Marcas cearenses trabalham acessórios em linhas com cores e formas geométricas

Apostando nas cores vivas e texturas delicadas, marcas comandadas por mulheres criam acessórios únicos em brincos, colares e anéis

Escrito por Mylena Gadelha , mylena.gadelha@svm.com.br
Legenda: Na Menah, as peças possuem linhas e cordas de algodão trabalhadas em formas irregulares

Investir em materiais para criar acessórios além do ouro ou da prata tem sido cada vez mais comum para marcas autorais cearenses. Nessa pegada, a inclusão de algo simples, como a linha, no processo de confecção de peças como brincos, colares e anéis é a aposta de uma vertente na busca pela valorização do artesanato local.

Muitas vezes utilizada para costura ou reparo de produtos do vestuário comum, essas linhas têm ganhado nova roupagem nas mãos de artesãs como Meiriane Nascimento, Bárbara Ribeiro e Bethânia Maranhão.

Elas são comandantes das marcas Menah, Bethânia Maranhão, que utiliza o próprio nome no mercado, e Nuances, respectivamente, que fazem trabalhos manuais com a matéria-prima de forma diferenciada.

Do moderno ao delicado, os acessórios podem ser os responsáveis pela inclusão de cores vibrantes em looks despojados e para várias ocasiões.

Buscando o novo

Na Menah, tudo começou com a habilidade adquirida por Meiriane ainda na infância. Das tardes em casa vendo as tias coordenando as agulhas do crochê, ela partiu para as bijuterias, comprando peças pequenas no Centro da cidade, até chegar ao curso de estilismo e moda.

Por lá, ganhou conhecimento técnico na área e conseguiu criar os primeiros contornos do ramo no qual seguiria pelos próximos anos. Diante de um mercado complicado, ela resolveu optar pelos materiais do artesanato como uma forma de reviver a história guardada no período dos primeiros anos com a família.

Legenda: Na Nuances, linhas formam pequenos círculos misturando cores de paletas diferentes, mas ainda em harmonia
Foto: Foto: divulgação

"A linha de algodão é o principal nas minhas composições. Inclusive, a ideia da Menah é justamente esta: transformar algo simples em um design bem trabalhado e fazer a diferença em uma peça de vestuário, por exemplo", explica inicialmente sobre a essência dos desenvolvimentos assinados por ela.

Na brincadeira das formas, ela conta se inspirar na modernidade e em detalhes mais livres. Além disso, também tem buscado experimentar. "Atualmente, eu utilizo tanto a linha como a corda de algodão que estão dentro da peça e dão esse formato mais estruturado, por exemplo. Faço brincos, colares, pulseiras. No meio disso têm os objetos de decoração também. O bom dela é ter essa versatilidade de poder criar muita coisa", opina.

Com todo cuidado requerido em trabalhos manuais, Meiriane conta ter o auxílio da irmã, Meirilande, para dar conta dos pedidos recebidos por meio da Menah.

"Produzir é algo integralmente feito por mim e conto com essa ajuda dela. Essa parceria, inclusive, veio em um momento crucial justamente por conta do aumento no número de vendas", diz. Com a prática, ela conta, cerca de uma hora e meia é necessária para finalizar um componente vendido pela Menah.

Natureza

Foco no mesmo material, mas com abordagem diferente foi a escolha de Bárbara, na Nuances. Para ir além da utilização da linha como carro-chefe, ela fez pesquisas e também incorporou o próprio estilo de vida na área de artesã. Em termos de design, trabalha as sobreposições de pequenos círculos coloridos gerando formas não-lineares se formando juntas em peças com um visual complexo.

"Trabalhar com linha é uma forma de brincar com as cores e oferecer ao público esses produtos antialérgicos e livres de matéria-prima de origem animal", comenta ao abordar a proposta vegana dentro da posição da marca.

Legenda: Bethânia produz peças em formatos de pequenos pingentes com linhas delicadas
Foto: Foto: divulgação

Sem estimar quanto tempo leva para cada uma das peças, ela comenta acreditar em uma produção completamente intuitiva, na qual o principal é trazer a individualidade dos tons e colorir as olheiras e pescoços que "acolhem" o material dela.

Exatamente por isso, Bárbara faz questão de ressaltar a importância de valorizar algo tão pessoal. "O fator 'genuinidade' é fundamental para assegurar boas vendas no setor artesanal, quando somada ao estímulo à criação artesanal, o artesanato pode sim ser considerado fonte sólida de renda. O artesanato é para estar nas ruas, nos espaços públicos, pontos turístico", finaliza.

Retorno

Assim como na história das outras duas, a infância de Bethânia já dava indícios de se entrelaçar, ainda que futuramente, com a arte.

"Aprendi a bordar com 13 anos na escola quando ainda morava lá no Maranhão. Depois ainda bordei enxoval dos meus filhos, mas simplesmente parei", relata. O amor pelos momentos desprendidos entre agulhas e bastidores só retornou após um curso feito em Fortaleza.

Hoje, Bethânia é referência na produção de pingentes para colares com as características básicas do artesanato. No Instagram, compartilha as peças com características de nostalgia e que transparecem a delicadeza ideal para looks mais românticos.

"Eu comecei a bordar quadros em pequenos formatos e fui diminuindo até esse material de hoje. Procuro utilizar a linha mais fina, por causa do tamanho, e sempre vejo uma essência especial em cada uma delas".

Enquanto isso, é justamente nessa vontade de trazer algo singular para cada cliente em que as três encontram ponto de convergência e entregam peças com design aparentemente simples, mas rico em detalhes.