Novo livro de Oswald Barroso, “Ceará Mestiço” reúne textos sobre a cultura e a arte local

Lançamento da obra está marcada para acontecer nesta sexta-feira (26), no Theatro José de Alencar

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@verdesmares.com.br
Legenda: O pesquisador Oswald Barroso: Ceará em pauta por meio de obras que passeiam pela diversidade do Estado, contemplando temáticas ligadas ao tradicional e ao contemporâneo
Foto: Foto: Kiko Silva

A convivência com diferentes camadas da população cearense a partir da escuta atenta de costumes e modos integra o ofício de Oswald Barroso. É pesquisador inquieto. Meio século de experimentações por este chão lhe renderam, não à toa, registros precisos do modo de ser de nosso povo, impressões dispostas em uma expressiva bibliografia sob sua autoria – indo de romeiros e histórias populares à antropologia da arte.

Esse encorpado caldeirão de ideias e ângulos deve adquirir maior fervura nesta sexta-feira (26), a partir das 18h, no Theatro José de Alencar, quando haverá o lançamento da mais recente obra do jornalista, dramaturgo, poeta e escritor. “Ceará Mestiço” reúne escritos selecionados de, pelo menos, 30 anos de trabalho e reflexão sobre a cultura local e será apresentado, na ocasião, pelo Secretário da Cultura do Estado do Ceará, Fabiano dos Santos Piúba. 

“Penso que a melhor maneira de entendermos o mundo é nos compreendermos em profundidade. Trata-se, então, de um mergulho na forma de ser do cearense, tanto em abrangência, quanto em intensidade”, explica o autor. 

Assim, ao assumir a proposta, Oswald depositou no exemplar espectros encorpados no que toca à política, ecologia, religiosidade e, especialmente, o fazer artístico realizado nas bandas de cá. “Matutei muito e escrevi sobre quase tudo”.

O resultado é um interessante compêndio de artigos, fotografias, reportagens e escritos acadêmicos sobre a cultura e a arte cearense, compondo uma série de livros de memórias. “Penso que a obra nos ajudará a compreendermos melhor à pergunta: Quem somos?”, sinaliza.

Mercador do deserto

A pesquisa para o material durou a vida profissional inteira de Oswald, que não se restringiu apenas à contemporaneidade, mas ao passado e à imaginação sobre o futuro para discorrer sobre o assunto. Segundo ele, esse caminhar rendeu surpresas constantes. 

“A maior talvez tenha sido a de constatar que o cearense, mais que um vaqueiro ou jangadeiro, é um mercador do deserto, alguém de uma habilidade tremenda, que propaga sua criatividade por meio de uma capacidade imaginária inesgotável”.

E completa: “É como o caracol, que carrega no próprio corpo todo o seu ser e, assim, perambula pelo mundo vivendo do que propaga”, citando nomes como Dragão do Mar, Dona Ciça do Barro Cru, Cacique Pequena e Ana Triste de Araripe de forma a dar dimensão da relevância de nossos conterrâneos.

O maior desafio, nesse sentido, foi não parar de percorrer os caminhos na busca pela ressonância desses personagens e de outros, atuando na militância nordestina, nos projetos de artesanato e cordel e folguedos de arte e cultura na Reforma Agrária, por exemplo. 

“A grande questão foi nunca se contentar com o que via e pressentia, sempre querendo ampliar sua vidência e sua capacidade de dialogar com o que até então me parecia invisível”, reitera o autor.

Miragens e travessias

A espinha dorsal do livro, conforme o pesquisador, são os os primeiros capítulos: aquele que se pergunta pelo ser cearense, e o que mira Fortaleza, "para surpreender o próprio rosto", ampliando um sem-número de perspectivas sobre o objeto de estudo em questão.

“Comecei pelas perguntas e pela observação. Antes de falar, de escrever, ouvi, toquei, senti o gosto/desgosto, a dor/alegria, brinquei, briguei bastante. Vivi avidamente. Fui, como Mário de Andrade, trezentos mil. Só comecei a escrever e mostrar o que escrevia, engasgado de perguntas, interrogações e inquietações acumuladas. Foi como um desabafo”, situa Oswald, justificando o poema “Miragens e Travessias”, de sua autoria, na abertura do livro.

Dentre os projetos adiante, ele cita a publicação ainda de “Memórias de Bailados e Comédias”, livro sobre os dramas populares do litoral leste cearense; “Máscaras: do Teatro Ritual ao Teatro Brincante”, uma reflexão teórica sobre as artes cênicas; “Aproximações” e “Risco Vermelho”, segundo volume de “As Desventuras de um Rei Desencaminhado” – que devem ser lançados nos próximos dois meses.

Por ora, “Ceará Mestiço” estará disponível nas principais livrarias de Fortaleza. Além disso, a Secretaria da Cultura do Ceará vai disponibilizá-lo em nossas bibliotecas públicas e na rede colegial. 

Serviço
Lançamento do livro “Ceará Mestiço”, de Oswald Barroso
Nesta sexta-feira (26), às 18h, no Theatro José de Alencar (Rua Liberato Barroso, 525, Centro).Gratuito.

Ceará Mestiço
Expressão Gráfica e Editora
2019, 656 páginas
R$ 70

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