Entendendo o legado de Stan Lee

Aos 95 anos, Stan Lee sai de cena e deixa uma galeria de personagens marcados pelo caráter humanizado. Capaz de moldar a imagem da Marvel Comics na cultura popular, estes super-heróis refletem a atuação de um realizador alinhado com o tempo onde atuou

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@diariodonordeste.com.br

Pra se ter uma ideia da atuação de Stan Lee (1922-2018), o mais correto é estabelecer uma investigação a partir das criações assinadas pelo homem forte da Marvel. Atuando como roteirista e editor, personificou o rosto da editora norte-americana no mercado internacional e angariou para si a força como realizador ligado a diferentes plataformas midiáticas.

Criador e criaturas se estabeleceram no imaginário popular como exemplo de excelência narrativa e construção de entretenimento. As histórias destes superseres são conhecidas nos mais diferentes continentes e ganharam versões não só nas páginas dos gibis. Estão nos games, nos cinemas, nos jogos de tabuleiro e na pauta de debate sobre os desmandos da indústria de quadrinhos.

Leitores, roteiristas, quadrinistas e pesquisadores possuem algum tipo de observação precisa sobre as pegadas deixadas por Stan Lee. Para o publicitário Davi Ferreira, vale destacar a premissa de que o legado deixado pelo norte-americano chega a ser maior do que o próprio homem. "O Universo Marvel, criado ao lado de Kirby, Ditko e outros grandes quadrinistas, foi moldado pelo então editor e roteirista Lee como uma verdadeira epopeia do século XX. Criou-se um império gigante em torno dessa continuidade narrativa que revolucionou os quadrinhos e agora também o cinema", esclarece o pesquisador.

Narrativa

Ferreira ilumina o caráter em torno das motivações psicológicas destas criaturas. "Gerações cresceram se identificando com a humanidade e as falhas dos heróis Marvel, algo que Lee sempre perseguiu em suas criações", aponta.

Para o professor de Direito da Universidade de Fortaleza, Daniel Camurça, Lee e sua equipe foram um divisor de águas no mundo das HQs. "Em meio aos anos 1960 e todos os problemas políticos e sociais enfrentados nos EUA, eles produziram narrativas que respondiam ou se aproximavam dos anseios dos leitores. Heróis adolescentes sem saberem ao certo sobre como assumir responsabilidades, a questão étnica e racial camuflada por heróis mutantes diversos, fortes e belos em suas mutações, mulheres empoderadas, autônomas e livres foram as contribuições de Lee", interfere o acadêmico.

Já para o artista plástico, quadrinista e curador, Weaver Lima, é necessário um olhar mais crítico sobre a produção de Lee. Para o cearense, a relação do ícone da sétima arte com outros profissionais da indústria de quadrinhos deve ser melhor esmiuçada para se evitar novas injustiças quanto a pagamentos e ao estabelecimento de direitos autorais.

"Ao se aprofundar na biografia desses 'revolucionários' da indústria do entretenimento ligados ao gênero dos super-heróis nos deparamos com tantos fatos vergonhosos que é até difícil ser complacente com uma produção tão 'preocupada' com ética e moral. É perceptível que esses 'grandes nomes' estão encenando um personagem, fingindo ser o que não são", adverte o entrevistado.

Para exemplificar suas observações, Weaver cita os casos de Jack Kirby (1917-1994) e Steve Ditko (1927-2018), nomes cujo as autorias dos personagens nunca foram devidamente creditadas. Como aviso aos fãs de Lee, ele indica as leituras das obras "King of Comics", de Mark Evanier e "Strange and Stranger: The World of Steve Ditko", de Blake Bell. A herança de Lee ainda vai render boas discussões ao longo do tempo.

 

 

 

 

 

 

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