Fortaleza recebe exposição do fotógrafo Pierre Verger sobre universo religioso de matriz africana

Mostra será composta por 65 obras, expostas, a partir deste sábado (12), no Museu da Fotografia Fortaleza

Escrito por Wolney Batista , wolney.santos@verdesmares.com.br
Legenda: Em suas fotografias se percebe o intercâmbio e a função desempenhada pelo artista como um mensageiro entre dois mundos: a África e o Brasil
Foto: FOTO: Pierre Verger ©Fundação Pierre Verger

Nascido em uma família abastada na França, Pierre Edouard Léopold Verger (1902-1996) viajou por vários lugares do mundo até fixar residência na Bahia, onde procurou se cercar do povo mais simples. As pessoas retratadas em seus registros se transformaram em amigos e dividiram o cotidiano. Dessa aproximação, surgiu o encanto do fotógrafo com os rituais e deuses africanos reverenciados no candomblé. Ele acreditava que era da religiosidade que os baianos conseguiam a vitalidade.

A imersão nas culturas afro-brasileiras rendeu a ele a inclusão do nome Fatumbi, que significa em iorubá "nascido de novo graças ao Ifá", ou seja, de um oráculo. Garantiu também uma bolsa de estudos no Instituto Francês da África Negra (Ifan), onde Verger se aprofundou nas raízes ancestrais da humanidade e atuou como pesquisador. O mergulho no imenso oceano das tradições africanas o fez produzir dois mil negativos de capturas de momentos religiosos com sacerdotes e autoridades do candomblé.

Legenda: Na África, Verger captou os cultos e, com isso, adquiriu conhecimento no candomblé
Foto: FOTO: Pierre Verger©Fundação Pierre Verger

Uma mostra significativa desse vasto acervo de fotografia de Pierre Verger retorna à capital cearense com a exposição "Orixás", no Museu da Fotografia Fortaleza. A volta acontece 14 anos depois da primeira exibição e traz 65 obras que ficarão expostas para visitação gratuita a partir deste sábado (12).

As incursões na Bahia e na África também geraram a produção de dois livros: "Dieux d'Afrique", disponibilizado somente na França, e "Orixás, Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo", publicado no Brasil. O lançamento de uma reedição dessa segunda obra marcará a abertura da mostra em Fortaleza.

Legenda: Na África, Verger captou os cultos e, com isso, adquiriu conhecimento no candomblé
Foto: FOTO: Pierre Verger©Fundação Pierre Verger

Visão global

"A exposição é completamente ligada à reedição do livro Orixás. A obra foi uma das primeiras no Brasil que deu uma visão global da cultura do candomblé, dos cultos afro-brasileiros, através de fotografias", explica o curador da mostra, Alex Baradel.

A afinidade de Verger com a religião de matriz africana fez surgir um trabalho singular. "Até hoje não tem um fotógrafo que retratou o candomblé de forma tão sistemática e profunda. Tem outros fotógrafos que fizeram trabalho interessante, muitos fotógrafos, mas ninguém fez assim. Inclusive porque o próprio Verger era uma pessoa do candomblé", dimensiona o curador. Alex fará uma palestra sobre a obra, às 14h, no dia da abertura.

Legenda: Na África, Verger captou os cultos e, com isso, adquiriu conhecimento no candomblé
Foto: FOTO: Pierre Verger©Fundação Pierre Verger

Símbolos de QR Code serão afixados próximos a todas as fotos para permitir uma interação audiovisual durante o passeio pelo acervo do artista. "A exposição terá essa segunda leitura. A pessoa poderá ouvir comentários de natureza antropológica, com informações sobre os cultos afro-brasileiros, então".

Outra convidada para a estreia da exposição será Dona Cici, uma importante figura da Fundação Pierre Verger que conviveu por muitos anos com o artista e, após a morte dele, em 1996, atuou como uma tutora do material.

Legenda: Na África, Verger captou os cultos e, com isso, adquiriu conhecimento no candomblé
Foto: FOTO: Pierre Verger©Fundação Pierre Verger

A partir das 10h do sábado, Dona Cici falará sobre a religião e a relação com Verger conduzindo uma visita guiada. "É uma senhora que trabalha na Fundação, mas é também uma filha de santo. É ligada a um candomblé ao qual Verger também era ligado", diz Alex, antes de acrescentar que Dona Cici é patrimônio vivo da instituição, uma pessoa que repassa a religião para os mais jovens por meio da oralidade.

Acervo

Desde o ano passado, uma série de eventos em alguns estados brasileiros e outros países, como México e Espanha, acompanha a comemoração dos 30 anos da Fundação. O propósito é divulgar o grande acervo e a obra representativa registrada por Verger. "Há em torno de 62 mil negativos, na Fundação, em Salvador, em um bairro popular, na própria casa onde Verger morava. Todas as fotografias foram tratadas e conservadas em boas condições, em ar-condicionado e digitalizadas, pontua Alex, que também atua como curador da instituição.

Legenda: Na África, Verger captou os cultos e, com isso, adquiriu conhecimento no candomblé
Foto: FOTO: Pierre Verger©Fundação Pierre Verger

A preservação da inigualável fonte de conhecimento sobre o tema é algo fundamental, conforme o curador, pois o olhar do artista francês mescla a informação à poesia e oferece uma descoberta da religião, das raízes, mas também proporciona uma viagem a um espaço onírico. Alex ressalta que o diferencial de Verger era a forma como ele fazia a conexão com as pessoas. "De modo geral, tem muito a questão do respeito. Verger era um francês, uma pessoa rica, que poderia ter tido um vida confortável. Foi fotografar outras culturas na África, na Ásia. E quando ele foi registrar essas pessoas era mais um encontro do que uma fotografia. Isso, até hoje, é um valor universal muito importante que precisa ser destacado para que, por vezes, não seja esquecido".

>A percepção do outro marca a obra fotográfica de Pierre Verger

Serviço
Exposição "Orixás", do fotógrafo Pierre Verger
Abertura no sábado (12), no Museu da Fotografia Fortaleza (Rua Frederico Borges, 545, Varjota)
Às10h - visita mediada por Dona Cici
Às 14h - palestra do curador Alex Baradel
Acesso gratuito.
Funcionamento: quarta-feira a domingo, de 12h às 17h.
Contato: (85) 3017.3661 ou por meio do site do Museu da Fotografia
Visite o site Fundação Pierre Verger

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