Mulheres que enfrentaram o câncer de mama contam um pouco de suas histórias por meio do bordado

Em meio a cores, descontração e criatividade, mulheres que passaram ou estão em tratamento do câncer de mama bordam seus próprios seios e, por entre linhas e tecidos, descrevem suas superações

Escrito por Zilda Queiroz , zilda.queiroz@svm.com.br
Legenda: Na Exposição Reflorescer podem ser conferidas mais 15 telas aquareladas e bordadas por mulheres que encararam o câncer de mama com criatividade e determinação
Foto: Isanelle Nascimento

Recomeço, no sentido mais amplo da palavra, é o termo que melhor define a rotina de mulheres, especialmente acima dos 50 anos, que enfrentaram uma batalha contra o câncer de mama. Exemplo disso é o grupo assistido pela Associação Nossa Casa que busca, por meio da arte, força para se reinventar.

No mais recente desafio, o grupo se aventurou a participar do projeto Bordando Sonhos, com aulas ministradas por Iara Reis. O aprendizado levou essas mulheres a redesenharem suas histórias sob um novo olhar, valorizando cada ponto rumo à construção dos bordados que retratam os seios de cada uma delas após o tratamento.

Legenda: A experiência de retratar a sua história por meio da arte, despertou em Lindalva Coelho o conceito de que o aprendizado é transformador em qualquer situação
Foto: Isanelle Nascimento

Os trabalhos, realizados por quem nunca se imaginou capaz de produzir um ponto sequer, a exemplo de Edna Silva, hoje estão à mostra na Exposição Reflorescer, montada na Casa Bendita. "Eu nunca havia pegado em tecido e agulha para bordar, mas como gosto de desafios, me propus a participar das aulas e me surpreendi com o resultado", revela.

Segundo a vice-presidente da Associação Nossa Casa, Daniele Castelo Branco, o desenvolvimento das habilidades dessas mulheres com o bordado começou despretensiosamente, em 2018, por estímulo do grupo Amigas Entrelinhas, dando forma ao projeto Bordando Sonhos. No início de 2019, nasceu a ideia de aperfeiçoar os traços dos bordados que, para essas guerreiras, são motivo de muito orgulho, além de fazer alusão ao "Outubro Rosa", comenta.

Legenda: Cláudia Queiroz se sentia incapaz de produzir trabalhos artesanais, mas depois que começou se encantou com o resultado
Foto: Isanelle Nascimento

Conforme Daniele, o propósito da mostra é levar informação para a sociedade, tentando chamar a atenção do público sobre a detecção precoce do câncer de mama. A ideia é tratar o tema "

sob um outro olhar, contando histórias por meio do bordar. Por isso, o nome da exposição é Reflorescer", esclarece.

As telas retratam um pouco da experiência de cada uma dessas mulheres, estruturando mamas com cicatrizes ou mesmo reconstruídas. Para Daniele, outro lado positivo do projeto Bordando Sonhos, que culminou na exposição, é proporcionar um espaço agradável e acolhedor para que essas mulheres possam trocar vivências, dividir suas angústias e deixarem de lado a rotina do "não fazer".

Daniele ressalta ainda a elevação da autoestima destas mulheres. "Olhar o trabalho final e pensar: 'Fui eu que fiz'. 'Eu sou capaz'. Nós e elas estamos muito felizes, porque não esperávamos que, em menos de um ano, tivéssemos esse resultado", comenta. Além da Exposição Reflorescer, cinco obras das artistas foram selecionadas para o Coletivo Pink, mostra que contempla trabalhos do País inteiro e fica em cartaz até o dia 20 de outubro, em São Paulo.

Evolução

Legenda: Histórias retratadas por meio do bordado
Foto: Isanelle Nascimento

A aposentada Cláudia Queiroz, 69 anos, descobriu o câncer na mama esquerda em 2011, fez o esvaziamento de axilas e retirou o quadrante, mas optou por não fazer implante do seio. Ela é bem resolvida assim. "Amei fazer esse trabalho. Tenho muito o que agradecer a todas que integram o Amiga Entrelinhas e o Bordando Sonhos. Agora é bordar sempre. Só saio do projeto quando eu morrer. Estou muito feliz com o resultado. Cheguei a perder noites de sono, porque estava ansiosa. Nunca pensei que fosse ficar tão maravilhosa essa exposição", revela. Com a autoestima elevada, Cláudia está cheia de disposição para produzir.

A dona de casa Lindalva Coelho, 64 anos, enfrentou a luta em dois momentos, 2009 e 2016, devido à recidiva da doença. Após os dois tratamentos, passou pela reconstrução total da mama direita. "Graças a Deus agora está tudo controlado"

Lindalva não cabe em si de alegria por estar com seu trabalho na mostra. "

Achei muito interessante, nunca tinha bordado, e aqui está o resultado. Fiz questão de ressaltar na minha tela a cicatriz que, assim como a original, ficou bem discreta. Estou muito feliz com a experiência".

Legenda: Ao longo da produção dos trabalhos, a troca de experiências e os vínculos de amizades foram fundamentais no fortalecimento da auto-estima e da qualidade de vida das participantes
Foto: Isanelle Nascimento

A idealizadora dos projetos Amigas Entrelinhas e Bordando Sonhos, Célia Araújo, 68 anos, descobriu o nódulo em uma das mamas, em 2016. Por prevenção e pelo histórico familiar, ela optou por retirar as duas mamas e colocar prótese. Hoje, o seu principal objetivo é facilitar o dia a dia das mulheres que enfrentam problemas semelhantes e buscam ajuda no projeto. "

Estou feliz com o empenho do grupo na confecção dos bordados. Eu também fiz o meu desenho, com as mamas já reconstruídas".

https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/metro/cancer-diagnostico-precoce-e-autoestima-fortalecem-tratamento-1.2155943

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