Jornalista destaca 5 fases marcantes do axé 90 

Pesquisador do cenário da música da Bahia, Luciano Matos recapitula como o gênero cresceu a partir do movimento das comunidades soteropolitanas até ganhar espaço na indústria dos trios elétricos e grandes shows 

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@svm.com.br
Legenda: Daniela Mercury lançou "O Canto da Cidade" em 92 e levou a axé music de Salvador ao sucesso em todo o País
Foto: Foto: Martin Gutierrez

Às vésperas dos quatro dias de Carnaval, a programação dos blocos pré-carnavalescos já dá conta de sintonizar o público na frequência dos repertórios festivos. Um dos gêneros musicais mais lembrados pelos artistas e foliões, nesse sentido, é o axé music - que tomou conta das rádios e das TVs nos anos de 1990, quando a Internet sequer existia (na primeira metade daquela década) ou ainda tinha pouca força.  

Pesquisador do cenário da música da Bahia, o jornalista soteropolitano Luciano Matos destacou, em entrevista ao Verso, 5 fases marcantes do axé 90.  

 

1) Daniela Mercury e a consolidação 
“A axé music tem uma história até os anos de 1980. Os artistas que faziam sucesso eram negros ou de comunidades, vindo de classes mais baixas. Nesse sentido, você pode falar do Luiz Caldas, da Bamdamel, da Sarajane, quando o gênero ainda tinha um perfil mais regional até. Daniela Mercury surge com “O Canto da Cidade” (o álbum e o hit), em 1992, e dá uma virada nisso. A axé music ganha ares de música pop. Daniela trazia e ainda traz essa coisa ligada aos blocos afros, principalmente ao Ilê Aiyê, ao samba-reggae" 

2) Bamdamel 
“A Bamdamel também tem um marco importante nos anos 90. Eles já faziam sucesso em Salvador desde o final da década de 80, com Faraó (1987), várias músicas. Em 90, lançaram ‘Prefixo de Verão’, e essa música aponta para o sucesso nacional ainda antes de Daniela. O gênero até então trazia discursos sociais, falava sobre o racismo, o Pelourinho, de uma realidade local. ‘Prefixo’ e ‘Baianidade Nagô’ criaram outro marco pro axé”  

Legenda: Bamdamel

3) Timbalada e o auge criativo 
“Com a coisa da indústria, a axé music seguiu fórmulas e lógicas mercadológicas. Mas surgiu Carlinhos Brown e a Timbalada que, pra mim, são o melhor da Bahia nos anos 90. Revalorizam a tradição da percussão na música baiana. E chegaram com vários hits. Dá pra falar dos dois primeiros discos especialmente, o “Timbalada” (1993) e o “Cada Cabeça é um Mundo” (1994). Fugia do que a axé music tava se tornando, perdida das referências das comunidades. Tinha um apelo pop e das ruas” 

4) É o Tchan e o pagode baiano 
“O É o Tchan é um marco também desse período. Mas pra gente, de Salvador, é muito diferente o que é axé dos anos 90 e o pagode baiano. A indústria dominou e faz aproximar tudo isso. O pagode vem do samba de roda, quando o grupo ainda se chamava ‘Gera Samba’ e tinha umas brincadeiras de rua, das rodas. Mas o É o Tchan fez um sucesso absurdo, abusando da imagem do corpo feminino, com conteúdos mais superficiais mesmo nas letras”  

Legenda: É o Tchan nos anos 90
Foto: Foto: Adriana Pittigliani

5) Ivete Sangalo e a crise criativa 
“Quando Ivete Sangalo e Cláudia Leite fazem sucesso, elas deram um respiro para a indústria do axé. A música baiana vinha de uma queda criativa depois do É o Tchan, as pessoas já procuravam novidades e Ivete (depois de uma passagem de sucesso pela Banda Eva) surge com “A Festa”. Eu não curto. Ela é uma grande cantora, se cercou de gente muito boa, mas mesmo assim não conseguiu fazer discos marcantes, como Daniela, Timbalada, Olodum e a Bamdamel conseguiram”.

Legenda: Ivete Sangalo
Foto: Foto: Marcos Hermes

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