Museus orgânicos são atração cultural no Cariri

No Sul do Ceará, casas e oficinas de mestres da cultura vêm sendo transformadas em museus vivos, de portas abertas para colaboração

Escrito por Roberta Souza* , roberta.souza@diariodonordeste.com.br

É feito um namoro. Você olha para a pessoa amada e a história se completa se ela corresponder. Não tem como definir o que se constrói ali, até porque, com o passar do tempo, dá-se margem a uma nova interpretação, seja por quem está dentro ou por quem está fora da relação. Com essa metáfora, talvez seja possível descrever a ideia de museus orgânicos, acredita Alemberg Quindins.

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A Fundação Casa Grande de Nova Olinda, criada por ele há 26 anos, a partir da restauração da primeira casa do município, foi o laboratório para isso. "A gente queria fazer um museu no qual as pessoas da cidade não se sentissem intimidadas de entrar, que fosse igual a casa delas. Isso tudo é o exercício orgânico".

Legenda: A Fundação Casa Grande foi o primeiro laboratório dos Museus Orgânicos do Cariri

Em 2014, com a inauguração do Memorial Espedito Seleiro (Museu do Ciclo do Couro), na mesma cidade, veio um novo sentimento.

"O museu não é pra contar história, o museu é pra conversar sobre a história. Então, coisa boa que seu Espedito esteja ali e você possa conversar com ele", observa Quindins.

Sendo assim, fazer um equipamento interativo, com vídeos e tudo mais, na opinião dele, seria até um desperdício humano. "Se eu botar aquela história ali, as pessoas ficam perdendo a oportunidade de conversar com ele, né? E nós não vamos ter essa condição de ter uma diversidade maior de depoimentos dele", pontua. "Eu tô aqui conversando contigo e vou contar coisas que você tira de mim e outra pessoa não tira", exemplifica.

Legenda: Em Nova Olinda, Espedito Seleiro está de portas abertas no Museu Oficina do Ciclo do Couro
Foto: Elizangela Santos

É também desse contexto que salta a ideia de colaboração, consolidada no Museu Antônio Jeremias, em abril de 2017. Responsável pela emancipação política de Nova Olinda, o ex-proprietário, já falecido, "vive" hoje na filha, Aldenora, e nos visitantes do lugar. "A meninada que foi montar lá teve uma interatividade tão grande com a dona da casa, que depois ela ficou com saudade deles e isso gerou uma coisa que ela sempre tá sentindo necessidade daquela turma passar por lá", conta Alemberg.

Novos flertes

Orgânicos para quem visita, para quem recebe e para quem faz, os novos museus que vêm sendo abertos no Cariri são lugares de reunião de valores e consequente atendimento de necessidades, numa prática de autossustentabilidade. "Ele tem que chegar àquela família destacando os valores da família e não sendo o valor da família", ressalta.

O apoio do Serviço Social do Comércio (Sesc-Ceará) na construção de 16 museus orgânicos (dois deles já inaugurados, dos mestres Antônio Luiz e Françuí) orienta o começo de novos "namoros". Alemberg adianta a abertura do Museu do Mestre Nena (bacamarte), em Juazeiro do Norte, de mais dois em Potengi (um de ornitologia e outro de ferreiros), e de um em Nova Olinda (ciclo do algodão). A essas intenções, ele sinaliza: "Se o Sesc sair, a gente continua fazendo".

16 é o número de Museus Orgânicos dos Mestres da Cultura Tradicional do Cariri que o Sesc ajudará a inaugurar em parceria com a Fundação Casa Grande

Serviço:

Museu do Ciclo do Couro (Espedito Seleiro)

Rua Mosenhor Tavares, 318. Contato: (88) 3546.1432

Fundação Casa Grande

Avenida Jeremias Pereira, 444. Contato: (88) 3546.1333

Museu Casa de Antonio Jeremias

Rua Jeremias Pereira, 291. Nova Olinda (520 km de Fortaleza)

* A jornalista viajou ao Cariri a convite do Sesc-Ceará

 

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