Hits e a faixa-título de “Da Lama ao Caos” marcam os shows da Nação Zumbi até hoje

Um olhar crítico sobre o disco, lançado há 25 anos, reforça que os pernambucanos concentraram um repertório diferenciado na primeira metade do álbum 

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@diariodonordeste.com.br
Legenda: Em 1994, Chico Science & Nação Zumbi fizeram um dos primeiros shows da programação da Barraca Biruta, na Praia do Futuro
Foto: Reprodução/Arquivo Biruta

A primeira metade de “Da Lama ao Caos”, sobretudo, traz a formação pernambucana em um de seus momentos de ápice criativo. A introdução com “Monólogo ao Pé do Ouvido” eternizou a frase “Modernizar o passado é uma evolução musical”, filosofia do movimento mangue beat e que se tornou uma das citações emblemáticas de Chico Science.  

A ótima “Banditismo por uma questão de classe” aparece na sequência e, talvez pela ausência de um refrão mais fácil, não caiu no gosto do público do mangue beat em geral, com exceção dos fãs de Chico Science & Nação Zumbi.  

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Parceria com Fred 04 (Mundo Livre S/A), “Rios, Pontes & Overdrives” é uma das faixas mais potentes da Nação Zumbi, e reúne a guitarra extremamente suingada de Lúcio Maia, a cadência do baixo de Dengue, toda a pressão dos tambores e a voz de Chico evocando imagens do mangue.  

Legenda: Capa do disco teve a arte assinada pelos artistas Hilton Lacerda e Helder Aragão (o DJ Dolores), em cima da foto de um caranguejo, clicado por Fred Jordão

O hit “A Cidade” foi, para muita gente, o primeiro cartão de visitas sobre a existência de Chico Science. A letra traz uma crônica das mais pertinentes sobre o que é viver em uma grande cidade litorânea, além de uma levada pop que transformou a música em clássico do rock nacional.  

Na mesma linha pop, “A Praieira” é ainda mais simples (e feita numa base de ciranda), talvez a canção mais palatável de toda a sequência de 13 faixas do álbum. Não por acaso, virou trilha da novela global Tropicaliente (1993), gravada nas praias do Ceará.  

“Samba Makossa” traz uma roupagem mais experimental, e antecede a faixa-título. “Da Lama ao Caos”, a música, sempre teve muita força com Chico Science no palco e, até hoje, com toda evidência no peso da guitarra de Lúcio Maia, é um dos pontos altos do show da Nação Zumbi.  

Até este ponto, “Da Lama ao caos” seria um EP poderoso, mas do miolo do álbum, até o final, reúne faixas de menor fôlego e menos inspiradas, transmitindo a sensação de que a banda se repete em comparação à sequência que abre o disco.  

A exceção fica com “Computadores fazem arte” e a instrumental “Salustiano Song”, outra composição que funcionava muito bem com Chico no palco. Ao vivo, o artista costumava se vestir de caboclo de lança para performar durante esta música.  

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