Celebração do movimento na sexta edição da Bienal Internacional de Dança do Ceará

Em espaços da Capital e do Interior, Bienal Internacional de Dança do Ceará De Par em Par completa uma década investindo na transversalidade de linguagens

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@diariodonordeste.com.br

Ora imobilizados, ora em fluxo frenético. Sempre nus. No palco, 12 intérpretes se valem de movimentos para refletir sobre a história da humanidade. Assim fazendo, transformam-se em corpos-mapas: ao se doarem como instrumento artístico, permitem travessias por diferentes leituras e abstrações.

"A nudez foi o melhor figurino que eu poderia colocar, tendo em vista que trabalhamos com movimentos interiores, de músculos. Não é uma ideia estética, mas dramatúrgica. A roupa é um aspecto social, então é preciso desencapar o corpo para revelar nossas origens. Se pudesse, tirava a pele", confessa o coreógrafo Guilherme Botelho, paulista radicado há mais de duas décadas na Suíça, país de origem do espetáculo "Antes", do qual é diretor.

Após passar pelo Festival de Dança de Londrina, onde fez sua estreia em solo nacional, a montagem - primeira parte da trilogia "Distância", idealizada por Botelho para a Companhia Alias - desembarca em Fortaleza para iniciar, nesta sexta (19), às 21h, no Theatro José de Alencar, a Bienal Internacional de Dança do Ceará De Par em Par.

O projeto chega à sexta edição em anos pares, comemorando uma década de apresentações nesse formato. O feito é refletido em vigoroso número: são mais de 125 apresentações locais, nacionais e internacionais. O alcance também é múltiplo: além da Capital - cujas apresentações seguem até 28 de outubro -, inclui as cidades de Paracuru e Pacatuba, nos dias 19 e 20; e Itapipoca e Trairi, nos dias 26 e 27. Toda a programação é gratuita e, em Fortaleza, realizada em diferentes equipamentos culturais.

Diretor geral da Bienal, David Linhares salienta que o formato De Par em Par representa uma continuidade do que acontece nos anos ímpares, mas permite o enfoque em outras matizes. "O projeto em anos pares veio como uma necessidade de aprofundar a formação e circulação de companhias no Interior, trabalhando mais enfaticamente a transversalidade".

Não à toa, é este último aspecto que ganha maior relevância em boa parte dos espetáculos, colaborando para o estreitamento de distintas linguagens, como cinema, circo, música e teatro.

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Expressões

A expectativa, segundo a organização, é que cerca de 40 mil pessoas vejam essa mescla de expressões. Além da montagem suíça, outras atrações se destacam na noite de abertura, que acontece também no Teatro São José - recém-restaurado e reaberto - a partir das 22h, com DJ Guga de Castro e Linn da Quebrada. A paulista comanda o show "Trava línguas", ao lado de BadSista, como é conhecida a produtora paulistana Rafaela Andrade.

Na sequência, sobe ao palco o coletivo cearense Carnaval do Inferno, com "Balé contempiranha apresenta: o lamento das demonyas", dirigido por Darwin Marinho. O trabalho é um dos quase 90 assinados pelos mais de 80 grupos e artistas-solo locais participantes.

"Somos porta de entrada para companhias internacionais circularem no Brasil. O que observo, hoje, é que elas chegam por Fortaleza ou partem daqui, o que torna nossa cena consolidada. Fomentar esse fluxo é bastante necessário", analisa Linhares.

Neste ano, a Bienal envolve profissionais da França, Inglaterra, Canadá, Suíça e Alemanha. A canadense Cie Marie Chouinard, por exemplo, estreia no evento com inspiração na pintura "O jardim das delícias terrenas", de Hieronymus Bosch (1450- 1516).

Nacionais

Já os trabalhos nacionais vêm de diversos lugares do País, onde a dança tem crescido como suporte para a inovação. São Paulo, Santa Catarina, Brasília e Curitiba são os estados contemplados desta vez, eleitos pela curadoria de David Linhares e Ernesto Gadelha.

Vale ressaltar que o evento será realizado com 50% do seu orçamento habitual, pela dificuldade de angariar recursos. "Por isso esta Bienal se afirma como um grito de resistência, tendência que observo não apenas nos espetáculos brasileiros, mas estrangeiros. Pergunto-me se vamos conseguir realizar a Bienal em 2019", lamenta Linhares.

Intercâmbio de linguagens

"Convervexion", de No Barraco da Constância tem! (CE): cinema, games e uma reflexão de como a tecnologia pode influenciar as artes cênicas. Na montagem - desenvolvida em residência de criação com Amy Bell pelo Programa Pontes - Oi Futuro -, são esses vieses postos em evidência, dividindo entre o que é apresentado no palco e projetado na parede. "O vazio é cheio de coisa", da Cia. Nós do Bambu (DF): o trabalho é uma homenagem ao bambu, vegetal que reconduziu a carreira da produtora e dançarina acrobata Poema Mühlenberg, idealizadora e cofundadora da companhia. O espetáculo aposta nas formas de interação cênica com instrumentos provenientes da planta. "De carne e concreto - uma instalação coreográfica", da Anti Status Quo Companhia de Dança (DF): vale-se da performance art, das artes visuais e de experimentos sociais para refletir sobre a atual condição humana das grandes metrópoles, a partir da perspectiva do corpo, incluindo espaço e público como partes da obra. "Hieronymus Bosch: O jardim das delícias terrenas", da Companhia Marie Chouinard (Canadá): o diálogo da montagem é com a pintura, coreografado em três atos do famoso tríptico "O Jardim das Delícias Terrenas", do pintor holandês Bosch: Ato 1 - O jardim das delícias (painel central); ato 2 - Inferno (painel da direita); e ato 3 - Paraíso (painel da esquerda).

Serviço

Bienal Internacional de Dança do Ceará - De Par em Par

De 19 a 28 de outubro em diferentes equipamentos culturais de Fortaleza, Paracuru, Pacatuba, Itapipoca e Trairi. Abertura: nesta sexta (19), às 20h, no tja (R. Liberato Barroso, 525, Centro). Gratuito. Entrada por ordem de chegada. bienaldedanca.com

 

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