Professor de sanfona Pedrinho Feitosa partilha saber com crianças e adolescentes

Aos 12 anos, Pedrinho Feitosa teve o seu primeiro encontro com a sanfona. Na casa da família onde foi morar, na cidade de Tauá, teve oportunidade de estudar e também de aprender a tocar o instrumento. Hoje, aos 33, é professor de acordeon em Fortaleza e no interior do Estado. Dessa paixão, nasceu o I Encontro de Orquestras de Sanfonas, que acontece nesta sexta-feira (7)

Escrito por Ana Beatriz Farias , beatriz.farias@tvdiario.tv.br
Legenda: Na escola de Aplicação Yolanda Queiroz da Unifor, crianças e adolescentes aprendem a tocar sanfona com o professor Pedrinho
Foto: Natinho Rodrigues

Um sonho de criança, quando realizado, abriga potência infinita. Um dia, Pedrinho, como é carinhosamente chamado, imaginou uma vida melhor, em que teria acesso a estudos e à cultura. Natural do distrito de Cococi, na cidade de Parambu, no Sertão de Inhamuns, o garoto, à época com doze anos, viu a oportunidade de perto e não temeu abraçá-la. 

Na pacata comunidade onde morava, certo dia, ao avistar um homem que cospassar pelo local, o menino o indagou sobre a possibilidade de acompanhá-lo até Tauá para ter acesso aos estudos. Honório Feitosa, fazendeiro da região, foi receptivo, mas disse que precisava da aprovação da esposa.

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O “sim”, conquistado com a cara e a coragem, levou a criança para a cidade, deixando para trás os pais e os irmãos. Ao chegar na casa de Honório, uma surpresa trouxe ao seu coração o sabor da escolha certa: “vi duas sanfonas em cima do sofá. Aquilo me causou espanto porque, apesar de ser louco por música, nunca tinha visto aquele instrumento tão de perto”, conta Pedro Feitosa. 

Legenda: Natural do Sertão dos Inhamuns, Pedrinho Feitosa dá aulas de acordeon para crianças e adolescentes
Foto: Natinho Rodrigues

Com o tempo, a estadia na casa nova revelou muito mais que os acordeons soltos sobre o sofá. Leolina, esposa de Honório, era professora de música e foi quem ensinou Pedrinho a tocar. “Eu fiquei com uma bagagem musical muito boa, muito mesmo. E o melhor de tudo, eles me receberam como filho, me colocaram para estudar e me deram todo suporte necessário”.

O aprendizado foi tão bem repassado que nasceu no garoto a vontade de levá-lo adiante, não só como sanfoneiro profissional, mas como educador. “Eu comecei a dar aulas na casa do seu Honório, como a Leolina fazia. Em 2006, abriu uma escola municipal de música em Tauá, e eu passei a trabalhar nela, fiz faculdade de música e fiquei dez anos lá”, explica.

Assinatura afetiva
Em 2014, a cidade de Tauá recebeu a visita do chanceler Airton Queiroz e, na ocasião, os alunos da então Escola de Música Leolina Feitosa fizeram uma apresentação. A partir daí, se deu a conexão do professor Pedro com a Universidade de Fortaleza. Hoje, ele leciona na Escola de Aplicação Yolanda Queiroz, em Fortaleza e nas duas sedes da Escola de Música Feitosa, fundada em 2018 e batizada assim em homenagem ao casal que lhe apresentou os horizontes da arte sanfônica.

O garoto de Cococi, que nasceu apaixonado por música e que fazia suas próprias sanfonas com papelão, se surpreende com a empolgação dos pequenos diante de um instrumento tão complexo: “a gente não imagina que as crianças vão despertar interesse por um instrumento que não é fácil, é pesado… Mas, por incrível que pareça, a partir do primeiro contato, eles criam um amor tão grande, que tocam com alegria”. 

Raiz cultural
Além de proporcionar, através de suas aulas, a crianças da capital e do interior o acesso à técnica musical, Pedrinho também comemora por poder apresentá-las a uma vertente da cultura que dificilmente compõe o cotidiano delas. “O repertório que a gente trabalha em sala de aula é composto por canções que eles não estão habituados a escutar no dia a dia, bem como Luiz Gonzaga e Dominguinhos, que fazem parte da nossa cultura, e eles passam a gostar. É o poder que a música tem de transformar a vida dessas crianças”, compara.

Com brilho nos olhos e sorriso aberto, o professor conta que já descobriu muitos talentos. “Hoje, temos vários ex-alunos que vivem da música, que também já estão ensinando. Um dia, quando eu estiver lá, bem velhinho, quero ver os alunos que passaram por mim dando continuidade a esse trabalho”. E, para que se perpetue o amor que tem pelo acordeon, ele faz o que pode, inclusive dentro de casa: “eu tenho um filho de três aninhos e todo dia ele me pede pra assistir aos vídeos do Luiz Gonzaga, canta Asa Branca inteira. É uma coisa maravilhosa, emocionante”.

Realidade bela
A cada fala mais afetiva, no toque dos brancos e pretos do teclado e no estica e puxa do fole de sanfona, em toda parte do professor Pedro Feitosa está o Pedrinho, garoto cheio de vontade de aproveitar as oportunidades que a vida traz e de fazer delas música. Os voos têm sido altos, mas não o suficiente para tirar os pés do chão do sanfoneiro, que lembra com clareza do quanto almejou estar nos lugares que hoje ocupa. “Nunca na minha vida eu imaginei chegar aonde eu estou. Semanalmente, eu saio de Tauá, percorro mais de 300km, mas é um trabalho prazeroso, que abriu muitas portas para mim e que eu faço com muito amor”.
 

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