Exposição "Mariana" resgata histórias dos moradores da cidade mineira atingida por desastre em 2015

Abertura da mostra na Caixa Cultural acontece nesta terça-feira (27), às 19h

Escrito por Wolney Batista , wolney.santos@verdesmares.com.br
Legenda: Fotógrafo registrou os destroços em dois distritos de Mariana
Foto: Foto: Tati Freitas

Minas Gerais, 15h30 do dia 5 de novembro de 2015. O Brasil acompanhava estarrecido, nas horas que se seguiram, o desastre que se abateu sobre a região central do Estado após o rompimento da barragem de Fundão. O mar de lama varreu 19 vidas e deixou outras tantas sem alento. Quase quatro anos depois, Fortaleza recebe, a partir desta terça-feira (27), a Exposição "Mariana", uma homenagem à memória dos moradores.

A mostra, em cartaz na Caixa Cultural, é composta por 28 imagens impressas em papel algodão e baseada no livro de mesmo nome, lançado em meados de 2016.

Os registros foram capturados pelo fotógrafo baiano Christian Cravo, que esperou o clamor pelo assunto passar para embarcar rumo a Minas. "Primeiro, eu vi a tragédia na televisão, como qualquer cidadão brasileiro. Fui vendo essas imagens sendo bombardeadas na mídia todo dia, muita dor humana. Continuei assistindo e quando aquela cobertura midiática forte completou um mês, exatamente, eu disse: 'Pronto. Eu vou para lá'", conta Christian.

Foto: Foto: Christian Cravo

"Fui com a minha câmera e eu só tinha uma certeza: não queria fotografar a dor humana, a figura humana nas imagens. Eu queria fotografar esse inventário que eram os objetos, os verdadeiros testemunhos que ficaram e foram pertences das pessoas que outrora viveram lá e não vivem mais".

Durante três dias, o fotógrafo registrou os destroços que encontrou em Pracratu de Baixo e Bento Rodrigues, os dois distritos de Mariana mais afetados pelo desastre.

"Foi um tempo muito curto, que vai de encontro com tudo que eu geralmente faço em termos de trabalhos fotográficos. Normalmente, são projetos muito grandes. Para citar dois, no Taiti, foram 10 anos fotografando. Depois, fui para a África fazer trabalho sobre a natureza, paisagens, foram mais nove anos fotografando. Meus projetos normalmente têm inicio, meio e fim. Mariana não começou como um projeto. Quis registrar aquilo como cidadão brasileiro e depois vi que dava para fazer livro e exposição".

Colchão, sandália, disco de vinil, brinquedo, roupa, utensílios domésticos. Tudo que Christian encontrou pelo caminho, durante o período, ganhava espaço no seu olhar. A singularidade da situação também marcou outra quebra na sua forma de trabalhar.

Foto: Foto: Christian Cravo

"Um armário de banheiro com par de escova de dentes, uma rosa e uma azul, dei nome de Matrimônio; a foto de uma santa, é Fátima. Para cada imagem a gente atribuiu um nome que tivesse um apelo pessoal àquele objeto. Nunca faço isso nas minhas imagens, elas normalmente não têm títulos. Ao longo de três décadas, as imagens só tiveram local e data".

As fotografias expostas chegam a ter 2,5 metros de comprimento. O tamanho gigante tem uma lógica de ser. "É uma proposta de colocar o espectador em frente a uma janela. Como se fosse um portal que a pessoa está olhando e vendo esse outro lado, que é o acontecimento, em grandes janelas".

Instante congelado

O fotógrafo Christian Cravo recorda que o cenário que visualizou ao chegar a Mariana lembrava os resquícios da cidade italiana Pompeia, destruída pela erupção do vulcão Vesúvio no ano 79 D.C.

"Ali, assim como Mariana, foi uma sociedade que existia e, de um instante para outro, deixou de existir. No caso de Pompeia, foi por desastre natural, já Mariana, foi pela imprudência humana. Mas ambos têm em comum que, aquilo que existia ali, foi fixado naquele instante. Tudo que está lá em Mariana foi fixado naquele novembro de 2015", aprofunda.

Serviço
Exposição "Mariana"
Abertura nesta terça-feira (27), às 19h
Local: Caixa Cultural Fortaleza (Avenida Pessoa Anta, 287 - Praia de Iracema).
Período de visitação: de 28 de agosto a 13 de outubro de 2019
Horário: terça-feira a sábado, das 10h às 20h e domingo das 12h às 19h.
Telefone: (85) 3453-2770
Gratuita

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