Gilles Lipovetsky realiza conferência no Mundo Unifor 2019 nesta quinta-feira (17)

O filósofo francês fará uma abordagem sobre "A sociedade da sedução: emoção, mídias e economia"

Escrito por Eulália Camurça , eulalia.camurça@verdesmares.com.br
Legenda: Gilles Lipovetsky fala e escreve sobre temas relacionados à moda, consumo, tempo, sedução e felicidade

Exímio observador da vida e das relações humanas. Considerado um dos mais importantes pensadores do planeta, o francês Gilles Lipovetsky revela: "Estou atento aos novos fenômenos que aparecem em nosso mundo e, em seguida, eu tento teorizá-los". Essa é apenas uma das reflexões que fez nesta entrevista exclusiva, por internet, uma semana antes de chegar a Fortaleza para participar do Mundo Unifor, nesta quinta-feira (17).

O filósofo já questionou temas como a moda, o universo feminino, o consumo e também a felicidade. Quando indagado se o ser humano é incapaz de ser feliz, analisa: "A sociedade da sedução não possibilita a felicidade, mas nos torna muito exigentes nessa questão, porque a sedução sempre nos oferece modelos de felicidade, beleza, realização... E a realidade não corresponde, então somos sempre um pouco em contradição com tudo o que sonhamos".

A sociedade da sedução faz sonhar. Segundo Lipovetsky, ela faz sonhar com decotes, consumos, turismos, objetos e seu ideal é dar satisfação, mas, na realidade concreta, há desemprego, pobreza, terrorismo... "A sedução é frequentemente quebrada pela realidade, então é um modelo terrível, porque promete felicidade, mas ela nem sempre existe. Por isso que é difícil de viver".

Mesmo diante das dificuldades, Lipovetsky considera possível encontrar caminhos: "Não há soluções para a felicidade. Existem soluções individuais que mudam. Felicidade quando você tinha 15 anos não é a mesma que você esperava quando tinha 50 anos. Ela muda e acredito que não devemos pensar que ela pode ser o objetivo absoluto da vida, porque não se pode dominá-la".

O filósofo destaca maneiras de construir um devir mais intrigante. "Devemos nos dar o objetivo de fazer coisas interessantes na vida. Devemos dar às crianças e jovens o gosto de fazer coisas emocionantes, que amam. A felicidade se verá, talvez ela venha, mas se você ainda quiser ser feliz, feliz, não será feliz. Você tem que viver fazendo as coisas, sendo criativo. Crie empresas, crie arte, a música. Fazer coisas apaixonantes na vida é o que devemos fazer e a felicidade progredirá, mas devemos parar de acreditar em todos aqueles que querem vender a solução absoluta. Existem soluções parciais e temporárias e isso já é muito".

Outra questão que inquieta Lipovetisky é o hiperindividualismo, o individualismo exacerbado no mundo contemporâneo. Mas seria esta postura humana o grande mal da humanidade?

"Não, o grande mal da humanidade, eu o encontraria nas desigualdades sociais, no déficit da educação, o que faz que nessas sociedades pareça que não temos mais soluções, então as pessoas vivem um pouco em desespero e, principalmente, em insegurança. O individualismo não é uma maldição, não é um drama. É uma chance para sociedades dinâmicas, mas devemos confiar em um individualismo mais inteligente".

"Não haverá solução para os grandes problemas da humanidade sem educação. Devemos formar os jovens, a inteligência para combater a poluição, o aquecimento global e ter uma economia dinâmica"

Então, o que seria isso? "O que se casa com a educação. Não haverá solução para os grandes problemas da humanidade sem educação. Devemos formar os jovens, a inteligência para combater a poluição, o aquecimento global e ter uma economia dinâmica. A riqueza dos homens é a formação, a inovação, e não há inovação se não houver educação. Esta é a chance para o futuro".

Diante dos desafios do presente, o futuro parece ser ainda mais desafiador, contudo Lipovetsky esclarece que é viável cultivar o otimismo.

"Não sou pessimista porque observo que as pessoas, indivíduos em nossa sociedade, esperam muito fazer coisas bonitas na vida e cuidar dos filhos. Eles trabalham e não estamos em uma situação, como se diz às vezes, que não há mais valores. Eu acho que isso não é verdade, sempre há valores. O significado do bem e do mal não está morto. A indignação moral não está morta. As pessoas continuam a ter reações morais. A exigência de justiça está sempre lá, e também observo de qualquer maneira é a primeira razão, observo que há pessoas que se sentem responsáveis. O senso de responsabilidade individual não está morto".

O pensador define então o que chama de "segunda razão para ser otimista": "Ainda é uma situação mundial em que ciência, técnicas trazem coisas todos os dias. E eu sou um otimista da razão. Acredito em inteligência. Acho que a inteligência humana pode encontrar soluções. Não há problemas sem soluções graças à inteligência humana. Não é a moralidade que salvará, não é a religião que pode salvar a humanidade, eu acredito na inteligência".

A questão da educação é, portanto, central no processo de mudança da humanidade. "Devemos desenvolver riqueza, inventar soluções e a invenção é inteligência. Não há outras soluções. Agora estamos na era da inteligência artificial, novas tecnologias, tecnologia limpa. Devemos desenvolver isso e, acima de tudo, investir novamente na escola para as crianças, para desenvolver as mentes. Se você não investe na formação das crianças, na escola, estamos indo para o desastre. Escola, formação é essencial para o futuro da humanidade e isso é inteligência", analisa.

O público que comparecer ao Mundo Unifor para conferir a programação, terá acesso a uma conferência que apresenta questões do que chama de sociedade da sedução.

"O tema da conferência é a sociedade da sedução, falando da economia, portanto do capitalismo e da mídia. O papel da mídia na sociedade da sedução e o papel da sedução no capitalismo contemporâneo. É um assunto considerável, enorme. Bom, tentarei apresentá-lo da melhor forma, aos alunos aos professores, com a esperança de que eles tenham uma discussão", pondera.

"Diante das palavras de um tradutor das relações humanas, que guardemos um de seus aforismos em tom de esperança: 'Reconheço que, no momento, temos muitas dificuldades. Dificuldades especialmente econômicas, mas é a história. Devemos continuar otimistas'".

Referência mundial

O filósofo francês Gilles Lipovetsky possui livros traduzidos em mais de 18 idiomas. Entre eles, clássicos como "O Império do Efêmero - a moda e seu destino nas sociedades modernas" e "A Era do Vazio - ensaios sobre o individualismo contemporâneo".

É considerado uma das principais vozes mundiais em estudos sobre a hipermodernidade. Moda, consumo e hedonismo estão entre os temas discutidos pelo filósofo.

Lipovetsky transita com facilidade nas discussões que buscam entender o consumo para além do luxo, como algo fundamental para contemplar as necessidades básicas humanas.

Palestras

Quarta (16)
Auditório da Biblioteca
14h às 16h - Palestra "A cidade como ateliê", com Letícia Lampert
17h às 18h - Palestra "Como contar uma boa história", com Neide Duarte Praça Central
18h - Palestra "Ética e narrativas em um mundo em transformação", com Djamila Ribeiro

Quinta (17)
Praça Central
17h30 - Palestra "A sociedade da sedução: emoção, mídias e economia" com Gilles Lipovetsky

Sexta (18)
Auditório A4
9h às 11h - Palestra "Mailson Furtado e seu escreviver no sertão", com Mailson Furtado Praça Central
18h - Palestra "Homo Discens - uma nova espécie em um mundo em mudança", com Conrado Shcolahuer

Sábado (19)
Teatro Celina Queiroz
10h - Palestra Talvez não tenha oposição entre vida ética e vida estética. Talvez a melhor ética (ou a única possível) não consista em seguir grandes princípios ou merecer algum paraíso, mas em "fazer bonito", com Contardo Calligaris

Serviço

Palestra com Gilles Lipovetsky

Dia: 17 de outubro
Horário: às 17h30
Local: Praça Central da Universidade de Fortaleza
Endereço: Avenida Washington Soares, 1321, Edson Queiroz
Acesso gratuito

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