Cantores Simoninha e Max Viana comentam legado da música negra brasileira

Artistas participam em Fortaleza do show "Os Filhos dos Caras", que homenageia os ícones Simonal, Tim Maia e Jair Rodrigues

Escrito por Redação ,
Legenda: Homenagem e encontro no palco são uma das características do show
Foto: Patricia Ribeiro/Marcos Hermes

Atração do 12ª "Encontro de Mulheres", que acontece entre os dias 16 e 19 de maio, no Centro de Eventos do Ceará, "Os Filhos dos Caras" trata de um projeto musical intinerante promovido pelos filhos de Tim Maia (1942-1998), Wilson Simonal (1938-2000) e Jair Rodrigues (1939-2014). Na Capital cearense participam os músicos Simoninha e Léo Maia que sobrem ao palco na companhia de Max Viana, filho do alagoano Djavan.

Simoninha e Max Viana comentam a importância desses mestres da música negra brasileira, falam das carreiras solo e analisam o atual momento cultural do Brasil 

Verso: O legado de seus pais atravessa a história da música negra brasileira. Além da trajetória de cada um de vocês no cenário artístico, como vocês analisam a música produzida pela atual negritude do Brasil, vocês percebem uma juventude, uma nova geração? Como vocês percebem esse momento? 

Simoninha: A música acompanha o tempo em que se vive, acompanha a realidade do momento. Nos anos 1960, a música negra ganhou muita força. Teve muita música de protesto, no caso da música negra norte-americana teve o encontro com o 'spiritual', que são as músicas de igreja. Se juntou também com uma música mais popular. Encontrou-se dois caminhos. Uma música que falasse de amor, de romântico e outro onde se encaixa as músicas de afirmação. Surgiram gravadoras e artistas como Jackson Five, Ottis Reading, Temptations, Supremes, enfim, uma infinidade de talentosos artistas foram surgindo, ocupando espaços.  

Aqui no Brasil fomos influenciados por isso e outras coisas como o samba. Boa parte dos negros se identificava com o samba por conta da origem. Acabamos desenvolvendo algo diferente e com flretes de misturas. Do samba com a música negra americana. Você tem Jorge Ben, Simonal, Tim Maia, Cassiano que foram esse caminho no País. Hoje, no tocante à atual música negra brasileira, o mundo mudou. É uma questão diferente hoje. Passa pelo funk, hip hop. Agora tem uma nova leva de artistas e intérpretes chegando, mas ainda acho que é cedo identificar essa 'música negra'. Temos que viver mais esses tempos e entender isso com mais certeza. Identifico isso mais no funk e hip hop brasileiro. Obviamente, o samba continua sendo uma forte manifestação, não só da música negra. Somos um País muito miscigenado e essa mistura propicia algo diferente.  
 
Max Viana: Muita coisa nova sendo feita no brasil. A internete democratizou muito a divulgação desses trabalhos. Somado à isso, o fato de que hoje em dia é mais fácil e barato criar contéudo, vemos muita gente produzindo, inclusive nas classes menos favorecidas. Você tem o fenômeno do funk, que tanto no Rio de Janeiro, quanto em São Paulo nos guetos. O hip hop com predominância grande dos negros fazendo, por causa do ritmo. 

Claro, tá aberto a todos os gêneros, todas as cores, todas as classes, mas, com predominância grande das pessoas de periferia fazendo um tipo de música e sendo consumido até por grupos que não são da periferia. Prova disso é o 'Espaço Favela' do Rock in Rio dando oportunidade e chance para um monte de gente. Acaba sendo bacana você ver uma galera retratando seu tipo de vida e encontrando eco em pessoas que vivem as mesmas coisas, moram nos mesmo lugares, que tem os mesmos problemas ou as mesmas alegrias, por que nem só de problema se fala nesse tipo de música. Se fala muito do cotidiano e acaba que essa democratização aproxima um pouco esse conteúdo artístico de quem gosta de consumir, de frequentar, que vai nas periferias, que vai nas favelas, que frequenta os bailes. É muito legal que isso seja democratizado.  

V: Qual foi a premissa dessa reunião, além da homenagem existe alguma intenção de vocês produzirem de forma coletiva, ciar um material inédito? 
 
S: Quando você junta as pessoas, sempre tem essa possibildiade de fazer algo inédito. O que é mais fantástico é estimular a criatividade, seja ela no coletivo ou nos trabalhos individuais. Isso é que é o bacana dessa reunião. 
 
MV: A premissa número um dessa reunião é realmente celebrar esse repertório maravilhoso, esses grande artistas, esse tipo de música, composição, de letra com uma riqueza melódica, estética, sonora, literária. É muito bacana poder reunir esse repertório em forma de homenagem e, claro, a chance de mostrar para outra galera um repertório que fez tanto sucesso. Se você pegar os casos de Tim e Simonal, que infelizmente não estão mais aqui entre nós, é você trazer para um grande público uma musicalidade que merece ser ouvida e degustada de várias formas e por todos os anos seguintes. 

V: No atual momento brasileiro, de um País assolado pelo ataque ao pensamento científico e uma onda de descrédito pela cultura e informação, que contribuição, ou mensagem, vocês imaginam que seus pais entregam à cultura nacional? 

S:Acredito que um País venda sua imagem, sua identidade, muito pela cultura. A cultura é um meio muito forte para vender isso e a música, assim como o esporte, no caso do Brasil, são manifestações que ajudaram a forjar a melhor imagem do Brasil lá fora. A questão de vários movimentos artisticos como a Bossa Nova, que tem uma responsabilidade lá fora. Isso ajudou muito. No esporte, até hoje identificam o Brasil com o Pelé. Enfim, acho que se você pegar por exemplo os Estados Unidos, eles tentam transformar sua música em algo hegemônico, para vender sua cultura, sua forma de viver. 

Você tem a prória Paris, você quer ir nos museus, na Torre Eiffel, nas grandes exposições. Tudo isso se liga com a cultura e é fundamental. Tudo isso gera divisas enormes, o mercado de entretenimento (música, cinema, artes) no Brasil, hoje, emprega muito mais gente que outras áreas festejadas. O mundo mudou, numa velocidade muito grande. Tem certas profissões que cada vez tem menos sentido. Tem aspectos da cultura que foram endemonizados, por mal funcionamento, mas isso acontece em todas as atividades. Se olharmos todas as outras atividades, inclusive a política, vamos se assustar com coisas que são erradas. Então, onde foi errado você tem que consertar, tem que punir se alguém fez errado. Tem que olhar o processo como um todo.     
 
MV: Você pegar grande ícones da música que tem um trabalho de uma relevância enorme, que ajudaram a moldar culturalmente a música do nosso País, e você poder trazer isso, não só nesse momento de descrédito e desvalorização da cultura no Brasil, mas acho que em qualquer momento é super importante. Afinal, a música brasileira ganhou o status que tem mundo afora por conta de artistas como esses que estamos homenageando. É sempre bom lembrar o porquê da força de nossa música brasileira. 

Legenda: Formação presente em Fortaleza
Foto: DIVULGAÇÃO

 
V: O que cada um de vocês tem produzido individualmente para 2019? Quais são os projetos que estão em mente? 
 
S: Estou preparando um disco, estou em conversas com o Moogie Canazio (Maria Bethânia, Caetano Veloso, João Gilberto) que é grande engenheiro e produtor. Trabalhou com muita gente, hoje é erradicado no Estados Unidos, em Los Angeles. Provavelmente estaremos gravando por lá no segundo semestre.  
 
MV: Para o ano de 2019 estou produzindo um trabalho novo que vou lançar no formato de singles. Em maio vai sair o single "Cada um em sua direção" . Ao longo do processo vão ter algumas parcerias, algumas coisas interessantes. 
 
V: Como se deu a escolha de repertório? Diante do tremento acervo homenageado, como foi a seleção das músicas e como rola a escolha de quem canta qual os temas? 
 
S:Da forma mais natural possível escolhemos o repertório. Criamos um show para emocionar, deixar as pessoas felizes. Obviamente, para apresentar, também, para outras gerações um pouco da obra dos nossos pais. Então, tentamos sempre mudar, acrescentar outras músicas e experimentar. Como o repertório é muito grande, temos essa possibidiade de brincar com ele, no sentido de deixar sempre vivo e tem sido muio bacana a reação das pessoas. 
 
MV:A escolha é bem livre. Temos uma interação muito grande com o repertório um do outro, dos pais. Além de amigos, fãs, fizemos alguns trabalhos juntos. Inclusive, com o Léo Maia estudei na mesma escola. O Simoninha e Max já fizemos muita coisa juntos, então, não é difícil. O bacana desse projeto é que o repertório vai mudando. Na hora puxamos uma coisa que não estava ensaiada. Ao mesmo tempo, como falei, por conta do conhecimento desse acervo, foica uma coisa naturalmente fácil d eencaixarmos e ter o frescor de trazer sempre coisas novas.  

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