II Mostra Sistema Aberto é inaugurada nesta quarta (12) como um espaço para a experimentação na arte

A exposição utiliza as plataformas da fotografia, da videoarte e da performance para discutir a importância dos formatos e dos conteúdos

Escrito por Redação ,
Legenda: "Et lisa rediviva", fotografia do libanês Oliver Aoun, radicado na França
Foto: Oliver Aoun

Performance. Vídeo. Fotografia. São muitas as formas nas quais a arte contemporânea se sustenta de modo a transmitir algo. Um tema. Um sentimento. Uma ideia. Com foco na importância da relação entre o suporte utilizado e o conteúdo do trabalho, a II Mostra Sistema Aberto será inaugurada nesta quarta-feira (12), na Galeria Sem Título Arte. Parceria entre o espaço e o Coletivo WE, formado por Eduardo Bruno e Waldírio Castro, a exposição se funda na intenção de pensar o movimento do corpo em suas infinitas possibilidades, além de propor o exercício da experimentação estética e política de artistas da cena contemporânea.

De acordo com Eduardo, participante do coletivo, artista e curador, o evento volta o pensamento para novas produções no campo da arte, não somente no que diz respeito a modos alternativos de materialidade e linguagem, mas compreendendo que forma e conteúdo são absorvidos como um único objeto.

"Propomos uma arte que pensa outros corpos, outros modos de pensar a sexualidade, o gênero, a racialização, o processo de formação dos povos negros e indígenas, a questão da mulher, do feminino. Todas essas minorizações históricas que não fizeram parte do que é entendido como História da Arte", salienta.

Dentre as 49 inscrições recebidas por convocatória, foram selecionadas 10 obras para serem expostas, sendo estas produzidas por artistas nacionais e internacionais. Para materializá-las, o curador afirma que foram escolhidas plataformas visuais de fácil acesso em um encontro de interesses de pesquisa dos organizadores com a possibilidade real e financeira de executar um evento completamente independente.

A forma da arte

A partir do recorte de linguagem, a mostra foi criada com foco na relação entre o que as pessoas estavam pensando e produzindo como arte contemporânea, seja na Capital cearense, no interior do Estado ou no resto do mundo.

"Tentamos compor esse visual para que, quando o visitante entre, ele possa compreender uma dramaturgia, um diálogo. Estamos propondo uma visão por meio de várias visões, percebendo esses intercâmbios e encontros e observando onde essa rede cria pontos de intersecção", complementa Eduardo.

Isadora Ravena é uma das artistas que participam da noite de abertura com o trabalho "Perigosa Boneca e Seus Sujos Golpes". Com som de Urutau, a performance se baseia na leitura ativa de textos escritos por Isadora em disforia, um estado melancólico gerado no defronte às construções hegemônicas do gênero.

"Enquanto leio, ativo em meu corpo memórias da minha transição de gênero, da minha invenção de um corpo-travesti-bomba. Colo a esses textos trechos de autores transgêneros e travestis da América Latina e, entre um trecho e outro, aplico em mim diferentes composições de estradiol", explica. A colagem dos textos foi feita pela própria, com auxílio de Lucas Dilacerda.

O plano de fundo político, com a proposta de fomentar o diálogo e uma sociedade mais plural, também está presente na performance "Lugar de Fala", de Rhamon Matarazzo. A obra questiona a setorização das pessoas em categorias na sociedade, ao invés de promover ajuda mútua.

Na situação de um indivíduo soropositivo, o artista se propõe a deixar que o público interaja com o corpo como mural. "Eu utilizo meu próprio sangue contaminado, apesar de estar em tratamento, e entrego ele às pessoas, com toda a proteção necessária, para que elas possam falar dos próprios problemas no meu corpo", elucida.

Em um espaço de estudo, troca e investigação, a escolha do suporte por ambos é uma influência direta da maneira como querem se expressar. "É um campo possível de invenção de vida. É tornar o meu anseio imaginativo em experiência coletiva. É redistribuir minha disforia. É rasgar em público meu corpo para inventar um novo corpo. Em Performance, preciso morrer. Morrendo, germino!", explica Isadora Ravena.

Serviço

Abertura da II Mostra Sistema Aberto

Hoje (12), às 18h, na Sem Título Arte (Rua João Carvalho, 66, Aldeota)

Gratuito

Mais informações: 99668.8009