Lançamentos de Eletrocactus e Thrunda celebram diferentes sons do Ceará

A primeira banda é devota da música regional, a outra preza pela crueza do punk rock. Novos trabalhos pesquisam e desbravam a sonoridade dos últimos 30 anos no Nordeste

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@diariodonordeste.com.br
Legenda: Eletrocactus: Experiência e pesquisa em torno da raízes da MPB
Foto: JOSÉ ROSAS

Dois universos sonoros díspares em sintonia com a produção do Nordeste. Donos de bagagem própria nos palcos do Ceará, dois grupos de Fortaleza lançam álbuns marcados pelo resgate, pesquisa e autonomia nos repertórios. Com "O Mar Acatou", a Eletrocactus de Roberto César, Gleuci Rocha (ambos voz e percussão), Gledson Rocha (guitarra), Wesdley Vasconcelos (contrabaixo), Danilo Gurgel (teclado e sanfona) e Miguel Ângelo (bateria) reafirmam a histórica dedicação da banda pela cultura popular.

Já a Thrunda de Rodrigo Monte (voz e baixo), Otavio Medeiros (guitarra) e Dhouglas Do Vale (bateria) supera o drama da perda de um integrante com o registro de covers "Não é Que Eu Vou Fazer Igual, Eu Vou Fazer Pior". O trio punk homenageia três décadas de rock produzido no Ceará.

Legenda: Embrião do disco da Thrunda nasceu logo após a turnê MOVA-CE, de 2012
Foto: GANDHI GUIMARÃES

No segundo álbum de composições inéditas, o sexteto difunde a identidade nordestina a partir do diálogo entre música regional, brasileira e novas tecnologias. Se "O Dia em que a Fome Morreu de Sede" (2010), reuniu obras criadas desde a concepção da banda, "O Mar Acatou" recorta o momento individual de cada integrante. Disponível para download gratuito no site do grupo, boa parte das canções foi tocada em festivais do Ceará.

"Todo Cearense Fala Cantando" sagrou-se campeã do Festival de Música da Rádio Universitária FM, "Eu Sou o Sol" e "Perainda" foram agraciadas com participação no concorrido Festival de Inverno da Serra da Meruoca.

"O Mar Acatou" foi gravado e mixado no estúdio Magnolia Produções, sob a direção técnica de Lucas Guterres, masterizado no estúdio Sage Audio, que fica em Nashville (EUA), por Steve Corrao, e contou com patrocínio do Banco do Nordeste. O disco ainda conta com a parceria de Marcelo di Holanda, voz em "Perainda". O disco contribui para a difusão da cultura cearense, arranca debates sobre valores, crenças, costumes, bens naturais e imateriais. Isso tudo sem deixar de olhar para as tendências do mundão lá fora.

Renascimento

Logo após as comemorações dos 15 anos de atividade, a Thrunda (e a cena rocker brasileira) perdeu o amigo e baterista Hermes "Capone", morto em abril de 2018. É nesse contexto de resistência que o trio (agora com Do Vale no barco) busca colocar o time de volta aos trilhos.

Para tanto foi preciso celebrar e repensar três décadas de música autoral feita na "Terra do Sol". Excetuando os baianos da Pastel de Miolos (lembrados por "Ted, Skate & Hardcore"), todo o conjunto de 11 faixas é dedicado a bandas de diferentes gerações da cidade. Vai do metal ao hard rock. É gritado em inglês e nas gírias da periferia.

O material inclui a leitura nervosa da lenda Obskure ("Factoring Sarcasm", com participação especial de Haru Cage nos vocais). "Dry Law" (da extinta Full Time Rockers) "Maria" (Benihana) e a clássica "Leste Oeste", da Deturbação marcam território.

O resgate histórico prossegue com as inclusões no repertório de crias da Jumenta Parida ("Caipora"), Infame ("Humanos Crucificados") e Mercado Negro ("Sangue e Poeira"). Dessas, apenas a Infame, presente na cena nos anos 2000, ensaia um retorno aos palcos.

O trio ilumina "Stoned", da Glauco King & The West Wolves e "Homem Máquina", da The Good Garden. Bandas bem próximas da recente estrada da Thrunda. Hino do Brasil atual, "Amanhã vai ser pior", do Facada, completa aquilo que Rodrigo, Otavio e Do Vale preferem chamar de "um disco de versões de grandes bandas do underground nordestino".

As iniciativas de Eletrocactus e Thrunda se baseiam na coragem de desbravar o Ceará. Conseguem ter fibra e motivar os próximos a percorrer a música local. Daqui.

Foto: divulgação

"Não é que eu vou fazer igual, eu vou fazer pior"
Thrunda
2019, 11 faixas
www.brechodiscos.bandcamp.com

Foto: DIVULGAÇÃO

"O Mar Acatou"
Eletrocactus
2019, 7 faixas
www.eletrocactus.com

Outros lançamentos

Foto: divulgação

Quando deixamos nossos beijos na esquina

Vanessa da Mata

O feliz desafio do sétimo disco de estúdio da cantora foi optar pelo controle total da produção. A Matogrossense acerta a mão ao iluminar pop, romântico e elementos diretos do samba, candomblé e reggae. Mata entrega um disco sólido, dançante e cheio de vida própria. 

Vdm
2019, 11 faixas
bit.ly/vmbeijos

Foto: Divulgação

Margem

Adriana Calcanhoto

É o fim da trilogia dedicada ao “mar”. Ao se perder pelas estranhezas e poesias dos oceanos, Calcanhoto se permite investir em loops, arranjos de cordas e outras delicadezas que emocionam. A canção título, além de crias como “Tua”, “Lá lá lá” e “O Príncipe das Marés” são peças delicadas de um álbum reflexivo. 

Sony
2019, 9 faixas
bit.ly/acmargem

Foto: Divulgação

Electra

Alice Caymmi

Foram precisos dois dias de gravação. A carioca corre no fio da navalha e interpreta na única companhia de um piano. Soturna, doída se agarra a Walter Franco, Fagner, Maísa e Amália Rodrigues para montar uma obra distinta na carreira iniciada em 2012. Alice arrisca e segue livre. 

Joia Moderna
2019, 10 faixas
bit.ly/ALice

Foto: Divulgação

Tudo é um

Zélia Duncan

O 15º álbum solo de Duncan é tratado como o reencontro da artista com suas origens folk. O conjunto de canções é sóbrio, pouco dado a arranjos supérfluos. Depois de irradiar sambas no último trabalho, é interessante o recado urbano de faixas como “O que mereço”e “Só pra lembrar”. 

Biscoito Fino
2019, 11 faixas
zeliaduncan.com.br

 

 

 

 

 

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