As cidades e os livros

Escrito por Ana Miranda , anamiranda@diariodonordeste.com.br

Vem aí a Bienal do Livro do Ceará, em agosto. É o nosso maior e mais emocionante acontecimento literário. O Ceará se impõe, diante do País, como um estado de inteligência e modernidade. Virá gente de todas as partes do Brasil e mesmo de outros países, para esse fato extraordinário.

É a terceira maior Bienal de Livros de nosso país, atrás apenas das de São Paulo e do Rio. Mas, com certeza, é a primeira em alegria, entusiasmo, acolhimento e afeto.

O tema este ano vai ser "As cidades e os livros", tema urgente, que nasceu de um texto do Fabiano Piúba, nosso secretário da cultura, e abraçado por todos os que trabalham na preparação do fantástico evento. "A cidade é uma escrita e também uma leitura. Podemos dizer, então, que é um livro", escreveu Fabiano num de seus trabalhos sobre a leitura. As cidades são livros que podem ser lidos mesmo em suas páginas mais obscuras.

Hoje vivemos em galáxias de gente, sejam metrópoles ou aldeias, e é propício o momento para compreendermos melhor como funcionam as cidades, como as sentimos, como podem ser aperfeiçoadas para o bem comum. Todos somos afetados por esses conglomerados, que oscilam entre a ordem e o caos, entre a fruição e a violência.

A brutalidade das cidades atinge sobretudo os jovens das "periferias". Mas, também, é nas periferias que tem nascido toda uma cultura inovadora, combativa, ágil, que dá voz às demandas mais cruciais de uma sociedade desigual e a uma realidade de abandono.

A Bienal terá um espaço dedicado a esse fenômeno. Terá, igualmente, um espaço dedicado às questões de negritude, elaborado em conjunto com a Unilab, detentora de um saber específico sobre o tema. São jovens negros os que mais sofrem com a realidade violenta das nossas periferias, com as exclusões, com o desamparo.

Haverá um espaço dedicado aos nossos povos nativos (eles não querem mais ser chamados de índios), donos de uma cultura a mais primeva entre tudo o que nos formou. Um espaço para os nossos autores cearenses, para os tocadores de rabeca, cantadores, cordelistas, circenses... Um alegre espaço para crianças, um vasto espaço para a voz feminina, um para novos autores, para a poesia, o devaneio, para ilustradores de livros, para revistas literárias, academias, clubes de leitura - fenômeno deslumbrante de nossa atualidade. Um espaço para café.

A programação vai trazer escritores que pensam nas geografias: o que foram as cidades clássicas, os subterrâneos das cidades, as paisagens nas memórias, as cidades barrocas, as sertanejas, as aldeias do silêncio, as cidades vistas por viajantes, os diferentes exílios, a geografia da felicidade...

Todas essas pessoas sabem ver, formam opinião e serão embaixadoras de nossa beleza cearense, de nosso acolhimento, pensamento. E vamos ouvir a bela orquestra de barro Uirapuru e o coro de crianças da Tapera das Artes. Mas a Leitura será a protagonista. Ao subir ao palco, os convidados vão ler uma página de sua obra, em voz alta.

A Bienal do Livro já pertence à cidade, foi abraçada pela população, que comparece em massa, enche os corredores, lota as salas de palestras, ocupa as cadeiras diante das mostras. Dá orgulho morar numa cidade capaz de um evento dessa grandeza.

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