Nomes do teatro e da cultura cearense destacam legado de Haroldo Serra

Criador da Comédia Cearense, o teatrólogo faleceu neste domingo (16), em decorrência de uma parada cardíaca

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@diariodonordeste.com.br
Legenda: Com mais de 80 anos, Haroldo Serra ainda atuava nos palcos, pela Comédia Cearense
Foto: Reprodução/Facebook

A amplitude do que Haroldo Serra fez pelo teatro credencia o legado do artista como um dos mais relevantes para a cultura feita no Ceará. Haroldo faleceu na manhã de hoje, em decorrência de uma parada cardíaca. Ele estava internado no Hospital São Mateus (Papicu), desde maio passado. O velório acontece no Parque da Paz neste domingo (16), às 10h. A missa de corpo presente será às 15h, e o sepultamento, às 15h30.    

Para o jornalista e pesquisador teatral Magela Lima, "Seu Haroldo" era, sobretudo, um "fazedor" do teatro. "A quantidade de gente que ele articulou ao longo da vida. Seu Haroldo era uma figura muito doce, gentil, cordial. Produzia espetáculos numa época que nem se usava essa expressão. Ele era um produtor, um articulador de ideias, formador de novos artistas", destaca Magela.  O jornalista, que também é ex-secretário de cultura de Fortaleza, observa como Haroldo Serra ainda era aberto à imprensa e dialogava bem com o poder público do Estado. 

"O Haroldo faz parte não só da história da dramarturgia cearense, mas da dramaturgia brasileira. Em toda a sua trajetória, como ator, dramaturgo, diretor, com todas as gerações (de atores) que ele formou, no Theatro José de Alencar (TJA), do qual ele foi diretor, tudo está muito entrelaçado com a história do teatro no Ceará", refletiu Fabiano Piúba, titular da Secretaria da Cultura do Estado (Secult/CE).

Para Gilvan Paiva, titular da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor), "é com muita tristeza que nós recebemos essa notícia. O Haroldo representa mais que um diretor de teatro, ele era um ícone do teatro cearense. Uma referência para todas as gerações da cultura do Estado. E simbolizou uma persistência de investimento no teatro e nos artistas cearenses. Era um construtor da nossa identidade". 

O diretor teatral Adherbal Freire Filho saudou a trajetória do dramaturgo em mensagem direcionada a familia Serra. "Haroldo foi um mestre, um companheiro e um amigo. Participei dos primeiros anos e dos primeiros espetáculos da Comédia Cearense e desde sempre sua paixão pelo teatro me inspirou. Haroldo era um verdadeiro homem de teatro, é como se os primeiros versos de 'Liberdade, Liberdade' tivessem sido escritos para falar dele, "sempre fui e sempre serei um homem de teatro'", escreveu em nota divulgada nas redes sociais do grupo teatral fundado em 1957. 

Discípulos

Com apenas 10 anos de idade, Larissa Góes (24) entrou no curso de teatro da Casa da Comédia Cearense, no bairro do Rodolfo Teófilo. A formação durava seis meses, mas ela ficou quase 10 anos ligada ao grupo de Haroldo Serra. De início, foi aluna da turma infantil de Hiroldo Serra. E na sequência, teve a direção de Haroldo em peças como "O Casamento da Peraldiana" e os infantis "Cinderela" e "O Mágico de Oz". As montagens, lembra ela, permaneciam em cartaz durante dois meses no Teatro Arena Aldeota (Colégio Christus). 

Legenda: Larissa cursou teatro na Comédia Cearense; hoje, ela já fez novela global e segue carreira de atriz
Foto: Reprodução/TV Globo

Larissa só se desligou da Casa da Comédia Cearense depois que mudou-se para o Rio de Janeiro, a fim de integrar o elenco da novela global "Velho Chico", criada por Benedito Ruy Barbosa e Edmara Barbosa em 2016.

"Quando acordei hoje com a notícia, me veio a memória de todo seu legado, e a história de uma pessoa extremamente importante pra minha construção artística. Venho de uma família que não tinha condições de bancar uma escola de teatro. E a Casa da Comédia Cearense me incentivou a fazer arte", recapitula a atriz. 

Permanência

Segundo Magela Lima, a imagem que permanece, após 62 anos de atuação de Haroldo Serra à frente da Comédia Cearense, é a de uma pessoa "obcecada" pelo teatro no "melhor sentido". "Mais que o talento, o que fica é o esforço dele de manter uma produção continuada no Ceará", sintetizou o jornalista. Ao lado de B. de Paiva, anota Magela, Haroldo era um dos poucos remanescentes da geração que começou a experimentar o teatro moderno no Ceará. 

Fabiano Piúba enfatiza como Haroldo Serra preparou o terreno para que um de seus herdeiros, Hiroldo Serra, desse continuidade à construção da obra artística da Comédia Cearense. "É uma perda muito grande, com mais de 80 anos ele ainda atuava. A Comédia Cearense também é uma escola de arte dramática. Haroldo foi inspirador, não só pro teatro, mas pra cultura e pra política cultural", atesta o titular da Secult. 

Artistas e gestores ligados ao teatro cearense se manifestaram pelas redes sociais:

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