Autora do livro de Fagner escreveu a biografia de Elis Regina, parceira do cearense

Para além da amizade e da parceria musical, Fagner e Elis Regina tiveram suas histórias de vida abordadas pela mesma autora, a jornalista Regina Echeverria

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@diariodonordeste.com.br
Legenda: Fagner ao lado de Elis Regina e Ronaldo Bôscoli, seus dois "padrinhos" no Rio de Janeiro
Foto: Fotos: Acervo Raimundo Fagner

No início da década de 1970, Raimundo Fagner chegou ao Rio de Janeiro e, para alguém tão ligado às raízes, encontrar um "chão" em solo carioca foi uma peleja, com contornos dramáticos de até faltar comida no prato. Na expectativa pelo encontro com o cearense, a cantora Elis Regina (1945-1982) conheceu o cantor e os dois logo ficaram amigos.

A artista e seu marido à época, Ronaldo Bôscoli (1928-1994), sensibilizaram-se diante das condições precárias em que Fagner vivia em Copacabana e convidaram o cearense para morar com eles. Orgulhoso da aproximação, o cantor chegou a escrever uma carta para os pais, em 1972, comemorando o apadrinhamento. "Já estou com esse pessoal da maior importância. Ronaldo e Elis estão gostando muito de mim. É como se fossem meus pais. Ela cita meu nome em todas as entrevistas, dizendo que sou a revelação deste ano".

Elis partiu cedo, há 37 anos, e agora a história da dupla se entrelaça novamente por meio da jornalista Regina Echeverria, 67. Veterana da imprensa paulistana, com passagens pelas revistas Veja, Istoé e pelo jornal O Estado de São Paulo, dentre outros veículos de comunicação, Regina escreveu a biografia de Fagner e também foi autora do livro que conta a história de Elis ("Furacão Elis", cuja primeira edição saiu em 1985).

Segundo Fagner, a credencial da autora não influenciou para que ele autorizasse a apuração e publicação da nova biografia. Regina Echeverria, no entanto, detalha como se aproximou do cearense, ainda na década de 1970.

"Conheci o Fagner há muitos anos. Trabalhava na Veja e fui fazer uma matéria com ele. Daí nós tivemos milhões de encontros. Sabia do temperamento dele. E de como ele é, e enfrenta as coisas da vida, compra brigas. Ele defende com unhas e dentes o que realmente acha", atesta a biógrafa.

Legenda: Quando Fagner ganhou o Festival de Música Jovem do CEUB, em Brasília (1971), com "Mucuripe"

Para conceber a biografia do cearense, Regina começou a pesquisar há três anos. A autora consultou jornais, revistas, dentre outros materiais de imprensa. E dá crédito à irmã de Fagner, Marta Lopes, pela liberação do conteúdo do acervo da família. "Ela era bibliotecária, então guardou, ao longo da carreira dele, muitos recortes e me ajudou bastante. Tinha material de vídeo, muita coisa. É superorganizado, tudo digitalizado", revela a jornalista.

Supervisão

Regina situa que realizar o projeto foi diferente, em relação às biografias que já tinha publicado. Segundo ela, Fagner acompanhou bastante o processo. "Então houve coisas que ele quis mexer, quis tirar, e eu quis colocar, mas ele fez isso junto à editora", pondera.

A jornalista quis abrir o livro com Bruno, o filho de Fagner. "Achei uma história legal, você ganhar um filho adulto, e netos, quando não está esperando e nunca se casou. Ele ganhou uma descendência inesperada, e achei isso bem importante na vida dele", diz a autora sobre o herdeiro do cantor, nascido depois do lançamento do primeiro LP do cearense.

Surpresa com a história de Bruno, Regina recapitula que já conhecia Seu Fares e Dona Chiquinha "socialmente", mas saber outras memórias de infância lhe deu uma amplitude maior sobre os laços familiares de Fagner.

"Nunca tinha pensado em escrever a biografia dele. É uma pessoa que assume o que diz, não nega os conflitos, e eu só tinha encontrado uma outra pessoa assim na minha carreira, Elis Regina".

(Livro)

Raimundo Fagner: quem me levará sou eu
Regina Echeverria

Editora Agir
2019, 440 páginas
R$ 49,90

Assuntos Relacionados