Exposição com fotografias de jovens indígenas é lançada hoje (14), no MAUC-UFC

A mostra fica em cartaz até 10 de dezembro e, por meio de 90 imagens, resgata hábitos e particularidades de povos nativos

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@diariodonordeste.com.br

Se a curiosidade se avizinhar, chegue para Aruena Tabajara e pergunte o que é fotografia. "É sinal de amor próprio", ela responderá. "Renasceu em mim o desejo de me amar nessa oportunidade de fotografar e ser fotografada. Eu amo os dois - fotografar o mundo, a beleza - e ser fotografada para o mundo", dimensiona a indígena de 20 anos de idade, que se diz apaixonada por registrar a natureza, sorrisos, encontros, pessoas.

À primeira vista sinal puramente estético, escrever com a luz adquire - como se percebe na fala da jovem artista - ares maiores, de reafirmação identitária, quando posta em diálogo com vivências próprias. A opinião é partilhada por Thaís Tapeba, de 18 anos. Para ela, não existe o interesse em enquadrar a realidade de uma forma geral, mas, efetivamente, dar foco às raízes que carrega. "Vem da vontade de mostrar a luta do meu povo e ser sinal de resistência numa sociedade que diz que não existem índios", justifica.

As duas representam apenas uma parcela dos jovens de seis etnias diferentes que terão trabalhos expostos no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc-UFC) a partir desta quarta-feira (14), compondo a mostra "Nas Aldeias: o cotidiano sob o olhar da juventude indígena no Ceará". Em cartaz até 10 de dezembro, a exposição reúne 90 imagens dos povos Tapeba, Tremembé, Jenipapo Kanindé, Tabajara, Kanindé e Pitaguary, primando por um recorte intimista, revelador de minúcias poéticas sobre o ser índio, fruto de imersão dos participantes em oficinas de fotografia e outros projetos no segmento.

O lançamento acontecerá às 15h30 no espaço-sede que receberá os registros, iniciando com execução da Dança Guerreira - manifestação da Juventude Tapeba - passando pelas falas oficiais dos nomes à frente do projeto, e culminando com a abertura oficial da mostra, uma realização da ONG Adelco (Associação para Desenvolvimento Local) por meio do Projeto Urucum.

Continuidade

Esta é a primeira vez que o acervo vai compor o espaço de um museu. Porém, já esteve disponível para visualização em setembro do ano passado, quando foi apresentado nos Encontros da Juventude Indígena no Ceará, ocorrido na Escola Índios Tapeba, em Caucaia.

Assinando a curadoria com a Adelco, está o fotógrafo indigenista Iago Barreto. O profissional teve contato pela primeira vez com os povos indígenas a partir do Museu Virtual do Índio Cearense (MUVIC), em 2012. O projeto era capitaneado pela Universidade de Fortaleza (Unifor) e trabalhava o fortalecimento da memória desses povos no Ceará.

"Vem da vontade de mostrar a luta do meu povo e ser sinal de resistência numa sociedade que diz que não existem índios" Thaís Tapeba, fotógrafa expositora

"A mostra é importante porque estamos sempre em um processo de invisibilidade dos povos indígenas, então serve como um instrumento de comunicação" - Adele Azevedo, coordenadora da Adelco

Nesse sentido, o artista evidencia que não foi apenas o curador da exposição, mas também o professor da maioria dos jovens fotógrafos, intimidade refletida nas imagens que selecionou com vistas a estabelecer mais diálogo com o público.

"Busquei priorizar as experiências desses jovens com suas aldeias, a forma como eles querem mostrar sua cultura, espiritualidade, a natureza de onde vivem. As fotos, assim, caminham por sorrisos e momentos bonitos, pois são períodos de resistência para eles que vivem constantemente em luta", situa, sublinhando que os registros, ao mesmo tempo que deixam entrever tais recortes, igualmente funcionam como intercâmbio entre a juventude das seis etnias presentes, estreitando os laços e dinamizando a participação.

Adele Azevedo, coordenadora executiva da Adelco, corrobora com a ideia. Ela evidencia a importância da participação juvenil em atividades como essa. "A mostra é importante porque estamos sempre em um processo de invisibilidade dos povos indígenas, então serve como um instrumento de comunicação. E o melhor: a juventude está à frente da iniciativa, provando que índios também são adeptos de linguagens como a fotografia e o vídeo, por exemplo, aliando conhecimento tradicional e modernidade".

Seja qual for a perspectiva em destaque, fica o pioneirismo de um trabalho que se vale da arte para promover interações sociais, sinal maior da força nativa local, embora não apenas: também é vestígio bonito de um otimismo do que pode vir a partir daí. Fiquemos no aguardo.

Serviço
Exposição “Nas aldeias: o cotidiano sob o olhar da juventude indígena no Ceará”. De 14 de novembro a 10 de dezembro no Museu de Arte da UFC (Av da Universidade, 2854, Benfica). Lançamento nesta quarta-feira (14), às 15h30. Entrada gratuita. Funcionamento: Seg-sex, das 8h às 12h e 13h às 17h. Contato: (85) 3366-7481

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