Campanhas contra o assédio movimentam blocos de rua e órgãos públicos

Além das ações de conscientização, agentes públicos prestam assistência nos dias de folia

Escrito por Lívia Carvalho , livia.carvalho@svm.com.br
Legenda: Concentração e estandarte do Bloco Cola Velcro
Foto: Nayra Maria

O bloco Damas Cortejam surgiu em 2012 e é por meio das músicas que as integrantes fazem campanhas contra o assédio. O grupo foi criado como uma forma de provocar a reflexão sobre os espaços que elas ocupam. “A nossa ação é nos palcos, nas músicas, a gente procura cantar músicas que não objetificam o corpo da mulher”, explica Thais Costa, uma das integrantes. 

É nos palcos e nas ruas que a ação acontece. Tendo como gancho as músicas para abordar os mais diversos assuntos, como a liberdade sexual feminina, a pressão estética e mais. “A gente vai tentando conectar as músicas com as nossas falas e com o que a gente acredita”, conta.  

O resultado, para Thais, é de um local em que as mulheres se sentem mais seguras e representadas, além de ser importante pela bandeira que levanta.  

Formado por mulheres lésbicas e bissexuais, o bloco Cola Velcro surgiu em 2017 com a proposta de ser um local seguro para a expressão e de representatividade. As ações do grupo reforçam o combate à LGBTfobia e acontecem especialmente por meio de discursos e das paródias, que falam abertamente sobre temáticas tidas como tabu para a mulher, como a masturbação.  

Legenda: Ação do bloco Damas Cortejam no Carnaval
Foto: Hiane Braun

Uma das integrantes do bloco, Quel Santos, acredita que essa é uma forma de se afirmar “como um espaço seguro para que todo mundo possa exercer sua liberdade de corpo, de sexualidade”. Quel aponta ainda o efeito surtido com crescente quantidade de adeptos a cada ano.  “As pessoas se sentem à vontade de vir, ficar, brincar”. 

Conscientização 

Aliado a isso, a campanha da Defensoria Pública do Ceará usa as redes sociais para conscientizar a população sobre o crime de importunação sexual, sancionado em setembro de 2018. “É quando a pessoa pratica sem consentimento de outra atos libidinosos com o objetivo de satisfazer seu desejo sexual”, explica Jeritza Braga, defensora pública e supervisora do Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher (Nudem). 

Legenda: Peça de conscientização da Defensoria Pública do Ceará
Foto: Divulgação

A defensora explica ainda que esse atos podem ser caracterizados como um beijo forçado ou a tentativa de pegar nas partes íntimas da pessoa. Para Jeritza, é fundamental que se reúna o máximo de provas para dar prosseguimento ao procedimento criminal. “Se alguém te incomodou, você tem logo que chamar o segurança do bloco, alguma autoridade policial. Se tiver algum amigo por perto, avisa que é pra filmar, tirar foto, tem que ficar o registro dessa pessoa”.  

A campanha, por tanto, quer orientar a população a não se manter calada diante dessas situações. “Não pode deixar para lá. À medida que as pessoas denunciam, vai ter registro, estatísticas, vamos poder pedir por políticas públicas. Se a gente tem um número grande de pessoas reclamando sobre determinada situação, há maiores chances das atenções se voltarem para isso”, conclui. 

A Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secult) atua por meio da distruição de adesivos com os dizeres 'não é não', por exemplo, panfletos e com a assistência de agentes especializados nos polos oficiais do Ciclo Carnavalesco. Além disso, os cerimonialistas também reforçam a mensagem durante os eventos.  

Paola Braga, secretária executiva da pasta, destaca a importância de se ter esses agentes nos locais. “Se alguma pessoa que se sinta assediada, ela tem o agente para ajudá-lo, além do juizado de menores e dos agentes públicos presentes no evento”, conta.  

Direcionado para a proteção de crianças e adolescentes, a Fundação da Criança e da Família Cidadã (Funci) promove plantões de 50 educadores sociais e profissionais especializados realizando abordagem social, distribuindo pulseiras de identificação para as crianças e aplicando as devidas medidas socioeducativas. Eles ficarão nos locais de maior fluxo, como Mercado dos Pinhões, Aterrinho da Praia de Iracema e Benfica. 

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