Maísa faz primeira antagonista no cinema em "Ela Disse, Ele Disse", que estreia nesta quinta (10)

Longa é adaptação do livro de Thalita Rebouças

Escrito por Carolina Feijó , Folhapress
Legenda: A apresentadora Fernanda Gentil estreia como atriz no filme adolescente; Maisa é a antagonista do filme

Primeiro amor, bullying, muitos beijos e lições de empatia e amizade. A nova trama adolescente de Cláudia Castro, baseada no livro homônimo "Ela Disse, Ele Disse", de Thalita Rebouças, 44, já está nos cinemas. Com elenco de peso, o romance conta as experiências de Léo (Marcus Bessa) e Rosa (Duda Matte) em uma nova escola.

Mas "Ela Disse, Ele Disse" pretende ir além do convencional drama adolescente. Com mulheres em praticamente todos os papéis de destaque e com dois beijos gays, o longa é necessário para os dias de hoje, segundo a escritora e roteirista Thalita Rebouças. "É um filme sobre primeiro amor, adolescência, mas é muito sobre empatia e estamos precisando falar sobre isso esses dias".

Maísa Silva, 17, vive a primeira antagonista de sua carreira. A patricinha Júlia disputa a atenção de Léo com a novata Rosa, e estimula essa competição intimidando a personagem de Duda Matte. A atriz afirma que demorou a compreender uma personagem com uma personalidade tão oposta à sua, mas diz que o desafio de dar voz ao diferente a levou a entender a história de Júlia, que é sobre amadurecimento e aprendizagem.

"No começo eu pensava que não concordaria em nada com o que a Júlia fala. Em tempos em que uso minha voz para falar sobre sororidade, empatia e empoderamento, a Júlia vai contra tudo aquilo que eu prego como Maísa. Ao mesmo tempo, é muito importante separar o meu trabalho dos meus valores pessoais, porque faz parte de ser atriz".

Para a atriz e apresentadora, o cinema nacional tem muito a oferecer neste gênero de filmes adolescentes: "Cresci com filmes de high school americano, e hoje em dia até eles já estão meio saturados. Acho que, primeiramente, fazer uma versão brasileira é ter a garantia de que não vai ser igual ao deles. Apesar de estarmos falando sobre o ensino médio, fundamental, a nossa maneira de falar sobre isso é muito diferente", acrescentou.

O livro de Thalita Rebouças é de 2010 e o principal desafio de adaptação para as telonas foi a inclusão dos aparelhos digitais e redes sociais. "A essência da história não muda. O que muda é que na época não tinham redes sociais nem vídeo que viralizava, porque não tinha celular direito. Mas foi muito tranquilo fazer essa transição para os dias de hoje".

Para construir um retrato fiel da vida adolescente de hoje, a intensa conexão digital não pode ficar de fora. Com um elenco em que grande parte dos atores está na faixa etária de 14 a 20 anos, a influência da vida em rede marca presença dentro e fora das câmeras. "A internet está o tempo inteiro com a gente, no trabalho, na vida social. É interessante como o elenco jovem consegue sair do mundo online e vir para o profissional, eles não pecam em nada", afirma a diretora, Cláudia Castro.

O elenco principal conta ainda com nomes como Fernanda Gentil, 32, Bianca Andrade, 24, e Matheus Lustosa, 17. Para filmar com o núcleo jovem do longa, foi preciso conciliar as gravações com os horários das aulas.

Diversidade

Recentemente, a exclusão de uma cena do filme "Minha Mãe é uma Peça 3" gerou polêmica e mobilização entre internautas. A decisão de Paulo Gustavo, roteirista e protagonista do longa, de não incluir um beijo gay entre os personagens Juliano (Rodrigo Pandolfo) e Thiago (Lucas Cordeiro) para selar a união do casal foi amplamente criticada.

O próprio intérprete de Dona Hermínia é homossexual, casado e pai de dois meninos gêmeos. Outra situação marcante envolvendo o beijo entre dois homens aconteceu ainda este mês, na Bienal do Livro no Rio de Janeiro. O prefeito da cidade, Marcelo Crivella (PRB), anunciou a apreensão de uma obra de quadrinhos com uma cena de beijo gay.

Um dos momentos mais esperados de "Ela Disse, Ele Disse" é o da corrente do beijo, presente também no livro de Thalita Rebouças. Em meio às polêmicas envolvendo o assunto, o filme conta não com um, mas dois beijos entre pessoas do mesmo sexo.

"Estava na Bienal e acho que o momento não poderia ser mais propício. Se a gente pode passar tantas mensagens bacanas, porque não a de que a diversidade é extremamente bem-vinda?", afirma Thalita.

Bianca Andrade, que ficou surpresa com a inclusão da cena, não poupou elogios: "Tenho ainda mais orgulho de estar no filme".

Além disso, a diversidade está presente até mesmo na constituição da equipe. O gênero feminino dominou os sets de filmagem do longa: diretora, produtora, roteirista e atrizes principais são todas mulheres. A produtora Paula Barreto conta que a escolha da equipe não foi ao acaso: "Isso foi de propósito. Foi um combinado dar os cargos de chefia para as mulheres", reforça.

Outro destaque no enredo é a da relação dos dois protagonistas com o desenvolvimento do corpo feminino. Algo comum entre jovens, a percepção da mudança do corpo infantil para o adulto foi tratada, segundo Castro, "sem nenhum apelo sexual". Ao cruzarem com a personagem de Maísa, o primeiro pensamento tanto de Léo, quanto de Rosa, é a respeito dos seios da menina.

"Os peitos são personagens. A gente não lida com eles de uma maneira apelativa em nenhum momento. É sobre a insegurança do jovem e do adolescente, algo que todos nós vivemos. Nosso filme é um arquétipo do que acontece em todos os lugares do mundo", explicou.

Para Maísa, a cena aconteceu de forma muito natural. Uma das conversas que a atriz teve com a roteirista durante a preparação foi de que não queria ter seu corpo sexualizado e, para ela, o resultado ficou muito real.

"Na verdade, a coisa da Júlia é que ela é confiante com o corpo e eu acho que isso chama atenção em qualquer pessoa. Acho que colocar essa confiança na personagem me ajudou de certa maneira a me aceitar também. Foi uma maneira positiva de lidar com meu próprio corpo", compartilhou a atriz.