Dirigido por dramaturgo cearense, "Baile do Menino Deus" é encenado de 23 a 25 de dezembro no Recife

Tradicional espetáculo mergulha nas manifestações populares para recontar a história do nascimento de Cristo

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Espetáculo dirigido por Ronaldo Correia de Brito herda aspectos culturais do Nordeste e típicos da vivência do dramaturgo no Ceará
Foto: Foto: Morgana Narjara

A Galileia é o Nordeste do Brasil. Nesse pedaço de chão abraçado pelo sol e o sertão, a figura do Cristo Deus se materializa em multidões. Nasce todos os dias. São desvalidos, perseguidos, caminhantes empoeirados. São também pessoas efervescentes em cultura, graça, força. Intercambiando essas duas faces tão ricas de representações e significados está o tradicional espetáculo "Baile do Menino Deus - Uma Brincadeira de Natal".

Apresentado de amanhã a 25 de dezembro no Recife (PE), o grandioso trabalho é produzido por Carla Valença e dirigido pelo escritor e dramaturgo cearense, natural de Saboeiro, Ronaldo Correia de Brito. Residente em Pernambuco, ele está à frente do espetáculo desde 1983, e conversou com o Verso sobre o que foi preparado para o público estimado em 70 mil pessoas neste 36º ano de Baile, 16 encenados no Marco Zero.

"O público não sabe para onde olhar", garante Ronaldo, cuja infância no Ceará foi farta de representações da cultura popular. "Há quem assista aos três dias de apresentação e volte todo ano. Dá orgulho ver como tudo funciona bem e que somos nós do Nordeste - sem xenofobia - que botamos a máquina para moer".

E são muitos a integrar o time. Cerca de 300 pessoas, entre músicos, bailarinos, atores, crianças do coro infantil, entre outros, formam a equipe. Centenas de empregos indiretos também são gerados, a movimentar o palco de 600 m². No mínimo, majestoso.

Teatro vivo

Tudo se passa ao vivo. Não há dublagens, como é comum nos eventos de rua. "Optamos pela linguagem do teatro. Nada de show, nada de projeções mapeadas", garante Ronaldo, conferindo detalhes sobre de que forma a milenar história do nascimento de Jesus é contada no pulsante tablado.

Existe um guião narrativo, a história dos Mateus e das crianças que buscam a casa para celebrar o nascimento de um Menino Divino, mas encontram a porta fechada. Das tentativas para abri-la e fazer a festa, constrói-se a trama principal. Intercalando a narrativa, introduz-se os entremeios, quase sempre novos a cada ano.

Legenda: Manifestações de diferentes povos permeiam a apresentação
Foto: Foto: Hans Manteufell

"Não existe modelo de teatro mais contemporâneo do que esse que nos ensina o Reisado. Os Reis Magos do Baile são representados por um negro, um índio e um branco. Neste ano, os entremeios dos povos negros e índios foram bastante acrescentados de música, textos e danças, por conta das ameaças que eles sofrem. Convidamos o Grupo Bongar, formado por membros da Nação Xambá, o primeiro quilombo urbano do Nordeste, a participar do espetáculo".

Assim, tem cheiros e expressões nossas essa Galileia afoita ao contato, abrindo portas para quebrar barreiras.

"O Baile não é um espetáculo em louvor aos símbolos do povo branco europeu e norte americano, de onde o Menino Deus foi banido. É uma celebração do povo mestiço brasileiro. Nele, índios, negros, ibéricos, ciganos, árabes, judeus, todos os povos se unem e cantam celebrando o nascimento", dimensiona Ronaldo.

É assim que o espetáculo nunca termina, mas, como afirma um dos Mateus, sempre se principia.

Legenda: Cerca de 300 pessoas compõem a equipe do espetáculo, além dos empregos gerados informalmente
Foto: Foto: Hans Manteufell

Serviço
Espetáculo "Baile do Menino Deus - Uma Brincadeira de Natal"
De amanhã (23) a 25 de dezembro, às 20h, na Praça do Marco Zero, Recife (PE). Acesso gratuito. Classificação: Livre. Mais informações pelo site oficial da montagem
 

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