Fagner lamenta a morte do amigo João Gilberto

"Era um cara que, para você se relacionar, era preciso entrar na graça dele", enfatizou o cantor cearense

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@diariodonordeste.com.br
Legenda: Fagner manteve amizade com João Gilberto em conversas por telefone, como era de praxe para o músico baiano
Foto: Foto: Camila Lima

O cantor cearense Raimundo Fagner foi amigo de João Gilberto e lamentou o falecimento do artista baiano. Ícone da bossa nova, João faleceu na última sexta (5), aos 88 anos, segundo seu filho, João Marcelo Gilberto, anunciou nas redes sociais neste sábado (6). 

"Ele era um cara extraordinário, que revolucionou a música brasileira. Fui muito fã dele. Construímos uma amizade do nada, e nos falamos muito, sempre por telefone. Era divertido, crítico, um cara que, para você se relacionar, era preciso entrar na graça dele", pontuou Fagner.

O cearense conta que, desde que soube da morte de João Gilbero, seu telefone não parou de tocar. Dentre os nomes da música cearense, Fagner foi um dos poucos que estreitou laços de amizade com o baiano. João vivia recluso, pouco socializava, e era de seu hábito manter contato com amigos, família e parceiros, apenas por telefone.  

 

Fagner recapitula que os dois não tinham contato há "três ou quatro anos". "Ele gostava muito de futebol. Antes da Copa de 82, me ligou e disse assim: 'Fagner, diga para o Telê (Santana, técnico do Brasil) não escalar aquele jogador'. Depois que a seleção perdeu, ele reclamou que o Brasil perdeu porque não falei com o Telê (risos)", recorda o cantor cearense. 

Os dois já moraram próximos, no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro. Dona Angelita, cozinheira de Fagner, chegou a trabalhar com João Gilberto também. "Ela fazia meu café, e depois ia pra casa dele preparar o almoço", detalhou.

Antes de estabelecer amizade, Fagner conheceu o "folclore" em torno de João Gilberto por meio de Ronaldo Bôscoli, ex-marido de Elis Regina e "padrinho" do cearense no Rio de Janeiro. "Sempre procuramos afinidades nas conversas. Ele falava muito da música do Ceará, dos conjuntos vocais, como o Quatro Ases e um Coringa, o Trio Nagô".

Miúcha 

Outro elo entre Fagner e João Gilberto foi Miúcha (1937-2018), irmã de Chico Buarque e ex-esposa do baiano (a cantora Bebel Gilberto é filha do casal). "Ela vinha bastante na minha casa, até por conta dele, que mandava muitos amigos que queriam me conhecer, como desembargadores. Pessoalmente, tive essa proximidade mais pela família, do que dele", conta. 

Musicalmente, no entanto, Fagner destaca que João Gilberto não lhe influenciou. Os dois não chegaram a tocar projetos artísticos juntos. "Lamento bastante sua perda, apesar de saber que ele já vinha doente e envolvido em uma série de problemas", complementa o cearense.

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