Ney Matogrosso apresenta 'Bloco na Rua' em Fortaleza com cearenses no repertório e no figurino

Com figurino assinado por Lino Villaventura, o cantor recorda músicas de compositores cearenses e celebra outros artistas. Show acontece neste sábado (24), no Centro de Eventos

Escrito por Rômulo Costa , romulo.costa@verdesmares.com.br
Legenda: Sem medo da onda conservadora, Ney Matogrosso quer cantar o que dá prazer
Foto: FOTO: MARCOS HERMES

Depois de encerrar a mais longa turnê da carreira, no início de 2018, Ney Matogrosso não ficou parado. Um ano depois, tratou de voltar aos palcos com um projeto que revisita músicas do próprio repertório e insere canções eternizadas por outros artistas.

"Fui cantando tudo o que eu gostava e que gostaria de cantar", resumiu o cantor. O resultado foi o luminoso "Bloco na Rua", que tem a marca de cearenses no figurino, assinado pelo estilista Lino Villaventura, e em três canções compostas por músicos do Estado. Na estrada desde janeiro, a turnê chega em Fortaleza neste sábado (24), em show apresentado no Centro de Eventos.

Afeito aos impactos, Ney Matogrosso já começa o show surpreendendo. A música de Sérgio Sampaio, lançada em 1972, que dá o título para a turnê, recebe uma versão feroz na voz aguda do cantor. A escolha causou impacto no público. Logo começou um burburinho de que Ney Matogrosso havia ressurgido ainda mais roqueiro e político. Mas, para ele, não é bem assim.

"Não sei por que as pessoas acham que essa é uma musica política. Nunca me ocorreu que ela pudesse ser vista assim. Talvez, nos anos 1970, né? Porque ainda tinha a ditadura...", justifica Ney. Para ele, o show não foi pensado para dar recado a ninguém. É um espetáculo pensado para dar vazão ao prazer de cantar. E só.

A energia da primeira música segue na sequência formada ainda por "Jardins da Babilônia", que Rita Lee cantou com o Tutty Frutti, seguida de "O Beco", dos Paralamas do Sucesso. O trio é tão poderoso que exigiu do cantor uma mudança de postura ao longo das apresentações.

"Quando eu comecei a fazer esse show, senti que ele era muito pesado. Mas era porque eu não o dominava ainda. A partir do momento em que eu comecei a fazê-lo, entendi. Eu não podia chegar me jogando inteiro. Eu tinha que começar a me soltar na terceira música. Então, eu começo mais calmo e vou entrando, até estar aquecido. Aí eu viajo. Eu voo", divide.

Legenda: Na nova turnê, Ney relembra revisita seus clássicos e canta canções consagradas por outros artistas
Foto: FOTO: MARCOS HERMES

Nesse deslocamento, o cantor passeia pela apaixonada "Yolanda" (Pablo Milanés, com versão em português de Chico Buarque), recorda Raul Seixas com "A Maçã" (parceria com Paulo Coelho e Marcelo Mota) e volta pontiagudo com "Tem gente com fome" (João Ricardo, a partir dos versos de Solano Trindade).

"Todas músicas são muito conhecidas, e as pessoas talvez estejam gostando de ouvir. Ninguém nunca mais escutou essas músicas", aposta Ney, ao avaliar o que o público tem reagido bem às apresentações pelo País. Segundo ele, a recepção é até melhor do que na turnê anterior, "Atento aos sinais", com a qual passou cinco anos viajando.

De todas as músicas do novo show, apenas uma é inédita. Trata-se de "Inominável", de Dan Nakagawa. O compositor é tido como um dos preferidos de Ney, que insere canções do paulistano em seus shows desde "Inclassificáveis" (2007).

Cearenses

Ao revisar o próprio repertório, Ney Matogrosso acabou pinçando três canções de compositores cearenses para fazer parte da seleção de "Bloco na rua". Do disco gravado com Raimundo Fagner, em 1975, selecionou duas músicas: "Postal de amor" (Fagner, Ricardo Bezerra e Fausto Nilo) e "Ponta do lápis" (Clodo Ferreira e Rodger Rogério).

Além delas, um dos pontos altos do show ocorre quando Ney imprime sua versão para o clássico "Pavão Mysteriozo", de Ednardo. "Sou íntimo do Fagner, era mais íntimo do Belchior, conheço o Ednardo e fui mais próximo dele. Todos eu conheci em uma certa época da minha vida. Talvez nos anos 1970 eu encontrei e conheci essas pessoas. Não todos, mas a maioria dos envolvidos, como o Fausto Nilo", diz o cantor sobre a relação com os cearenses.

Figurino

E não é só na música que o Ceará se insere no show. O figurino - um macacão dourado como uma espécie de armadura - é assinada por Lino Villaventura, estilista nascido em Belém (PA) que constituiu carreira em Fortaleza. Deixando apenas mãos, pés e rosto de fora, a peça tem ainda uma máscara com a qual o cantor aparece vestido logo nos primeiros momentos do show. Impositivo e enigmático, Ney retira o acessório e só então começa a cantar.

Essa é a primeira vez que Lino desenvolve um figurino para o cantor. Mas o interesse era antigo. "Eu já prestava atenção nele. Uma vez quis comprar uma roupa dele. Tinha uma coisa que possivelmente isso poderia acontecer. Aí, o Ocimar (Versolato) morreu, que era quem fazia meus figurinos há muitos anos, eu pensei em alguém que tivesse uma estética que pudessem se aproximar dele, e foi o Lino", revela.

Legenda: Máscara compõe o figurino assinado pelo cearense Lino Villaventura
Foto: FOTO: MARCOS HERMES

A máscara foi uma proposta do estilista, acatada pelo cantor. O recurso estético encontra rima na própria trajetória de Ney Matogrosso, que nos anos 1970, ainda integrando o grupo "Secos e Molhados", usava a maquiagem como espécie de proteção da identidade. Hoje, o sentido é outro. "Eu já tenho intimidade com o povo brasileiro. Lá atrás, tinha uma insegurança. Agora, a máscara é um recurso cênico". Apenas. O Ney de agora é outro. Embora ainda continue o mesmo. No vigor, na voz e em todas as outras ousadias.

Serviço

Ney Matogrosso - Turnê "Bloco na Rua"
Neste sábado (24), às 22h, no Centro de Eventos (Av. Washington Soares, 999 - Edson Queiroz). Ingressos: Plateia A (R$ 240 / R$ 120); Plateia B (R$ 180 / R$ 90); Arquibancada (R$ 140 / R$ 70). Pontos de Vendas: Ticket Shop (Shoppings Iguatemi e Rio Mar Kenedy) e bilheteriavirtual.com.br. Informações: (85) 3195.0331

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