Exposição gratuita reflete violência e processo de silenciamento na sociedade

A mostra reúne obras da paraense Berna Reale, que conduz uma visita guiada às 11h, nesta sexta-feira (7)

Escrito por Wolney Batista , wolney.batista@810verdinha.com.br
Legenda: A performance Rosa Púrpura levou um grupo composto por 50 mulheres a marchar pelas ruas de Belém à frente de uma banda militar
Foto: Foto: Divulgação

 

Fortaleza recebe a partir desta sexta-feira (7) a exposição "Grito Mudo", na galeria Sem Título Arte. A mostra reúne obras da paraense Berna Reale. Uma visita guiada será conduzida pela própria artista, às 11h. A abertura oficial será a partir das 18h.

Berna tem projeção internacional com seus trabalhos, sobretudo com a performance Rosa Púrpura, que realizou em 2014. Nela, um grupo composto por 50 mulheres marchou pelas ruas de Belém à frente de uma banda militar. Todas as integrantes vestiam uniformes colegiais tradicionais e usavam próteses na boca, em referência a bonecas infláveis. O trabalho foi arrematado por depoimentos de participantes que relatam as violências sofridas e as intimidações sexuais.

Berna atua como artista visual e na perícia criminal. Esse olhar a faz refletir, em suas obras, as variadas formas de violência, representada em materiais físicos e simbólicos. Além disso, ela questiona os processos de silenciamento instaurados na sociedade contemporânea.

Legenda: Frame do vídeo 'Frio', que faz parte da mostra 'Vão'
Foto: Divulgação

A exposição montada na capital cearense envereda no mundo artístico de Berna por meio das fotografias e vídeos. "O grito de Berna Reale vibra mudo numa evocação da loucura, da perda de controle diante do caos, dos altos índices de violência com os quais a perita criminal lida diariamente colocando-a no fio do abismo, perante o embate social, entre a vida e a morte, o belo e o feio, dotando sua obra de uma ampla potência significante", descreveu a curadora, Ângela Berlinde.

A série "Retratos" trabalha a morte, o mito e a mulher, três alegorias da sociedade brasileira, de acordo com a curadora. O vídeo-performance tensiona e leva para a arte o grito político diante de duras e cruas realidades sociais brasileiras: corrupção, arbitrariedade policial, destruição ambiental, criminalidade, violência contra as mulheres.

"A autora prende-nos em uma rede de inquietações que nos atira da inércia para uma ação estética, através de um vivo discurso político que quebra a continuidade pacífica do real. É uma boca em chamas, um grito mudo contra a violência na sociedade contemporânea", completa a curadora.

O trabalho desenvolvido por Brena Reale já conquistou prêmios relevantes no País como o 5º Prêmio Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas, em 2015, e o Grande Prêmio do Salão Arte Pará, em 2009. Algumas de suas obras também compõem as coleções institucionais do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP) e Museu de Arte do Rio (Mar).

Festival Solar

A exposição Grito Mudo integra o inédito Solar - Festival Internacional de Fotografia, que chega à capital cearense trazendo uma centena de artistas para expressarem as reflexões sobre a fotografia atual. Além disso, o evento busca se posicionar como plataforma de pensamento sobre a sociedade e política.

Legenda: "A Mulher", fotografia da Exposição Grito Mudo
Foto: Divulgação

O festival segue nesta sexta (7), sábado (8) e domingo (9), e tem como principal espaço o Centro Dragão do Mar. Assim como a galeria Sem Título Arte, outros locais da cidade recebem as atividades do festival, como o Museu da Fotografia e o Porto Iracema das Artes.

As exposições-satélite são formadas por "Grito Mudo", "Terra em Transe", "Sobre a Cor da sua Pele", "Sueño de la Razón", "Miragem" e "Vento Solar".

Oficinas, mesas de debates e exibição de filmes também compõem o festival.

Serviço
Exposição Grito Mudo
Abertura: sexta-feira (7), 18h; visita guiada no mesmo dia, às 11h, com a presença da artista Berna Reale
Local: Galeria Sem Título Arte (Rua João Carvalho, 66 - Aldeota)
Informações: 98851.5548
Gratuito

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