João Carlos Martins, Ricardo Bacelar e Lia Veras realizam concerto inédito na Tapera das Artes

O encontro acontece hoje (16), pelo Encontro Mestre & Aprendiz, em Aquiraz (CE). O projeto envolve os alunos da formação musical e traz o tema "Orquestrando Emoções" nesta edição

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@svm.com.br
Legenda: João Carlos Martins chega aos 80 anos, em 2020, e já passou por 24 cirurgias para se manter na música
Foto: Foto: Fernando Mucci

O palco costuma ser uma referência "quase" irresistível para os músicos. Objetivo de 9 entre 10 pessoas que se dedicam à linguagem, a apresentação artística integra o sonho de quem se expressa e também do público. No entanto, o processo até chegar a esse ponto exige disciplina e disposição ao aprendizado. E, sem o mesmo "glamour" da exposição nos palcos, a dinâmica da educação musical transforma a vida de professores e alunos, além de possibilitar encontros peculiares.

Nessa direção, o veterano maestro João Carlos Martins (SP), o pianista e compositor cearense Ricardo Bacelar e a cantora Lia Veras (CE) participam, nesta semana, do Encontro Mestre & Aprendiz, projeto da ONG Tapera das Artes em Aquiraz (CE), com o tema "Orquestrando Emoções". Esta é a quarta edição do projeto que possibilita o diálogo entre mestres consagrados da música instrumental brasileira e aprendizes. Hoje (16), às 17h, os três convidados se apresentam no Teatro da Tapera. O acesso é gratuito.

Antes, porém, na quarta-feira (15), às 10h, João Carlos encontrou os alunos do projeto de educação musical da Tapera, dirigidos pelo professor Ênio Antunes, também em Aquiraz. Cerca de 200 estudantes poderão interagir com o maestro paulista. Segundo ele, hoje regente da Orquestra Bachiana Filarmônica do Sesi-SP, existem "quatro departamentos" no que diz respeito à formação musical.

Primeiro, você tem aqueles que poderão fazer parte de um público no futuro. Segundo, os que poderão ter a música como hobby. Terceiro, os profissionais ou amadores, semiprofissionais. E, finalmente, os 'diamantes' a serem lapidados", destaca.

De milhares de crianças e jovens com quem já lidou durante sua longa estrada pela difusão da música clássica, João Carlos revela que encontrou "uns 10" diamantes. "E desses, você tem que cuidar, ter contato com a família e professores, e administrar. Mas é importante dar atenção aos quatro grupos", pondera ele.

Conhecido por uma história de superação familiar para poder tocar piano, o maestro tem usado luvas biônicas a fim de dedilhar todos os dedos no instrumento. Seu pai desistiu do sonho de ser músico por conta de uma mutilação na mão. E ele mesmo teve uma série de acidentes no membro superior, repetindo, em parte, a história do pai.

"Realizei 24 operações na minha vida, para manter o sonho. E hoje brinco com essa luva, já toquei alguma coisa bonitinha até. Se vou recuperar com isso a velocidade que eu tinha, não vai ser possível. Mas me dá prazer, aos 80 anos, começar a estudar de novo", reflete João.

Coração

Em fase de retrospectiva da carreira, o maestro conta que ainda nutre sonhos e, para deixar um legado à posteridade, pretende percorrer o território brasileiro em um trajeto no formato de coração. O percurso seria feito com sua orquestra e finalizaria um ciclo de vida.

"Villa-Lobos fez algo parecido em 1931, quando ele percorreu 101 cidades em São Paulo, Paraná e Minas Gerais. Tive uma parte da minha vida como pianista, percorri dezenas de países, foi fantástico. Sinto-me gratificado agora na regência, com os cursos de musicalização que faço, mas chegou a hora de tentar deixar um legado", vislumbra.

Inédito

O encontro de João Carlos, Ricardo Bacelar e Lia Veras, no palco, é inédito. A cantora estuda piano popular e se dedica à pesquisa do repertório de compositores da MPB, como Chico Buarque, Tom Jobim, Luiz Gonzaga, Belchior e Dominguinhos. Formada em Música pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), Lia reúne larga experiência no canto, dentre a formação de corais e outros projetos.

Legenda: Ricardo Bacelar prepara seu quarto álbum solo. O trabalho se encontra em fase de composição
Foto: Foto: Fernando Travessoni

Ricardo Bacelar, por sua vez, recorda que já conhecia o maestro João Carlos por amizade. "Ele já almoçou na minha casa. Nos encontramos outras vezes, em Nova York inclusive, no Carnegie Hall (onde o maestro se apresentou pela primeira vez aos 21 anos). Ele é uma pessoa especial e tem um amor muito grande pela música. Sua força de vontade é impressionante", elogia o cearense.

O músico, que viveu o cenário do rock nos anos 1980, como tecladista do Hanoi Hanoi, agora prepara seu quarto álbum solo. O anterior, "Sebastiana", passeou por ritmos tradicionais da América Latina e investiu na fusão entre a linguagem popular e o erudito. O novo trabalho se encontra em fase de composição.

"Estou compondo e montando um estúdio pra mim. Focado nisso. A fase de composição, de criação, é muito satisfatória. Mas ainda é cedo para dizer algo sobre conceito. O disco vai tomando forma, a gente segue moldando", detalha Bacelar.

Sobre o Encontro Mestre & Aprendiz, o músico ressalta o impacto do projeto para o município de Aquiraz e considera a música como um item fundamental na educação de qualquer pessoa.

"A formação faz os dois lados do cérebro trabalharem, o lógico e o criativo. Essa questão neurológica já foi estudada e provada, é importantíssima para a educação das crianças. E abre porta para todos os lados: socialização, confiança, autoestima", observa Bacelar.

Serviço
Encontro Mestre & Aprendiz

Concerto "Orquestrando Emoções", com João Carlos Martins (SP), Ricardo Bacelar (CE) e Lia Veras (CE). Nesta quinta (16), às 17h, no Teatro Tapera das Artes (Rua Antônio Gomes dos Santos, S/N, Centro, Aquiraz). Acesso gratuito. Contato: (85) 3361.2704

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