Gusttavo Lima estreita laços com o Ceará em 2019 e quer firmar parceria com artistas locais

O sertanejo realizou mais de 10 shows no Ceará em 2019, incluindo a gravação do DVD "Embaixador In Cariri", em julho no Crato

Escrito por João Lima Neto* ,

O sertanejo Gusttavo Lima superou a ausência do mercado musical no Nordeste neste ano. O Ceará foi escolhido por ele para sediar boa parte da agenda de apresentações, além de ser cenário do primeiro produto audiovisual na região - o "Embaixador In Cariri". A relação com o Estado foi tanta que a Câmara Municipal de Crato aprovou o título de cidadão do município para o sertanejo.

Com o sentimento de ter renovado a música, por meio da bachata, gênero originado da República Dominicana, Gusttavo Lima agora quer firmar parceria com nomes locais, a exemplo do cearense Wesley Safadão, com quem já estão sendo negociados show juntos.

Você imaginou que chegaria tão longe na música?

Era uma incógnita. A gente nem sempre sabe aonde vai chegar. Temos um propósito e uma meta para alcançar. Jamais imaginaria que pudesse chegar a esse patamar. Isso é muito por conta do público em 10 anos de sucesso, desde o lançamento do primeiro CD, com minhas composições como "Refém" e "Rosas, Versos e Vinhos". Até então era uma promessa. Não tinha aquela meta. Tudo aconteceu muito rápido.

O que motivou a trazer a bachata na sua música?

A mesmice do sertanejo. O gênero teve dois grandes pontos altos. Em 1990, com Chitãozinho e Chororó, Zezé de Camargo e Luciano, Leandro e o Leonardo. Bruno e Marrone nos anos 2000. Até então, a música sertaneja era mais sofrida. O que ganhava as pessoas eram os arranjos e melodias fortes. De 2004 para cá, o sertanejo mudou. Tem nova cara, uma nova vertente. Edson e Hudson, em 2004, começaram a popularizar o sertanejo universitário. Aí vêm Cesar Menotti e Fabiano, Victor e Léo e Jorge e Mateus. Nós ficamos 13 anos fazendo, praticamente, os mesmos arranjos e melodias. As mesmas viradas de bateria e sanfona. Parece que só tirava um artista e colocava outro para cantar. Ali, entre 2000 e 2010, teve o 'arrocha', e todo mundo fez aquele estilo. O sertanejo voltou a ser o que era. Nesses 13 anos, eu necessitava vir com algo diferente.

O que difere a bachata de outros gêneros da atualidade?

Uma grande saída para fazer algo diferente. A bachata tem que ser uma letra bem romântica. E tão melancólica e sofrida. Essa foi a forma de a gente dar uma saída do mercado. Fazer diferente, conseguindo enxergar uma nova linguagem do Gusttavo Lima. Não tem bateria. Não tem sanfona. Não tem os elementos do sertanejo. Praticamente, se criou um novo estilo em cima das guitarras, em cima das melodias. Todas as músicas que a gente lança, o começo é de um jeito diferente do meio. O solo do começo é um, o solo do fim é outro. A música não tem métrica. A bachata te dá uma infinidade de coisas para fazer dentro do estilo, como colocar trompete e trombone. Modernizou e deu uma nova cara.

A bachata é a mais nova fase do gênero sertanejo?

Talvez para outros não, mas para Gusttavo, sim. Eu acredito que está mais do que provado para todo mundo que conseguimos implantar, conseguimos enfiar a bachata no meio do sertanejo. Colocar elementos que não existia, mais musicalidade.

O que motivou a gravação de um DVD no Cariri cearense?

Fiz um show na Expocrato em 2018 e encontrei uma estrutura que eu vi em pouquíssimos locais. Querendo ou não, é uma cidade formada por outras três a quatro localidades. O público que frequenta o evento é de Fortaleza, Paraíba e Rio Grande do Norte. Quando vi, eu disse: 'rapaz, isso não existe!'. Por ser uma cidade do interior, pensava que era completamente impossível ter aquela estrutura. Falei com o promotor da festa e disse que iria gravar DVD em 2019. O Nordeste te acolhe. Te recebe muito bem. É muito parecido com o público da minha Minas Gerais. Você chega na casa das pessoas lá, elas já chamam para entrar, fazem café, já matam uma galinha. São muito carinhosos. Eu achei que estava na hora. Já tinha gravado vários DVDs no Centro-Sul do País. Achei que estava na hora de deixar algo registrado no Nordeste. Para nossa surpresa, foi o maior recorde de todos os tempos da festa. Apesar das dificuldades, nossa produção de 300 pessoas saiu alugando casas pela cidade, porque não tinha hotéis com vagas. Tirando os contratempos, foi maravilhoso. E a energia do pessoal? Para quem não conhece o Nordeste, eu preciso dizer, é outro mundo.

Você pensa fazer parceria com Wesley Safadão?

Vamos fazer grandes shows juntos. Estamos estudando alguma das praças. Costumo dizer que ele é um cara muito ousado. Destemido. Ele é um cara superinteligente. A gente pode juntar as duas coisas e fazer um grande projeto. Uma casadinha dessa é maravilhosa.

Como você lida com a liderança de rankings musicais?

Não tenho mais preocupação em acertar uma música, senão a gente fica refém de sempre querer acertar e viver de uma canção. A música tem prazo de validade. Três meses, ela começa a cair. Por isso que eu não gravo singles. Aconteceu todas as vezes que fiz isso. A minha maior aposta é no repertório em si, todo. Com o 'Embaixador', gravado em Barretos, emplacamos no mínimo umas 15 músicas. Não precisa cantar no show, só começa, e o pessoal termina. Fizemos esse negócio de lançar single, antes de gravar o DVD. A minha preocupação é fazer um repertório equilibrado, que possa acertar várias letras. Mal acabamos de lançar música desse DVD e já temos 'Perrengue' com mais de 60 milhões de visualizações. 'A Gente Fez Amor', que foi lançada há três dias e está com 10 milhões de visualizações. A gente faz esse trabalho diretamente com o público. As entregas de shows também têm um tempo maior, e as pessoas acabam tendo um carinho maior pela sua música. Você está se doando. Não sei se amanhã eu vou estar vivo. Eu sempre vou me doar como puder.

O que pensa do futuro do sertanejo?

Hoje, é a música que mais promove renda, lucro, empregos, entendeu? Na nossa festa 'Buteco', empregamos de 300 a 500 pessoas. A geração de emprego movimenta tudo. Movimenta o salão de beleza, a loja de roupa, o cara que vai vender bebida, acaba movimentando um mercado todo. O sertanejo, quanto mais unido, mais a gente vai conseguir seguir com ele. Tenho certeza de que vai durar muitos anos. Em São Paulo, por exemplo, você vai pegar 12 milhões de pessoas que parte veio do interior. Foram influenciadas pelo pai, pela família e pela faculdade. As pessoas gostam da tradição. Quantos artistas sertanejos não aparecem todos os anos? Pra gente, é maravilhoso. Isso só vai dando mais respiração na música.

Como avalia seu crescimento nos palcos e na vida?

Quebramos a cara por diversas vezes. Coisa que a gente fazia que não daria certo. A vida é feita de aprendizagens. A gente nunca para de aprender. A maior contribuição disso tudo foi minha família. Comecei a namorar Andressa Suita em 2012. Fizemos tudo certinho, só comi a fruta antes de cair do pé. Depois que a gente tem filho, a vida é outra. É inexplicável a energia da família. E onde me sinto protegido e em casa. Posso estar no melhor hotel do mundo, mas eu corro é pra casa. A família me deu maturidade. Sim, tem momento que perdemos a cabeça, pois somos seres humanos. Todas as músicas que eu canto, a Andressa ouviu primeiro. Ela tem esse ouvido do público. Desde o lado profissional e pessoal, se não caminharmos juntos, a gente não consegue fazer um bom produto. A família é muito importante na vida da gente. Quando era solteiro, não tinha muita seriedade. Não tinha filhos. Não era casado. Passava meses fora de casa. Hoje, tenho motivo para voltar.

*O repórter viajou a São Paulo a convite da assessoria de imprensa de Gusttavo Lima.