Especial: Viva a imaginação

"Brincadeiras analógicas" mantêm laços em família e contribuem na evolução psicomotora e social das crianças

Escrito por Wolney Batista , wolney.batista@810verdinha.com.br

Quando o céu escurece e as estrelas ficam à vista, é hora de dar vida a fantoches nas pontas dos dedos para a imaginação de Valentina fluir. A depender da noite, porém, os bonecos de pano dão espaço a brinquedos, jogos de tabuleiro ou atividades ao ar livre.

A rotina lúdica da menina de três anos é um compromisso firmado na casa dos pais, o advogado Bruno Souto, 34 anos, e a jornalista Renata Almeida, 37. "Sempre após a conclusão das tarefas escolares aproveitamos o momento para estimular o raciocínio, a interação com outras crianças e as habilidades motoras", detalha Bruno, que buscou na leitura a bagagem teórica necessária para conduzir as atividades com a filha.

> A versão impresa do Diário do Nordeste trouxe diversas brincadeiras para a criançada. Adaptamos os jogos, como o de completar o desenho e de caça palavras e jogo dos 7 erros, para você se divertir. 

O lar se moldou com a chegada da criança. Móveis da residência foram adaptados para ampliar o espaço e facilitar as interações, que podem acontecer com blocos de montar e quebra-cabeças ou com pega-pega, esconde-esconde e corrida. Os ensinamentos abrangem, inclusive, questões de gênero. "Não distinguimos brinquedos de menina e de menino. Tratamos tudo como brinquedo", acrescenta Bruno.

Neste Dia das Crianças, o Diário do Nordeste abre espaço em suas páginas da edição impressa para celebrar a infância e o convívio a partir do brincar. Junto às matérias, você encontra atividades lúdicas, como jogos de tabuleiro, peças de pintura e recorte. Divirta-se!

Além do entretenimento, as recreações tradicionais contribuem para o crescimento do ser humano, conforme explica a professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Bernadete Porto. "Criança interage com a cultura, produz cultura. As brincadeiras permitem, de modo geral, o desenvolvimento integral dos pequenos, em todos os aspectos. A manipulação das características da realidade nos ajudam a trabalhar atenção e vontade, essenciais ao desenvolvimento da autonomia".

Tecnologia mediada

A advogada Marselle Azevedo, 31 anos, também incentiva o filho Bento, de 3 anos, a praticar atividades que rompem os limites das telas do celular e da televisão. "Criamos brinquedos, descemos para jogar bola, andar de bicicleta em família. As brincadeiras tradicionais fazem a criança correr, suar, se mexer".

Diariamente, o menino tem um período da tarde livre para fazer pintura, modelar massinha ou tocar instrumentos musicais, além de interagir com os colegas no playground do condomínio. "Ele também possui na rotina uma atividade na academia, direcionada a crianças. Brincadeiras lúdicas, aeróbicas, de coordenação motora e disciplinar", acrescenta.

Marselle conta que não exclui totalmente a tecnologia da vida do filho, mas a usa a favor da educação. "Desde que decidimos nos tornar pais, passei a ler muito sobre educação infantil e maternidade. Isso me motivou a fazer atividades lúdicas e que estimulam o desenvolvimento deles. Eles têm acesso à tecnologia, não podem ficar alheios. Mas tudo de forma equilibrada, com limites e controlada".

A comissária de bordo Manuelle Cruz, 23 anos, precisou de dedicação para distanciar a filha Clara, de 1 ano e meio, do mundo tecnológico no qual estava imersa. "Na idade dela é bem mais atrativo assistir televisão do que brincar com os brinquedos", ressalta, sobre a realidade contemporânea.

A inversão do polo do entretenimento virtual para o real necessitou de uma adaptação da rotina e restrição nos horários em que a menina usufrui de aparelhos eletrônicos. "Cedo duas horas do dia para ela assistir a desenhos. Tenho que confessar que antes eu cedia bastante, hoje controlo bem mais".

A mudança foi impulsionada após Manuelle perceber que a nova forma da filha vivenciar a infância estava contribuindo para sua evolução intelectual e relações em sociedade. "Foi o que me motivou, principalmente, a introduzir as brincadeiras na rotina. Antes ela tinha dificuldade de relacionamento, não ficava no mesmo ambiente que outras crianças", lembra.

"Hoje já compartilha os brinquedos e entende o espaço do coleguinha. Percebi que era justamente isso que fazia com que ela não tivesse socialização. Acabava afetando o desenvolvimento", reconhece a mãe, enquanto comemora os avanços da filha. "Ajudou muito no humor, na interação. Ela tem se tornado até um pouco mais independente".

O brincar serve como base para desenvolver o potencial humano, reforça a professora Bernadete Porto. "As brincadeiras são inclusivas e incorporam história à cultura que por elas está sendo constituída. Abre a possibilidade de significar e ressignificar o que pensa, o que sente e o que faz, organizando sua realidade e seu mundo".

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