Movimento Negro cearense repercute escolha da Miss Universo 2019

Discurso coerente e elegância impactante de Zozibini Tunzi, de 25 anos, renderam à candidata da África do Sul, uma mulher negra e de cabelo curto, o título de Miss Universo

Escrito por Zilda Queiroz , zilda.queiroz@svm.com.br
Legenda: Na disputa entre 90 misses, a candidata da África do Sul vence o Miss Universo e leva a 3ª coroa para seu país
Foto: Foto: AFP/Paras Griffin

A pepresentante da África do Sul, Zozibini Tunzi, 25, foi eleita Miss Universo 2019, na noite do último domingo (8), em Atlanta (EUA). Com o título, seu país celebra a terceira conquista na competição de beleza considerada a mais importante do planeta.

Antes da vitória conquistada por Zozibini, na 68ª edição do concurso, os dois primeiros reinados africanos foram ocupados por Demi-Leigh Nel-Peters (2017) e Margaret Gardiner no ano de1978. A ganhadora disputou com 90 candidatas e recebeu a coroa pelas mãos da filipina Catriona Gray, 25, Miss Universo 2018.

Além da beleza e elegância inquestionáveis de Zozibini Tunzi, a representante da África do Sul impactou os jurados com a coerência do seu discurso, ao ser indagada sobre qual seria sua principal atuação caso vencesse a disputa.

"Eu cresci em um mundo onde mulheres como eu, com a minha pele e meu cabelo, nunca foram consideradas bonitas. Ja chegou a hora de parar com isso. Eu quero que crianças olhem pra mim e vejam os seus rostos refletidos no meu", respondeu a Miss, com segurança e propriedade de quem vive na pele a discriminação racial.

Igualmente a Miss Universo 2019, que ressalta o propósito de evidenciar sua voz e ações como representantes da negritude, as cearenses dos movimentos negros do Ceará, Leda Silva e Daniele Silva reconhecem o título de Zozibini Tunzi como um reforço na luta pela inclusão dos negros no cenário nacional e mundial.

Para a coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado no Ceará, Leda Silva, o título concedido a uma negra é de fundamental importância na luta pelos direitos da raça, visto que o Brasil é extremamente racista.

"Nós do Movimento Negro entendemos que o Brasil tem um projeto de extermínio negro, passando pela escola, que não está preparada para ajudar as crianças e adolescentes a se aceitarem negros e a sociedade que nos ignora", avalia.

A coordenadora diz que a rejeição sofrida desde a infância é um dos principais fatores que leva, especialmente as meninas, cada vez mais jovens, a alisar o cabelo.

E isso não acontece porque as garotas, na grande maioria, se sintam feias pela cor da pele ou por terem fios afro. Para Leda, elas encontram no alisar do cabelo uma forma de se aproximar da branquitude e sofrer menos preconceito e exclusão social.

Portanto, ter uma representante da beleza negra eleita Miss Universo é de grande significado, sobretudo para as crianças e adolescente que estão no processo de reconhecimento e conscientização.

Legenda: O reinado de Zozibini Tunzi será marcado pela luta e valorização da beleza negra
Foto: Foto: AFP/Paras Griffin

"Essas meninas precisam entender que somos bonitas sendo negras com nosso cabelo do jeito que ele é. O caminho é longo, mas somos fortes, estamos na luta a todo momento e vejo a vitória e o discurso da africana como um ponto positivo para que nossa juventude se reconheça bela e capaz de defender seus propósitos em qualquer situação ou lugar do mundo", destaca.

Já a coordenadora Municipal do Movimento Negro Unificado, Daniele Silva, diz que o fato de uma mulher negra ter sido escolhida é um grande passo no processo de fortalecimento do movimento. Ou seja, a maneira como ela utilizará essa referência será consequência positiva do que já aconteceu.

"Percebemos o avanço, no caso da menina que viu a Maju e fez referência ao seu cabelo e teve grande repercussão na mídia. Isso é mais um passo na luta, mas em termos de reparação, ainda temos muitas batalhas pela frente", revela Daniele.

Assuntos Relacionados