Menina de 9 anos anima o Carnaval de Fortaleza cantando Raul Seixas

Com tão pouca idade, a estudante fortalezense Maria Flor Caminha - que interpretou "Gita", clássico de Raul Seixas, no Pré-Carnaval do Benfica - dialoga com o Verso sobre detalhes do cotidiano e os novos passos à frente na música

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: O repertório de Raul Seixas entrou na história da menina durante a participação em um musical
Foto: Foto: Fabiane de Paula

Fazia um tremendo calor na Praça da Gentilândia, epicentro afetivo do Benfica. Era o meio da tarde e uma gama de sons deixava o público em êxtase, movimentando braços, pernas, cabeça. Muitas gingas em belo compasso. Mas, de repente, o burburinho parou por alguns instantes. Foi quando apareceu, no fundo do palco, uma menina de nove anos que, com inspirado vocal, cantou "Gita", clássico entoado por Raul Seixas, escrito por ele e Paulo Coelho.

Legenda: Convite do Bloco Como Raul Já Dizia permitiu que a menina apresentasse seu talento
Foto: Foto: Arquivo Pessoal

Era Maria Flor Caminha Medeiros, estudante de Fortaleza que, desde a apresentação no Pré-Carnaval da cidade, no domingo (9), teve a rotina mudada por conta do carinho que recebeu presencialmente e pelas redes sociais devido à performance.

"Muitas pessoas pediram para tirar foto, me abraçar, dar autógrafo, essas coisas. E o telefone da minha mãe não parou de tocar, são muitas mensagens e eu só tenho a agradecer", diz.

Tanto que, agora, já conhecida do público de Fortaleza, ela criou um instagram próprio para divulgar o trabalho (@cantamariaflor) e tem sido convidada para estar em mais praças ecoando seu talento.

Nos próximos dias, participará de programas televisivos e radiofônicos locais e, no Carnaval, está com presença confirmada sábado (22), no bloco Hospício Cultural, no Benfica, ao meio dia. Na terça (25), animará o Bloco As Gata Pira, no fim da tarde, com a Banda Bode Beat, a convite de Nayra Costa, na Praça dos Leões. Alguém duvida do quão longe a menina vai?

Legenda: Antes de conquistar o público no Benfica, Maria Flor já tinha aulas de canto
Foto: Foto: Fabiane de Paula

Parceria

Maria Flor foi à folia do Benfica a convite do Bloco Como Raul Já Dizia, uma das atrações da festa no bairro naquele dia. Músico cearense e idealizador do grupo, Zéis conta que a proposta de incluir a menina como uma das intérpretes surgiu a partir do contato com a mãe dela, Georgette Caminha, produtora cultural.

"Mandei um convite de um evento do bloco, ela viu, e me enviou vídeos da Maria se apresentando na escola de música, cantando músicas do Raul. Perguntou se rolava de ela participar, eu achei massa a ideia e deu certo", conta.

Legenda: Muito do gosto musical apurado de Maria Flor é fruto da influência da mãe, a produtora cultural Georgette Caminha
Foto: Foto: Fabiane de Paula

O espetáculo no qual a menina já havia interpretado algumas canções de Seixas foi "O início, o fim e o meio", da escola BSB Musical, onde participa há algum tempo. "Tive que estudar para ele (o musical) e foi ali que comecei a me apaixonar pelo Raul", confessa Maria.

Além dessa apresentação, esteve presente no palco do Hard Rock Café e do Teatro São José. "Eu quero ser cantora e aprender algum instrumento, que seria o violão, porque já tenho um. Mas também me interesso por outras coisas", avisa a garota.

Legenda: Além do canto, Maria Flor almeja aprender a tocar violão
Foto: Foto: Fabiane de Paula

A vocação, segundo ela, surgiu muito cedo. Cantar, para Maria, é sinônimo de bem-estar. "Eu cantava no banho e o pessoal sempre falou que eu fazia isso muito bem. Daí pedi pra minha mãe me colocar numa aula de canto e percebi que era isso mesmo que eu queria", diz.

Os saberes no ramo são compartilhados ainda com a dinâmica escolar - ela faz o quarto ano do Ensino Fundamental - e vêm de uma porção de referências, indo de nomes veteranos na Música Popular Brasileira, caso de Alceu Valença, até outros mais recentes, como Academia da Berlinda, Melim e Vitor Kley.

"Sou muito diversificada. Gosto de rock, pop, MPB? E amo o clima de Carnaval. Acho, inclusive, que dá pra gente cantar Raul Seixas ou pop durante esse período, adaptando para um jeito mais animado", comenta.

Legenda: A paixão pelas Artes Plásticas também é parte da rotina de Maria Flor
Foto: Foto: Fabiane de Paula

Os demais interesses da menina são a leitura, desenho, artesanato e as artes plásticas. Neste momento, Maria Flor está se aprofundando mais em pintura com aquarela, criando imagens que expressem aquilo que mais traz no peito: o gosto por esse tempo de agora, tão cheio de novidades e ternura.

A mãe lembra que "sempre teve essa filosofia de valorizar a cultura e a arte em casa e, por isso, apoiamos o que ela gosta de fazer, seja na música ou junto aos desenhos. A arte traz um ensinamento que não é técnico nem decorado, é uma vivência mesmo. É como a Maria diz: quando ela canta, se sente feliz, tranquila, plena. Esse contato artístico traz muito isso para a vida das pessoas. É transformador".

Legenda: Diretor da BSB Musical Fortaleza, Rafael Medeiros acredita que a educação musical na infância promove pluralidade de benefícios
Foto: Foto: Fabiane de Paula

Estímulo

Em semelhante movimento, Rilvas Silva, professor de canto da pequena, também acredita que, sim, a imersão de Maria Flor na cultura é semente para que ela cresça e encante.

"Ela já vem com muitas referências para a sala de aula, muito em parte devido ao trabalho da mãe, que a apresenta a várias coisas. Mas sempre deixo à vontade em relação ao repertório porque acho que ela tem que passar por isso mesmo para ter uma identidade musical. Precisa escutar canções que são para pessoas da idade dela ouvir e outras, digamos, mais elaboradas, com mais 'sustância'".

Legenda: A vivência com o professor Rilvas Silva aprofunda saberes na música
Foto: Foto: Fabiane de Paula

Rafael Medeiros, diretor da BSB Musical Fortaleza, reflete o porquê de ser tão importante as crianças terem um convívio desde cedo nessa área. "Auto-disciplina, sensibilidade, memorização, concentração e, claro, bem-estar, são questões reforçadas a partir desse contato", enumera.

"A socialização da criança, contudo, talvez seja o ponto mais importante, para que ela entenda que está fazendo parte de uma prática de conjunto, onde tem que respeitar o próximo", reitera.

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