Bienal do Livro: Festival da Ilustração debate grafite, censura e protagonismo negro e feminino

Destaque na programação da XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará, o festival homenageia o professor Geraldo Jesuíno da Costa, fundador do Laboratório de Quadrinhos da UFC

Escrito por Wolney Batista , wolney.santos@verdesmares.com.br
Legenda: Acidum Project, dos artistas Tereza Dequinta e Robezio, leva arte a fachadas e estruturas urbanas há pelo menos 10 anos
Foto: FOTO: SAULO ROBERTO

Abrir um livro é um convite para deixar a imaginação voar. Isso é óbvio e tanto já foi dito. Mas é importante ressaltar que a viagem literária não é feita só de letras, ela é também acompanhada por traços e cores. Quem nunca montou produções cinematográficas na mente a partir das ilustrações da leitura da vez? Ou já se deixou paquerar, por longos minutos, a arte da obra exposta na vitrine da livraria? Reparação seja feita: sim, o livro pode ser comprado pela capa.

Destacar a relevância e jogar a luz do debate sobre a trajetória da produção artística que estampa as páginas das publicações é a base do Festival da Ilustração, um dos eixos que compõem a XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará, iniciada na última sexta-feira (16) e segue até o próximo domingo (25), no Centro de Eventos do Ceará. A programação é inteiramente gratuita.

"O festival pretende visitar alguns desses infinitos e mágicos pontos de relação entre o texto e a imagem, pois entendemos que a ilustração confere ao livro, além do seu valor estético, o apoio, a pausa e o devaneio tão importantes numa leitura criadora", acentua Rafael Limaverde, curador do Festival ao lado de Eduardo Azevedo.

Nesta quarta edição na Bienal, o Festival homenageou, na abertura, o ilustrador, jornalista, designer gráfico e professor aposentado da Universidade Federal do Ceará (UFC) Geraldo Jesuíno da Costa. O Salão conta ainda com bate-papos, palestras, oficinas, mesas-redondas e encontros.

"A formação do leitor envolve também a formação do olhar, em que por meio de uma sensibilização artística poderemos criar as bases para um processo educativo eficiente. O espaço está sendo um ponto de encontro para a produção e pensamento em torno da ilustração. Tanto para as crianças, que têm espaço aberto e material para essa produção, quanto para os profissionais", pontua Rafael.

O coordenador ressalta que o atual cenário da ilustração no Ceará está em crescente amadurecimento. "Nós temos vários artistas que trabalham tanto para o mercado local quanto até mesmo internacional e que utilizam diversas formas de se expressar".

Legenda: Ilustração intitulada "Tempos Escuros", criada por Geraldo Jesuíno, homenageado do festival

Destaques

Alguns desses cearenses debatem temas significativos para a atualidade dentro da vasta programação do evento. Os artistas Solrac, Thyagão Marquinhos Abu, Narcélio Grud e Ceci Shiki trocam experiências na mesa-redonda "Graffiti, ilustrando a cidade", que acontecerá às 19h da quinta-feira (22), na Arena Multicultural Juvenal Galeno.

O encontro debaterá a conexão das artes de rua com a urbe, em alinhamento com o tema geral da Bienal - "As Cidades e os Livros". "Quando o tema foi colocado, a primeira coisa que eu e o Rafael imaginamos foi ver a cidade ilustrada. As cidades como se fossem um livro aberto e as paredes como se fossem as páginas", contextualiza o curador do Festival, Eduardo Azevedo.

No mesmo espaço e horário, nos dois dias seguintes, a Bienal reforça a representatividade ao levar para discussão os temas "Ilustração e Negritude" e "Mulheres Feministas Ilustradoras", respectivamente na sexta-feira (23) e no sábado (24). As palestras serão das artistas cearenses Fernanda Meireles e Raisa Cristina, do mineiro Cau Gomez e da paulista Evelyn Queiróz, conhecida como Nega Hamburguer.

"Os tópicos têm muito a ver com o momento atual que o País vive. A Bienal, assim como o Festival da Ilustração, tem uma pegada de resistência. A cidade hoje necessita dessa representatividade e dentro do nosso meio de ilustradores temos uma galera que faz parte dessas lutas", politiza Eduardo Azevedo.

Legenda: Obra do coletivo Acidum Project, no Mercado Central de Fortaleza
Foto: FOTO: YAGO ALBUQUERQUE

Na noite de encerramento do evento, no domingo (25), o filho do cartunista e crítico da Ditadura Militar Henfil, Ivan Cosenza de Souza, participa do bate-papo "Ilustração e censura" com o artista catarinense Alexandre Beck, criador do personagem "Armandinho".

"O Alexandre Beck tem um trabalho com o 'Armandinho' que é muito contundente com as colocações dele e em relação ao que o País está vivendo hoje. A gente está em um processo que cada dia está se tornando mais rígido e isso reflete diretamente nas cidades. A ideia é que o cartunista leve o debate, que hoje está na sua arte e nas redes sociais, para o público. Já o Ivan vai fazer um resgate da obra do pai dele, que continua muito atual", analisa Eduardo.

Serviço

XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará
Até dia 25 de agosto, de 10h às 22h, no Centro de Eventos do Ceará (Av. Washington Soares, 999 - Edson Queiroz). Programação gratuita.

Assuntos Relacionados