De portas fechadas, equipamentos culturais de Fortaleza oferecem programação online; confira

Gestores de espaços culturais do Ceará propõem novas formas de oferecer produtos artísticos ao público durante a quarentena

Escrito por Roberta Souza , roberta.souza@svm.com.br
Legenda: As opções de acesso à cultura estão na internet, com projetos de diversas linguagens
Foto: FOTO: THIAGO GADELHA

O mundo já não é mais o mesmo desde que o novo coronavírus afetou o modo de viver dos seres humanos em todos os continentes, independentemente de gênero, cor ou classe social. Das metrópoles mais movimentadas às cidades mais pacatas, a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que aglomerações devem ser evitadas, e representantes políticos de diferentes localidades têm tomado medidas efetivas nesse sentido.

No Ceará, a partir do dia 20 de março - quando passou a valer o decreto do Governo do Estado determinando o fechamento de comércios e outros estabelecimentos, a exemplo de espaços como museus, teatros e cinemas - um número maior de pessoas precisou ficar em casa.

Na quarentena, as horas livres sem sociabilização impuseram novas rotinas, e, nesse cenário, gestores da área cultural, por exemplo, têm buscado alternativas para continuar oferecendo à população conteúdos artísticos que auxiliem no processo de enfrentamento dessa pandemia.

As ferramentas online, que já eram grandes aliadas, tornaram-se os únicos canais possíveis para reunir um número maior de pessoas. E é por meio de sites, redes sociais e canais do Youtube que alguns eventos agendados antes ou durante a quarentena têm acontecido. Há ainda equipamentos como o Museu da Fotografia Fortaleza (MFF) e o Espaço Cultural Unifor, por exemplo, cujos canais de comunicação virtual têm disponibilizado imagens de parte do acervo de exposições como estratégia de pertencimento e difusão de conteúdo.

O assistente administrativo do MFF, Tomáz Maranhão, adianta que outras alternativas estão sendo pensadas para a formação e entretenimento dos públicos infantil e adulto. "Para as crianças, o Museu produziu uma série de vídeos tutoriais de suas oficinas. São atividades com corte e colagem, pintura e fotografia a exemplo da oficina de maquete. Já para jovens/adultos, preparamos uma série com indicações de filmes e documentários relacionados a fotografia disponíveis na Netflix e YouTube", afirma. O material será disponibilizado gratuitamente nas redes sociais (Instagram @museudafotografiafortaleza e Facebook), geralmente às sextas-feiras.

Legenda: Nas redes sociais do Museu da Fotografia Fortaleza (MFF), o público pode conferir detalhes do acervo, além de tutoriais de oficinas e sugestões de filme sobre fotografia
Foto: FOTO: THIAGO GADELHA

Equipamentos geridos pelo Estado, a exemplo do Theatro José de Alencar (TJA), do Cineteatro São Luiz, do Dragão do Mar, do Centro Cultural Bom Jardim e da Escola Porto Iracema das Artes, igualmente têm investido na sugestão de materiais via redes sociais. A Secretaria de Cultura do Estado (Secult) deu início à campanha #CulturaVemDeCasa, e vem compartilhando obras e projetos de artistas locais nos perfis do Instagram (@secultceara) e Facebook.

Inovação

Outro espaço cultural de Fortaleza que se reinventou nesse período foi o Centro Cultural Belchior (CCBel), situado na Praia de Iracema. Neste mês de abril, está em andamento o projeto "Belchior em Casa", composto por 11 shows, dois cursos e três workshops. A transmissão de shows, no formato pocket, será via Instagram (@centroculturalbelchior) e a realização de cursos e workshops caberá ao canal do YouTube. Todos os envolvidos produzirão os conteúdos a partir de suas casas.

O gestor do equipamento municipal, Lenildo Gomes, defende que não se trata apenas de deliberar sobre o isolamento das pessoas ou criar encontros virtuais.

Tudo isso envolve repensar nossos modelos de sociabilidade, que penso, nunca mais serão os mesmos. Acredito que estamos tentando fazer o melhor dentro de nossas possibilidades e das possibilidades das pessoas. Sabemos que nem tudo dará certo. Em algum momento a internet não irá contribuir ou algum equipamento poderá falhar. Mas este é um momento de experiência e aprendizado", reforça.

Uma das artistas convidadas para compor a programação virtual do CCBel é a cantora cearense Rayane Fortes. Ela fará uma apresentação ao vivo neste sábado (4), às 18h, e demonstra empolgação com o formato. "Achei incrível a iniciativa, porque desde março os shows presenciais foram cancelados, e nós artistas também estamos sofrendo como trabalhadores autônomos dependentes da nossa música. O CCBel está propondo manter o cachê com a apresentação online e isso é de grande valor para nós", garante.

Formação

Na Vila das Artes, o debate sobre o virtual já estava posto mesmo antes da pandemia. "Estávamos na fase de reconfiguração de nosso site e criação de canal no YouTube como forma de publicização de resultados de trabalhos, a exemplo dos curtas produzidos pelos alunos do curso de Realização da Escola de Audiovisual. Com o debate em andamento, conseguimos, nesse curto espaço de tempo, elaborar um planejamento de uso desses canais além das redes sociais", explica a gestora Mileide Flores.

Videoaulas, preparadas pelo corpo de profissionais da Vila das Artes aos alunos dos cursos de Formação Básica de Dança e Teatro e de Realização da Escola de Audiovisual, estão entre os conteúdos que serão oferecidos pelo equipamento na quarentena. Nesta semana, ficarão disponíveis também os espetáculos de fim de ano das Escolas de Dança e de Teatro e, até a próxima, serão divulgados os curtas produzidos pelos alunos da Escola de Audiovisual.

Esses vídeos serão disponibilizados nas redes sociais da instituição (@viladasartesfortaleza), da Secretaria de Cultura de Fortaleza (@secultfor) e do ICI (@institutoiracema). Todo o material estará ainda no site da Prefeitura de Fortaleza (cultura.Fortaleza.Ce.Gov.Br).

As bibliotecas municipais da Capital também desenvolveram programação para este período. A Dolor Barreira, por exemplo, vai promover o Projeto "Quadrinhos em Foco", na versão online, todas as terças-feiras, às 9h, pelo Instagram e Facebook da Secultfor. Além disso, também oferecerá às quintas, no mesmo horário e pelos mesmos canais, contação de histórias e brincadeiras com o colaborador Chicão Oliveira. A Biblioteca Infantil Herbênia Gurgel disponibilizará nessas redes sociais uma série online com indicação de livros infantis.

Os equipamentos da Universidade Federal do Ceará (UFC), igualmente, têm se adaptado a esta nova realidade. Exemplos são o Museu de Artes da UFC (Mauc), que tem promovido lives com pesquisadores da cultura, como o professor Gilmar de Carvalho, no Instagram, e ainda o Circuito UFC Arte Online, que costuma ser realizado presencialmente nos espaços da instituição, mas que agora ganhou sua versão no espaço virtual (@ufcarte).

Legenda: Nas redes sociais da Universidade de Fortaleza, é possível saber mais sobre o acervo do Espaço Cultural Unifor
Foto: FOTO: THIAGO GADELHA

Em meio a tantos desafios e alternativas, uma variável em especial não pode deixar de ser considerada: o que o público pensa. O sociólogo Benjamim Lucas, 29 anos, é um dos que passou a assistir a mais séries em plataforma de streaming e vídeos de música, humor, além de informações sobre política e saúde produzidos por canais no YouTube nesta quarentena. "Percebi um aumento significativo no número de lives, em especial por meio do Instagram. Localmente, fiquei sabendo do Festival Quarentena, mas assisti muito pontualmente a programação", admite.

Para ele, esta modalidade tem muito potencial, visto que "apesar de mais reclusos em casa, por meio dessas redes, nos mantemos bastante conectados uns com os outros". Segundo Benjamim, essa perspectiva não parece excludente em relação a momentos presenciais, e pode se tornar tendência mesmo pós-pandemia. "Realmente, anseio que equipamentos culturais possam pensar e elaborar boas estratégias considerando essas novas formas de apresentar suas programações (musicais, teatrais, exposições, museus etc). Certamente, acessaria com muito gosto essas possibilidades", admite. E você, o que pensa a respeito?

Confira a programação:

Informações e curiosidades sobre obras do acervo do Espaço Cultural Unifor
@uniforcomunica no Instagram

Tutoriais de oficinas de arte e indicações de filmes sobre fotografia
@museudafotografiafortaleza no Instagram

Bate-papo "Teatro e Formação de Público", com Juliana Carvalho
Sexta (3), às 17h, @ufcarte no Instagram

Trecho do espetáculo "Carmin" e bate-papo com o artista Thiago Pereira
Sexta (3), às 19h, @centroculturalbomjardim no Instagram

Bate-papo ao vivo com o músico e produtor Erivan Produtos do Morro
Sexta (3), às 20h, @dragaodomar no Instagram

Show Rayane Fortes
Sábado (4), às 18h, @centroculturalbelchior no Instagram

Poesia com o Projeto Verso de Boca
Domingo (5), às 17h, @ufcarte no Instagram

Show Pulso de Marte
Promovido pelo @portoiracemadasartes
Domingo (5), às 19h, @pulsodemarte no Instagram

Workshop de Hip Hop Dance com Ezio Flor
Domingo (5), às 15h, @centroculturalbomjardim no Instagram

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