Nome consagrado nas artes visuais, o cearense Sérvulo Esmeraldo ganha nova exposição na Suíça

As obras envolvem o bom humor do artista e sua experimentação a partir de formas geométricas. Ligação com a Suíça marcou a trajetória do cearense que, em vida, morou na Europa durante 14 anos

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@svm.com.br
Legenda: Obra do artista, feita no ano 2000, revela a experimentação a partir de formas arredondadas
Foto: Foto: Jean-Gabriel Lopez

Em vida, o cearense Sérvulo Esmeraldo (1929-2017) se tornou um cidadão do mundo, à luz dos apelos de sua criação artística. Nascido no Crato, região do Cariri, o artista visual ganhou espaço e respeito no circuito europeu de artes. A ligação com a Europa é marcada, na história dele, pelo período em que viveu na França, de 1957 a 1970.

Até hoje, parte do acervo de Sérvulo está sob os cuidados de Sabrina Esmeraldo, sua filha mais velha, em território francês. E foi a partir desse conjunto de obras, produzido durante os anos vividos em Paris, que agora o cearense ganha nova mostra de seu legado em Zurique, na Suíça, um país de influência da cultura francesa.

A exposição "Jouer avec le cercle" ("Brincando com o círculo", em português) será aberta nesta sexta (10), na Galeria Kogan Amaro, situada na maior cidade da Suíça. A coleção reúne desenhos, gravuras e esculturas. Peças nas quais Sérvulo se expressa a partir de formas geométricas e "animadas". A mostra permanecerá em cartaz até o dia 28 de janeiro.

Para o curador Ricardo Resende, esse recorte da produção de Sérvulo Esmeraldo revela um artista de percepção bem humorada. "É uma coisa bonita que observamos na obra dele, com bastante humor. A gente mostra como o artista brincava. É uma exposição bem leve, delicada, com desenhos e gravuras de pequeno porte", sintetiza.

Legenda: Obra "Hélice" de 1967, período em que Sérvulo viveu na França
Foto: Foto: Frank White

Ricardo lembra que, depois de voltar a morar no Brasil, Sérvulo sempre retornou a Paris. Além da obra referente ao período de residência francesa, a nova mostra tem trabalhos mais recentes e dá amplitude sobre o ritmo de criação do artista.

"Ele criava o tempo todo. Me lembro de uma vez em que estávamos sentados na Beira-Mar de Fortaleza, olhando para a escultura dele ("La Femme Bateau"), daí ele pediu silêncio e apontou para os passarinhos pousados no fio elétrico, fazendo um desenho no céu", recorda o curador.

Dodora Guimarães, presidente do Instituto Sérvulo Esmeraldo e viúva do cearense, recapitula como o espaço da obra do artista na Suíça é antigo. A primeira exposição dele na Europa aconteceu no país, em 1961.

"O Sérvulo sempre teve estreita ligação com a Suíça. Ele não somente expôs muito lá, como também construiu uma relação de amizades e profissional com o País. Teve grandes amigos suíços, como o Jean-Pierre Chabloz (1910-1984). E a última exposição dele, em vida, foi na Suíça também", situa Dodora.

Difusão

A galeria de arte contemporânea Kogan Amaro em Zurique é uma filial, ligada à matriz de São Paulo. A exposição de Sérvulo Esmeraldo é a primeira de uma sequência de difusão da arte brasileira na Europa. As obras do cearense devem dividir espaço com o trabalho de Isabelle Borges, nascida no Brasil e radicada na Alemanha desde 1993.

Legenda: Obra de Sérvulo de 2006, na linha do abstracionismo geométrico
Foto: Foto: Jean-Gabriel Lopez

"Zurique tem uma influência muito grande dos abstracionistas geométricos. Tivemos aqui Max Bill (1908-1994), e isso influenciou também artistas como Sérvulo. Há um interesse grande dos colecionadores suíços na obra dele, como houve na última mostra no país, realizada em 2016, em Basel", avalia o curador Ricardo Resende.

Museu

Em paralelo à exposição, o Instituto Sérvulo Esmeraldo prepara o ateliê do artista em Fortaleza para visitação pública. Dodora Guimarães prevê a inauguração do espaço museológico para depois do Carnaval. Por ora, o arquiteto Marcos Novaes e o engenheiro George Barreto, caririenses, como Sérvulo, trabalham no projeto.

Além de obras do artista, o espaço vai reunir biblioteca e todo o seu maquinário, dentro de uma perspectiva museológica. Dodora situa que a obra é delicada, pois está localizada dentro da própria casa, onde morou com Sérvulo até o fim da vida dele, no bairro Salinas.

"Queríamos inaugurar no dia 27 de fevereiro, quando ele completaria 91 anos de vida. Mas essa data ainda é próxima do Carnaval. Sempre foi desejo do Sérvulo tornar público seu ateliê, o espaço de pesquisa, estudo e difusão da arte contemporânea. Fiquei bem temerosa de levar isso adiante, porque é uma responsabilidade muito grande, mas necessária", reflete Dodora Guimarães.

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