Trechos da biografia de Fagner destacam conflito com Belchior 

Além da emblemática parceria de “Mucuripe”, o livro traz histórias de brigas e desconfiança envolvendo a dupla

Escrito por Redação ,
Legenda: Do Bar do Anísio, em Fortaleza, à residência em Copacabana, no RJ, a convivência dos artistas oscilou entre a criatividade e o conflito

A relação entre Raimundo Fagner e Belchior, autores de composição do clássico “Mucuripe”, oscilou entre a parceria criativa e o conflito no início da carreira de ambos. Um pouco mais velho (havia uma diferença de três anos de idade entre eles), o poeta sobralense (1946-2017) é citado na biografia “Raimundo Fagner: quem me levará sou eu”, recém-lançada pela Editora Agir, como uma figura de relevância na carreira de Fagner, ao mesmo tempo que o convívio da dupla, segundo a obra, não foi fácil.  

Em trechos da obra, a narrativa, assinada pela jornalista Regina Echeverria (SP), situa como Fagner e Belchior ganharam o respeito da Turma do Bar do Anísio (Praia de Iracema), após a composição de “Mucuripe”; e menciona as dificuldades da convivência deles no Rio de Janeiro, nos anos de 1970.   

A biografia ainda revela a briga em que os artistas chegaram às vias de fato, disputando um casaco. No entanto, a editora do livro não liberou este trecho para citação da imprensa, sob alegação de que se trata de uma das passagens mais surpreendentes para os leitores da obra. 

Fagner confirmou nesta terça (16), durante o lançamento da obra em Fortaleza, que ele e Belchior “brigaram mesmo de porrada” e o artista enfatiza que o sobralense foi “a pessoa que mais fez bullying comigo”.  

Confira trechos do livro, sobre o assunto

Do capítulo 4

No Bar do Anísio, Fagner também conheceu Belchior. Éramos o segundo time, o plano B, mais jovens do que os outros que não nos davam a menor trela. Belchior se levanta da mesa e fala: “Magro.” Era como ele me chamava. “Olha essa letra aqui.” Era “Mucuripe”. Fagner a levou para casa e, no dia seguinte, uma surpresa: chegou com a música pronta. Todo mundo gostou. Ficaram espantados. A partir desse episódio passaram a vê-lo com outros olhos. Quando cantou “As curvas da estrada de Santos” na televisão, declarou no ar que ainda seria o artista mais famoso do Ceará. Suas palavras começavam a incomodar. Certa vez, abordou um fotógrafo que cobria os programas da TV Ceará e que só apontava sua câmera para artistas vindos de fora: “Ei, fulano, bate uma foto minha porque ainda serei famoso.” 

Do capítulo 7

Em 28 de outubro fala aos pais de sua satisfação com o disco que havia gravado com Cirino num grande estúdio de São Paulo. Todos acreditavam que o trabalho ia estourar. Já estavam sendo procurados pela imprensa e tinham feito duas reportagens nas revistas Intervalo e Destino. O disco sairia dia 15 de novembro e provavelmente no dia 20 já estaria à disposição em Fortaleza. No sábado tenho um encontro com o Marcos Lázaro, pois ele provavelmente será o nosso empresário. Estou gostando muito da gravadora. Assinei com a RGE Fermata e sou amigo de muitos artistas famosos como Vinicius de Moraes, Juca Chaves etc. Se por um lado as coisas não podiam estar melhores, por outro nem todo mundo parecia feliz com o sucesso de Fagner. Ele conta, em carta de 12 de novembro, sua estranheza diante do comportamento do conterrâneo Belchior. Ele anda meio espantado com as novidades, pois não esperava que tudo fosse acontecer tão forte e tão depressa. Anda meio encabulado comigo, sente-se meio por baixo. Andou fazendo uns troços meio chatos. Os convites que chegam são muito mais para mim. Ele anda com a cara no chão. Eu tenho é muita pena dele, das imbecilidades que faz 

Assuntos Relacionados