Festival Varilux de Cinema Francês traz mais de 16 longas ao País, incluindo Fortaleza

A sessão de abertura do evento foi realizada oficialmente no Rio de Janeiro na última quarta (6)

Escrito por Mylena Gadelha , mylena.gadelha@diariodonordeste.com.br

Um homem vivendo uma realidade paralela e a busca para reconquistar o grande amor. Ou franceses na luta para desmascarar um padre pedófilo. Até mesmo a relação entre mãe e filha, servindo como forma de entender uma família. Todas essas histórias, ficcionais ou não, ganham vida ao som do sotaque dos franceses e integram a 10ª edição do Festival Varilux de Cinema Francês.

Dentre as cidades recebendo o evento - são 80 no total - Fortaleza está entre elas, e passa a acolher um pedaço europeu: filmes com um estilo delicado e franco, diretamente do lugar que é conhecido como a origem do que conhecemos como cinema atualmente.

Em Fortaleza, a abertura oficial do festival aconteceu na última quinta-feira (6), mas foi no Rio de Janeiro, às margens do sol e da bela praia de Ipanema, que a delegação francesa, responsável por representar os 16 longa-metragens a serem exibidos este ano se apresentou. Juntos, deram detalhes sobre processos de produção, atuação e a importância do evento em si. Este ano, por exemplo, ele deve levar cerca de um milhão de brasileiros a salas fora do circuito tradicional.

Antes mesmo do evento oficial, em uma noite pomposa e com a presença de mais de 600 convidados em um dos cinemas cariocas mais tradicionais, o Cine Odéon, Joséphine Japy, François Civil, Swan Arlaud, Alexis Michalik, Lisa Azuelos, Thaïs Alexadrin e Pierre Schoeller conversaram com parte da imprensa brasileira. Entre um café e outro, tentativas bem-sucedidas de arriscar o português - a palavra "obrigado" foi a que mais se ouviu - e uma felicidade estampada em fazer parte da delegação.

Comédia diferente

Peças principais do filme "Mon Inconnue", traduzido ao português como "Amor à Segunda Vista", Joséphine e François esbanjaram sorrisos simpáticos durante a tarde. O filme em que contracenam como um casal, dirigido por Hugo Gélin, foi o escolhido para marcar o início da edição 2019, na noite da última quarta (6).

"Eu não conhecia o Varilux até agora e essa foi a primeira vez que nosso filme foi selecionado em um festival internacional, então nos sentimos muito lisonjeados com tudo isso. Chegando aqui foi que tivemos essa dimensão, sabendo do interesse do brasileiro pelo cinema francês", afirmou François em entrevista ao Verso.

"Mon Inconnue" foi assistido, até então, por mais de 300 mil franceses e rendeu a Civil o Prêmio de Interpretação Masculina no Festival Internacional do Filme de Comédia de L'Alpe d'Huez. Na história, Raphaël e Olivia foram um casal apaixonado desde a escola. Após dez anos, ele se torna um autor famoso de best-sellers, e ela, uma professora de piano. Certo dia, tudo muda e ele se vê em um universo paralelo na busca para reconquistar a esposa.

"Quando você vai apresentar um filme em outro país, fora da França, é quase uma nova maneira de redescobri-lo", começou Joséphine.

Para ela, um dos aspectos mais bonitos do longa é poder acompanhar o crescimento dos personagens em cena. "Acredito que o fato de seguir esses personagens em cena e ver a evolução dos mesmos foi o que mais me chamou a atenção no roteiro logo de cara, além de que, claro, a história é muito bonita", completou ao também ressaltar as peculiaridades da comédia, que possui toques dramáticos e um desfecho incomum.

Vida real

Outros membros da delegação, Swan Arlaud, Thaïs Alexandrin, Lisa Azuelos e Pierre Schoeller têm algo em comum: estão em filmes com roteiros baseados em situações reais.

O primeiro, interpreta Emmanuel Thomassin no filme "Grâce à Dieu" (Graças a Deus), relatando a história real de um dos abusados pelo padre Bernard Preynat, em Lyon, na França. Já Lisa e Thaïs, mãe e filha, trazem às telas algo íntimo em Mon Bébé (Meu Bebê) e mostram a saída da menina de casa para estudar no Canadá.

Mãe de Thaïs, Lisa explica "Mon Bébé" como a relação entre ela e a filha, nua e crua. "A imagem escolhida para mostrar foi como um super Instagram. Nossa relação é basicamente igual ao que abordamos ali, é a nossa vida. Fomos encaixando isso ali dentro muito naturalmente", comentou sobre dirigir a filha, com quem já havia trabalhado em 2009.

Enquanto isso, sob um contexto histórico, Pierre dirige o filme "Un People et Son Roi" (A Revolução em Paris), com momentos baseados na famosa Revolução Francesa.

"O fato de contar uma história real, baseada em pessoas que estão vivas, tem uma responsabilidade maior. Mas a questão de existir ou não, é o fator menos importante nesse caso. O mais pesado é ter que mostrar uma situação tão horrível, mergulhar no contexto desses abusos de mais de 30 anos", afirmou Swan sobre o filme. "Grâce à Dieu" recebeu o Urso de Prata no Festival de Berlim este ano.

Para Schoeller, uma abordagem convencional não seria o suficiente para retratar a Revolução Francesa em totalidade. Seis anos de pesquisa e produção foram necessários para dar uma nova cara, com personagens até então desconhecidos. "É um filme independente, não é a retratação da história oficial. Não parti de um livro e não fiz uma adaptação de um personagem. Foi um trabalho ao lado de historiadores, muito minucioso", disse.

Do palco às telas

Último a conceder entrevistas na quarta (6), Alexis Michalik, diretor de "Cyrano Mon Amour", resolveu falar da relação pessoal adquirida com a figura de Edmond Rostand, autor da aclamada peça "Cyrano De Bergerac". Inicialmente desenvolvido para o teatro em 2016, o roteiro elaborado por ele ganhou o cinema e levou mais de 500 mil espectadores às sessões em solo francês.

"A peça foi bastante aclamada e isso acabou chamando atenção dos produtores. Questionei se eles permitiriam minha direção e me disseram que sim. Acho que foi assim que surgiu meu primeiro filme", comentou ele após explicar as dificuldades em tornar o desejo uma realidade.

"Minha intenção foi focar em Edmond Rostand, mostrar como ele escreveu essa história. Saber como ele conseguiu criar esses personagens, essa trama de amor nova e diferente, que até hoje é sinônimo de sucesso na França".

Mais salas

Com um total de 16 longas, e mais um filme de ação e outro clássico, em todo o território nacional, o Varilux também faz sessões abertas e gratuitas em unidades do Sesc no Brasil. Na tentativa de conceder ainda mais visibilidade ao cinema contemporâneo francês, o festival continua ocupando o lugar de um dos mais importantes divulgadores da sétima arte.

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