Arte pela vida natural

O 8º TIC continua sua programação com a exibição de "Micromundo", do Teatro Engranaje (Chile), nesta sexta (12)

Escrito por Redação ,

Até este sábado (13), segue a programação da oitava edição do Festival Internacional de Teatro Infantil do Ceará (TIC). Espetáculos cênicos, mostras e oficinas movimentam o cenário artístico em Fortaleza, Sobral e São Gonçalo do Amarante (CE). Na capital cearense, o grupo de teatro Engranaje, do Chile, apresenta o espetáculo "Micromundo" nesta sexta (12), às 17h, no Teatro do Centro Dragão do Mar (Praia de Iracema). O festival teve início no último sábado (6). A programação é gratuita.      

Em entrevista por e-mail, a diretora do Engranaje, Constanza Becker, falou sobre o processo criativo do grupo chileno e de como a estética apresentada é antecipada por estágios de pesquisa, ensaios, laboratórios de interpretação e experimentação. Entre os conteúdos infantis "enxutos" e minimalistas; de um lado, e dentre aqueles lotados de estímulos e cores; o trabalho chileno se equilibra numa forma complexa, sem perder a ludicidade.  

No caso de “Micromundo”, de onde surgiu a ideia? Já haviam trabalhando com o "teatro negro" antes?
 
Não havíamos trabalhado com teatro negro. É uma técnica que potencializa bastante as atmosferas. Foi uma necessidade para que o espectador pudesse mergulhar no mundo onírico. É como quando se fecha os olhos, ver tudo negro... e é nesse momento em que tudo pode acontecer! Tudo pode aparecer. A ideia da obra surgiu pela necessidade de descobrir qual é a relação do ser humano com a natureza. Queríamos mostrar os seres e a vida natural que geralmente não vemos em nosso dia a dia. Tínhamos uma forte necessidade de encontrar o lugar do ser humano no mundo natural e que víssemos, através desta obra, como somos todos parte do mesmo e que estamos todos conectados. Tu e eu, quando estamos jantando em casa com nossos filhos, somos irmãos de uma rã caçando uma mosca no Amazonas. Não temos que esquecer isso. Estávamos muito motivados a mostrar este mundo invisível aos olhos do homem “civilizado”. Queríamos revelar ao público o que há de menor no universo até o maior da galáxia, da célula mais básica até o macrocosmo. E que (isso) possa ser acessível a todas as idades.
 
O apelo estético do espectáculo é impressionante. Mas e quanto ao roteiro? Há um roteiro definido ou a proposta é mesmo explorar o aspecto mais plástico?
 
A obra, como seu nome diz, busca nos mostrar um micromundo. Seremos testemunhas dos distintos estados de desenvolvimento da vida. Micromundo é uma experiência sensorial, que convida o espectador a mergulhar no mundo onírico. Recorremos, juntos, à história da vida e de como todos os seres vivos se relacionam entre eles para poder sobreviver. Não queremos contar a história da evolução do ser humano; mas, sim mostrar como o ser humano que se vincula com a natureza é um ser mais dentro do ciclo da vida. Veremos como os átomos se organizam violentamente para criar a matéria e também como as células começam a se transformar para dar origem ao primeiro ser vivo. Acompanharemos insetos que lutam contra o vento para sobreviver e outros animais que desenvolvem seu amor maternal e protegerão seus filhos do perigo. O público será testemunha de como a vida e a sobrevivência se dão no mundo natural. Todos nascemos e morremos, somos todos energia que se transforma, somos feitos e compostos todos do mesmo, todos viemos do mesmo. 

Acredito que, para dar conta dessas verdadeiras criações plásticas no palco, seja necessário muita pesquisa técnica. De engenhocas, de como fazer uma ideia funcionar...
 
Sim, claro, o processo criativo de cada espetáculo da companhia se desenvolve em um processo intenso de trabalho com materiais (telas, esponjas e plásticos) e técnicas teatrais (marionetes, máscaras, teatro de sombras ou teatro negro). Por meio de um laboratório de criação, geramos um diálogo entre o movimento e a interpretação dos atores com certas técnicas cênicas que nos permitem dar vida a mecanismos e seres. Dessa forma, um ensaio para nós é um processo onde técnica e jogo teatral se unem para dar origem a nossas obras. A música e as luzes virão em uma segunda etapa, para nutrir as atmosferas e os ambientes.
 
Em “Micromundo”, há também uma intenção educativa do Engranaje ao buscar referências na Física, na Biologia e na Zoologia? 
 
É justamente o ponto interessante em nossa proposta de trabalho, já que o processo para dar luz a nossos espetáculos é acompanhado de investigação que dura entre um e dois anos. Entrevistas a especialistas científicos, além de pesquisas e uma análise de material audiovisual, documentários, livros de ciência e livros sobre a origem do universo. Tudo isso compõe o "Micromundo". Nesse sentido, temos um profundo trabalho de investigação sobre o mundo natural e seu funcionamento. Não há diretamente uma intenção educativa, há uma intenção de abrir as fronteiras do que entendemos como os seres vivos e como o ser humano se relaciona com a natureza. Então sim, no Micromundo buscamos aprender junto com o público sobre a vida natural que nos rodeia e como é o nosso vínculo com ela, a fim de nos reconhecermos como seres vivos.

Serviço
Apresentação do espetáculo "Micromundo", do grupo de teatro Engranaje (Chile). Nesta sexta (12), às 17h, no Teatro do Centro Dragão do Mar (Rua Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema), pela programação do 8º Festival TIC. Acesso gratuito. Contato: festivaltic.com.br 
 

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