Amante da culinária caseira, Eduardo Campelo aposta em ingredientes regionais, cores e texturas

A gastronomia e a admiração pela comida caseira são complementares na trajetória do chef. Desde cedo, a culinária de sua mãe despertava o interesse do menino que, mais tarde, investiu na área

Escrito por Redação ,
Legenda: O Tartare de pargo com tangerina, beterraba frita e pesto de coentro é um dos pratos elaborados pelo chef Eduardo Campelo
Foto: Fabiane de Paula

O amor pela gastronomia tem explicação: herança materna. "A minha mãe sempre cozinhou muito bem. E quando fui morar sozinho, tinha que me virar. Eu ficava ligando para ela e perguntando como fazia as comidas. Ela me dava as dicas e ficava muito bom. Até hoje, quando tenho alguma dúvida, ligo para ela", relata.

Mas o interesse de Eduardo Campelo, 39 anos, pela cozinha, surgiu de fato quando sua mãe, Maria Lúcia, se aventurou em um prato especial para comemorar o aniversário do filho. Para fugir da tradicional feijoada, ele sugeriu à mãe uma moqueca de arraia, mesmo sem ela nunca ter preparado. Primeiramente, a receita foi testada em um pequeno almoço. No dia da festa, a quantidade aumentou para 20 kg e, para a surpresa de todos, não houve nenhuma alteração de sabor quanto à primeira vez. "Não é todo mundo que consegue fazer isso, não. Então, eu também quero aprender isso", recorda.

Embora diga não ser "muito bom de memória", o chef acredita, inclusive, na possibilidade de este ter sido o primeiro prato que preparou sozinho. No entanto, os caminhos do chef fizeram algumas curvas. Formado em Jornalismo, somente por volta dos 30 anos começou a investir na sociedade de um bar. Após um certo tempo dividindo a responsabilidade com o amigo, optou em sair do negócio para se dedicar à própria carreira.

Em 2011, Campelo participou do curso de Técnico em Gastronomia, no Senac. As aulas duraram um ano e foram decisivas para que grandes oportunidades se abrissem. Neste período, ele conheceu um chef francês, dono de um restaurante em São Paulo, que o chamou para estagiar lá. A princípio, a estada deveria durar um ano, mas foi prolongada em decorrência da contratação no L'amitié, onde atuou por mais de três anos.

A partir destas experiências, Eduardo resolveu voltar para Fortaleza e apostar em outras possibilidades. Começou pelo Rapadura Foodtruck, de domínio próprio, passando por bufês de condomínios de luxo e um restaurante italiano.

A partir de então, ele percebeu que a comida caseira era o que realmente o fascinava. E em um timing perfeito, surgiu o convite para trabalhar no restaurante Mar de Rosas, em que segue a mesma premissa da culinária do chef. Na casa desde janeiro de 2019, o também participou da construção do cardápio.

Criando sabores

Aos poucos, Campelo foi adquirindo maior familiaridade com os ingredientes e passou a elaborar suas próprias receitas. "Meu xodó é o Tartare de pargo com tangerina, beterraba frita e pesto de coentro. Eu estava morando em São Paulo quando o Senac me chamou para dar uma aula, e eu precisava mandar a receita no dia seguinte. Mandei sem testar, depois que eu vi que estava boa mesmo", recorda. Como acompanhamento, o chef indica um vinho branco mais suave.

Legenda: O chef Eduardo Campelo seguiu os passos da mãe na cozinha
Foto: Fabiane de Paula

Segundo Eduardo, alguns truques de combinações de componentes podem mudar completamente o prato e deixá-lo mais marcante. "Uma coisa que eu aprendi é que, quanto mais elementos diferentes, mais complexo e completo ele fica. Nessa opção (o tartare de pargo), eu coloquei um cítrico, um amargo, um adocicado, um gelado, um quente, um crocante. Quanto mais elementos, mais interessante fica no paladar. Eu busco sempre colocar texturas, temperaturas e sabores diferentes no mesmo prato".

O Mar de Rosas traz algumas criações de Campelo. A lista de executivo foi toda produzida pelo chef. Lembra da receita de moqueca de arraia de dona Maria Lúcia? Ela também está inclusa no menu, além de algumas massas. Outras receitas autorais serão adicionadas em breve, a exemplo do sirigado com crosta de coco e castanha-de-caju e purê de abóbora.

Um dos diferenciais destes pratos é o uso de temperos regionais. A culinária do restaurante busca fugir dos condimentos mais tradicionais e apostar nos locais, como cebola, tomate, pimentão e coentro. "O que a gente tem aqui de abundante e de maior qualidade é com o que eu gosto de trabalhar, a exemplo da abóbora, macaxeira, batata-doce", acrescenta .

Mas do que Eduardo gosta mesmo de consumir? Apesar de preparar pratos bem elaborados e cheios de acabamentos, ele diz que prefere mesmo uma "comida simples". Picadinho, baião de dois e paçoca estão em primeiro lugar no ranking.

Quanto ao que o reserva para o futuro, a resposta do chef foi direta: comida vegana. "Eu estou estudando bastante sobre comida vegana, acho que o futuro da alimentação é um consumo mais consciente. Acho que tem um leque enorme de opções que a gente não conhece tanto", explica. A proposta visa também a que os clientes tenham mais alternativas no cardápio e fujam do trivial arroz, feijão, salada e proteína.

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