Editora cearense lança projeto que recupera hábito de sentar na calçada para dividir histórias

Programação Chá de afetos, da Aliás Editora, traz a escritora Tércia Montenegro na edição de estreia

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br

Não é raro ouvirmos da boca de nossos pais ou avós o saudoso relato do quanto era bom sentar-se à calçada nos fins de tarde e prosear sobre a vida. O ritmo desenfreado dos grandes centros urbanos, porém, infelizmente minaram o tradicional hábito. A nova ação da editora cearense Aliás vai na contramão disso e injeta dose de renovação da prática a fim de ecoar novas histórias e diálogos.

Trata-se do "Chá de afetos", cuja primeira edição acontece hoje (7), às 19h, na Matinê 12. Gratuita, a atividade idealizada como um ciclo de conversas sobre uma palavra  incorpora o espírito daquela nostálgica rotina em vários aspectos.

Primeiro ao distribuir, no espaço onde vai se realizar o encontro, espreguiçadeiras. A intenção é que as pessoas que transitam no local possam sentar-se de modo confortável e despreocupado.

Prontamente instaladas nesse ambiente descontraído, elas são, então, convidadas a trocar ideias sobre os mais diversos assuntos.

Para essa primeira incursão, a convidada é a escritora Tércia Montenegro, autora de premiadas obras, a exemplo de "O Vendedor de Judas" (2011), "O tempo em estado sólido" (2012) e "Turismo para Cegos" (2015). É dela também a autoria de "Em Plena Luz", lançado neste ano pela Companhia das Letras.

Tércia vai partilhar, com o público presente, ideias, afetos e recordações sobre a palavra escolhida para a edição de estreia: vento. Ao término, também será lançada uma zine com um texto da escritora, prática que deve se repetir nos próximos encontros, quando os convidados poderão ter, em mãos, pequena obra. A mediação é de Isabel Costa.

"Observo que é uma ação não necessariamente para aproximar escritora e leitores: é para aproximar afetos, porque histórias todo mundo tem para contar, ler e escutar. Então, é essa coisa ancestral mesmo de a gente se reunir em cadeiras, sentindo a brisa, do lado de fora de uma casa, e conversar", explica Tércia.

"Já sei que será um momento muito agradável, porque as pessoas que organizam são muito positivas, com energia muito boa. Assim, mesmo numa situação simples, temos uma riqueza imensa de resultados, de trocas", complementa.

Legenda: Tércia Montenegro é a primeira convidada da edição do Chá de Afetos
Foto: Foto: Renato Parada

Aproximação

Em paralelo, serão preparados ainda diversos sabores de chá servidos aos participantes, criando uma aconchegante atmosfera de aproximações. Nas palavras de Anna K Lima, escritora e publisher da Aliás Editora, o Chá de Afetos é a "menina dos olhos" da casa.

"Desde 2007 temos essa ideia de fazê-lo, pensando em ocupação da cidade, encontros, discutir coisas. E é um projeto que nunca passou por editais, nos deixando sempre muito pensativas quanto a isso. Quando, de verdade, instituímos a Aliás e, agora, possuindo nosso espaço próprio, achamos que realmente seria o momento de realizarmos a ação".

Anna reitera que o compromisso da ação, com pretensão de acontecer mensalmente, é pausar o tempo e instaurar um espaço em que seja possível a conversa. Uma lógica muito baseada no que a profissional e outras integrantes da editora vivenciam ao residirem na periferia de Fortaleza, onde ainda é possível perceber essa realidade.

"É óbvio que temos uma enorme ligação com a literatura, mas a proposta é que dialoguemos sobre tudo. É uma conversa sem fim, para que as pessoas cheguem, sentem, tomem chá, se olhem e parem o tempo para se entender. Um respiro de alívio, um momento de partilha em que estamos nos doando para o outro, sem nada em troca. Amor, enfim, é isso, e a preocupação da Aliás sempre foi ofertar esse tipo de alimento", conclui. 

Serviço
Primeira edição do "Chá de Afetos"
Nesta quinta-feira (7), às 19h, na Matinê 12 (Avenida 13 de Maio, 1422 - entrada pela Rua Barão de Aratanha). Entrada gratuita.

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