Com Kristen Stewart no elenco, 'As Panteras' dialoga com a era do 'Me Too'

Dirigido, produzido e roteirizado por Elizabeth Banks, novo filme da franquia unifica produções anteriores e fala da união das garotas como forma de enfrentar os dilemas do cotidiano

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@svm.com.br
Legenda: Novas agentes enfrentam poderosos inimigos e também precisam vencer dilemas internos
Foto: Divulgação

A série de televisão “Charlie’s Angels” foi fenômeno de audiência. Sedimentou na cultura pop o universo de três mulheres inteligentes, boas de briga e responsáveis por salvar o dia. Criada por quatro marmanjos para a emissora ABC, as cinco temporadas entre 1976 e 1981 também explorava a beleza divinal das atrizes. 

No Brasil (estreou em 11 de março de 1977), as detetives Kelly Garrett (Jaclyn Smith), Sabrina Duncan (Kate Jackson) e Jill Munroe (Farrah Fawcett) deixaram de ser anjas e ganharam alcunha de predadoras exóticas. São “As Panteras”. 

No fim dos anos 1990, Drew Barrymore comprou os direitos da produção e assim nasceu a primeira versão cinematográfica. Unidas a Barrymore, Cameron Diaz e Lucy Liu estrelaram uma obra que é o puro suco dos anos 2000. O cinema tinha acabado de ter as estruturas balançadas pela vertiginosa ação e efeitos especiais de “Matrix” (1999). Com McG no comando da direção, a nova versão injetava velocidade, calças de cintura baixa colada e muita pancadaria. 

As felinas voltaram em “As Panteras Detonando” (2003) e tiveram uma fracassada volta às telinhas em 2011. Quase 20 anos depois do primeiro filme, as agentes retornam aos cinemas. Dessa vez, a aventura é guiada por Elizabeth Banks, que além de dirigir, atuou, produziu e escreveu o roteiro. O legado segue agora nas mãos de Kristen Stewart ("Café Society"), Naomi Scott (“Aladdin”) e Ella Balinska

Legenda: Elizabeth Banks no set com Naomi Scott

O nome Charlie’s Angels refere-se ao dono da agência de detetives Charles Townsend. Ele nunca mostra o rosto e se comunica com as investigadoras particulares apenas pelo viva-voz. A diretora mantém essa referência do passado e coloca as protagonistas encarando as primeiras aventuras juntas. O dilema pessoal de cada uma é explorado. 

Batalhas 

Logo nos minutos iniciais, Banks já entrega as intenções do trabalho. Estamos no Rio de Janeiro feito por computador e embalado ao som de Anitta com a faixa “Pantera”. Disfarçada, Sabina Wilson segue num encontro romântico com um tremendo maleta, do tipo defensor de que o lugar de mulher é na cozinha. 

Após balbuciar um português irreconhecível, a personagem coloca o cara no seu lugar e a missão é concluída com sucesso. Sobem os créditos de apresentação, acompanhados pelas imagens de meninas das mais diferentes nacionalidades e etnias. Sim, “As Panteras” (2019) é um trabalho feito por garotas e para garotas. 

O filme interliga as histórias da série clássica e dos filmes dos anos 2000. Sabemos disso por conta de fotografias (na verdade, montagens bem toscas) e figurinos usados pelas agentes anteriores. Agora, a Agência Townsend atua em nível internacional, recrutando as mais bem treinadas mulheres do planeta. Sabina e a inglesa Jane Kano (Balinska) precisam salvar a pele de Elena Houghlin (Naomi). 

Ela é uma das cientistas mais importantes de uma empresa de tecnologia que desenvolve equipamentos de energia. Uma falha de programação transforma o projeto numa ferramenta perigosa. A pesquisadora até tenta alertar para o problema, mas não é escutada pelos homens que dominam a empresa, caso do almofadinha Peter Fleming (Nat Faxon). A única saída é pedir ajuda à organização de espionagem. 

Legenda: Kristen Stewart, Naomi Scott e Ella Balinska

Com umas reviravoltas aqui e acolá, um clima superficial de filme de espiões e um CGI mal empregado, Banks vai construindo a relação de amizade e confiança entre as meninas. Um pouco deslocada no serviço de engraçadinha do grupo, Stewart convence do meio para o fim. Balinska realiza uma boa estreia e a espevitada Elena criada por Naomi consegue cativar. 

“As Panteras” é uma produção despretensiosa, ingênua em alguns momentos e pouco preocupada com uma construção cênica séria. No quesito ação, as meninas deixaram de ser guerreiras saídas de “Matrix” e as lutas estão bem mais críveis. Cada aventura precisa da união de forças. 

A obra ilumina mulheres que precisam estar juntas na solução dos conflitos. O novo grupo de agentes não se resume apenas às caras e bocas da série dos anos 1970. Em contrapartida, pega empresado um pouco do nonsense dos anos 2000. Mesmo sem profundidade, o êxito da obra é tentar dialogar com as demandas sociais do presente. 

Elizabeth Banks insere as panteras nos tempos do “Me Too”. Até mesmo as mais letais profissionais do mundo estão à mercê do machismo. É um recomeço para a franquia. Algumas pontas ficaram soltas e uma continuação vai depender do lucro nas bilheterias. É obra que dialoga para um público adolescente e o objetivo aqui é entreter. Afinal, as garotas só querem se divertir. 

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