Diversidade de gênero e regionalismo são destaques do penúltimo dia de desfiles do DFB Festival

Um dos momentos mais esperados da noite, o desfile do cearense Lindebergue Fernandes, trouxe a proposta de discutir sobre a dignidade humana e trazer à tona o questionamento de padrões

Escrito por Ana Beatriz Farias ,
Legenda: O limiar do gênero dentro do mundo da moda foi tratado através da diversidade, presente desde a escolha dos corpos expositores à escolha estética que constituiu os looks
Foto: Foto: Camila Lima

O terceiro dia de desfiles do DFB Festival 2019 teve a marca da diversidade ainda mais clara por conta do trabalho desenvolvido pelo estilista cearense Lindebergue Fernandes, que levou para a passarela peças que flertavam com o brega. Propostas com brilho e a valorização dos crochês também foram destaques no evento que segue no Aterro da Praia de Iracema até este sábado (18).

O baiano Jeferson Ribeiro foi responsável por um dos primeiros desfiles da noite. Uma atmosfera clean e sofisticada envolveu o percurso traçado pelo designer na passarela. A maioria das peças possuía cor única ou contava com pequenas variações que ficavam a cargo de algum acessório ou detalhe em aplicação. Intitulada “Bença”, a coleção é o emergir de referências diversas, como Clarice Lispector e Blade Runner, unidas por “força e beleza fora dos padrões”, de acordo com Jeferson.

A apresentação é a sétima do estilista, que costuma levar ao público provocações acerca das questões sobre as quais reflete, no Dragão Fashion Brasil. O minimalismo visível transparece a opção editorial do artista por criar trabalhos que unam estrutura e fluidez.

Num desfile de muitos tons, Melk Z-Da começou a contar a história dos chás por meio do brilho que muitas vezes adorna o ritual de consumir a bebida. Das colherinhas de mexer ao tradicional infusor, tudo serviu para inspirar a cintilância presente ora em bordados, ora na aplicação de paetês. Os tons escolhidos variam do pastel ao vibrante.

Enquanto a cartela mais clara abriga as peças com alguma luminância ou estamparia, as cores mais fortes aparecem em peças compostas por tramas e crochê. Outro elemento que marca a coleção é a flor de hibisco, que aparece de diferentes formas em muitos dos looks apresentados.

Em entrevista ao Sistema Verdes Mares, o criador pernambucano comentou a escolha do tema: “chá pra mim representa aconchego, uma coisa que a gente precisa muito hoje. Sentar e poder conversar”. As redes sociais serviram de parâmetro para que o designer tivesse a certeza de não compor uma minoriaafeita à bebida. “Eu fiz uma enquete no Instagram e percebi que quase todo mundo gostava de chá de alguma forma”.

Um dos momentos mais esperados da noite, o desfile do cearense Lindebergue Fernandes, trouxe a proposta de discutir sobre a dignidade humana e trazer à tona o questionamento de padrões. O limiar do gênero dentro do mundo da moda foi tratado através da diversidade, presente desde a escolha dos corpos expositores à escolha estética que constituiu os looks. Transparência e degradê marcaram a coleção.

Antecedeu a apresentação do estilista um desfile essencialmente regional. As peças foram produzidas por artesãos que fazem parte do programa Rota das Emoções do Sebrae e tinham como tônica o crochê, além de dar espaço a elementos como palha, chita e escama de camurupim. Numa cartela de cores que incluiu tons terrosos e verde vibrante, a transparência também foi destaque. Produtores manuais locais da Rota de Jericoacoara, englobando municípios como Camocim, Sítio Alegre, Chaval e Barroquinha, foram os responsáveis por dar vida aos trabalhos.