de Fafá 

Legenda: O bloco Os Filhos de Fafá reúne moradores do Bairro Ellery
Foto: Daniele da Silva Teixeira

Há cinco anos, o Instituto Construir realiza o bloco no Bairro Ellery como uma forma de resgatar as velhas marchinhas carnavalescas para o público infantil. Com a organização de Fátima Rodrigues, Os Filhos de Fafá saem aos sábados em cortejo pelas ruas do local e é formado por crianças carentes ou em vulnerabilidade social. Além de proporcionar lazer para os moradores do bairro, o bloco também realiza sorteio de cestas básicas e de bolsas de estudos. Na edição deste ano, 24 crianças irão usar fantasias feitas a partir de material reciclado e vão concorrer pela melhor vestimenta. A trupe também apresenta elementos clássicos da época mais foliã do ano, como o estandarte, a Rainha do Carnaval e o Rei Momo. O repertório é formado pelas marchinhas, por músicas da banda Chiclete com Banana e tem axé também.

Sivozinha Folia 

Legenda: O Sivozinha Folia proporciona lazer para as crianças na Casa José de Alencar
Foto: Denis Almada

Com atividades voltadas para a criançada, o bloco surgiu a partir da iniciativa de levar diversão cultural para as famílias. “A gente quer resgatar para a infância o Carnaval de forma lúdica”, conta Keynne Sampaio. A primeira edição aconteceu em 2012, no Lago Jacarey e desde 2014 é realizada na Casa José de Alencar. Apesar de ter entrada gratuita, o Sivozinha Folia pede que os foliões levem leite em pó para doação, que será destinado a instituições carentes. Desde 2016, o bloco é contemplado com apoio da Prefeitura de Fortaleza, o que o torna possível de ser realizado. O tema deste ano é a sustentabilidade, que será abordado pelos personagens da Ecoturminha. O repertório do Sivozinha Folia é composto tanto pelas clássicas marchinhas de Carnaval quanto por músicas infantis, as quais são interpretadas por bandas que já trabalham com esse público, diferente a cada domingo. 

Hospício Cultural

Legenda: O bloco Hospício Cultural surgiu em 2017
Foto: Rômulo Santos

O bloco nasceu a partir do fim do Sanatório Geral, em 2017, por um grupo de amigos formado por artistas e produtores culturais, coma proposta de levar ao Benfica a mistura da cultura com arte, música, política e outras pautas. “A gente começou de maneira muito simples, na Praça da Gentilândia e dentro de alguns bares do bairro que abriram as portas para a gente realizar”, lembra Silvinha Cavalleire, parte da organização do Hospício Cultural. Apesar de ter um público misto, o bloco agrega bastante os moradores do Benfica e arredores e a comunidade universitária. Silvinha acredita que isso se deve por conta das temáticas que o Hospício aborda, com posicionamentos políticos. Além disso, o repertório é outro atrativo e é formado por músicas já consagradas no Carnaval brasileiro, como o axé, o forró e outros estilos. A cada ano o grupo lança um hino e o de 2020 fala sobre o momento político em que o País se encontra. 

Bloco Cola Velcro 

Legenda: O Bloco Cola Velcro levanta a bandeira da diversidade
Foto: Fernanda Siebra

Formado por mulheres lésbicas e bissexuais, o bloco surgiu em 2017 por batuqueiras independentes de Fortaleza. A proposta era de criar um espaço de liberdade de expressão, de festividades, mas também de luta, de resistência e de representatividade. Concentradas no bairro Benfica, são realizados três desfiles e um baile nos sábados que antecedem o Carnaval. Em busca dessa representatividade, as pessoas que sobem ao palco para entoar as músicas são mulheres negras, lésbicas e bissexuais. “A gente também toma bastante cuidado com as músicas que são tocadas pra poder ter essa linha de luta e resistência”, conta Quel Santos, uma das organizadoras. O repertório é diversificado e traz samba reggae, sambo afro, maracatu, frevo e até funk. Além do tradicional batuque, há também apresentações de DJ’s, com música pop e mais. 

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