Atletas de fim de semana devem ficar atentos aos riscos à saúde

Atividades esportivas como os “rachas” proporcionam prazer aos adeptos, mas podem envolver riscos, caso não tenha o devido preparo físico

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@svm.com.br
Legenda: Misto de diversão e cuidado com a saúde, os "rachas" são um clássico da prática dos atletas de fim de semana
Foto: FOTO: KLÉBER A. GONÇALVES

A agenda corrida de obrigações da vida adulta costuma ser um empecilho para a manutenção de uma rotina saudável. Sem muito tempo disponível além da rotina intensa de trabalho, homens e mulheres procuram unir o útil ao agradável e contemplam várias necessidades em uma só oportunidade. Misto de diversão e cuidado com a saúde, por exemplo, o “racha” (jogo de futebol) tornou-se um clássico desse movimento e tem revelado vários “atletas de fim de semana”. 

No entanto, embora o hábito também tenha seu apelo social, reunindo amigos, aquilo que deveria ser um cuidado com a saúde, pode se tornar risco. O futebol, dentre outras atividades esportivas como a corrida, é um exercício físico de alto impacto e exige preparação dos praticantes. Essa prevenção, porém, nem sempre acontece e os jogadores passam a conviver com problemas musculares, além dos riscos de lesões e complicações cardíacas.       

O racha normalmente acontece uma vez por semana. Dessa forma, nos outros 6 dias boa parte dos jogadores não praticam outras atividades físicas. “Além de sobrecarregar o coração, eles podem sofrer algum tipo de lesão. Alguma distensão muscular, torções, problemas articulares. Principalmente no joelho, região que sente mais os impactos”, resume o educador físico Darkson Almeida, 37. 

Para Darkson, o atleta precisa enxergar os limites do próprio corpo. O racha costuma ser o “escape” de uma semana estressante. E, sem o devido preparo físico, os praticantes podem ficar mais cansados, em relação ao início da atividade. O educador físico sugere que, ao sentir o desgaste, os atletas parem de jogar e, durante a semana, adotem uma boa alimentação e treinos físicos (de preferência acompanhados por um profissional da área).   

Desgaste 

O arquiteto Davi de Freitas, 28, é um dos atletas que, toda sexta-feira, se reúne para disputar um racha no Montese. O jogo, segundo ele, é um lazer feito para se divertir com os amigos e dar risadas, sem tanta competitividade. Depois das partidas, ele se sente dividido entre a sensação de prazer da atividade e o desgaste físico. 

"Nos primeiros minutos, sinto como se estivesse correndo uma longa maratona e minha respiração fica bem dificultada. Mas depois do terceiro jogo, já tenho adquirido ritmo. Também sinto dores musculares e algumas cãibras durante e após o racha. Mas tento descansar ao máximo no fim de semana, para recuperar os músculos e estar 100% na segunda”, conta Davi.  

Legenda: Atividades como o vôlei de praia exigem treinos físicos complementares, para evitar riscos à saúde dos adeptos
Foto: FOTO: NATINHO RODRIGUES

Para driblar esse desgaste, ele já tentou emplacar uma rotina de pedalar durante a semana, mas não se deu bem com o exercício. Agora, Davi vislumbra praticar cooper (corrida e caminhada). Segundo o fisioterapeuta João Lucas Aguiar, 27, a falta de preparo para o racha pode prejudicar a continuidade do hobby. Ele lembra que as complicações musculares podem levar os praticantes a pausar a prática de 6 a 8 semanas, dependendo do caso. 

Também adepto do racha, o fisioterapeuta conta que ele mesmo já passou por fases de queda de rendimento no jogo. "Isso acontece quando eu paro de fazer minhas atividades físicas da semana, por conta do trabalho. Como sei que vou me lesionar, não exijo muito de mim. Mas a pessoa que não se conhece, vai exigir demais de si e se lesionar”, alerta João. 

De acordo com o fisioterapeuta, há casos de gente que desenvolve torções nos joelhos e precisa colocar bota de gesso no local. Em situações ainda mais graves, os atletas de fim de semana têm de fazer cirurgia e encarar um período pós-operatório sentado em cadeira de rodas.   

Novos hábitos 

Para o educador físico Darkson Almeida, os atletas de fim de semana também podem prestar atenção à criação de novos hábitos, a fim de cuidar do condicionamento físico. Além dos treinos disciplinados, ele sugere que a troca do elevador pela escada, curtas caminhadas e uma alimentação saudável, evitando o sobrepeso, ajudam a aliviar o desgaste de uma atividade física intensa e irregular. 

Segundo o fisioterapeuta João Lucas Aguiar, esse quadro de desgaste físico tem um apelo individual. Ele explica que não é o esporte, em si, o principal fator causal de uma lesão. A prática sem preparo físico “só manifesta disfunções que as pessoas já trazem. Geralmente, as pessoas passam a semana trabalhando, muitas horas sentadas, e desenvolvem diversos tipos de encurtamento muscular dos membros inferiores”, detalha.  

No momento do racha, o atleta precisa de velocidade, potência, arranque. Uma amplitude de movimentos que, sem o devido preparo físico, pode levar o praticante a estirar ou romper os músculos. De acordo com João Lucas, antes do jogo os atletas devem fortalecer a musculatura e, em paralelo, fazer algum treino de mobilidade funcional e articular. “Agregando a musculação, duas vezes por semana, e uma atividade como o pilates, também nessa frequência, pode ajudar”, sugere.

Orientações

Na rotina comum, os praticantes podem melhorar seu condicionamento, trocando o uso do elevador pela escada e fazendo curtas caminhadas

A prática do pilates ajuda os “atletas de fim de semana” a trabalhar a mobilidade funcional e articular 

A musculação fortalece os músculos e evita, no caso, estiramentos e encurtamentos 

Uma alimentação saudável evita o sobrepeso e ajuda na mobilidade do atleta 

Diminuir o ritmo no racha, ou n`outra atividade de impacto, pode evitar uma lesão ou arritmia cardíaca 

Respeitar os limites do corpo é a recomendação básica para os atletas de fim de semana 

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