A vida sem rodeios de Seu Lunga

A fama de não ter papas na língua se espalhou nos arredores da loja em que trabalhava

Escrito por Antônio Rodrigues , antonio.rodrigues@diariodonordeste.com.br
Legenda: Joaquim dos Santos Rodrigues, o Seu Lunga, estabeleceu-se como vendedor de sucata, ainda na década de 1960
Foto: FOTO: LUCAS DE MENEZES

Filho dos agricultores Zé Rodrigues e dona Rêis, Seu Lunga nasceu em 18 de agosto de 1927, no Sítio Gravatá, em Caririaçu. Com a seca, a família se mudou para Juazeiro do Norte. Na terra do Padre Cícero, ainda rapazote, Lunga pôs um comércio na Rua São Paulo, próximo ao Mercado Central, vendendo arroz, milho, feijão e outros cereais. Pouco tempo depois, comprou uma máquina para moer e incluiu o fubá nos seus produtos.

Mas foi como vendedor de sucata, nos anos 1960, que se estabeleceu. Sua loja, um vão estreito, na Rua Santa Luzia, vendia e revendia ferro velho, parafusos, eletrodomésticos, entre outras peças raras. Além disso, consertava os mais diversos objetos como ventilador, portas, bicicletas, ferro de engomar. Sentado, de chapéu, que só tirava pra tomar banho, com bituca de cigarro no canto da boca, sem tragar, passava horas em frente do estabelecimento.

A loja ficava a seis quadras de sua casa e o trajeto era feito de bicicleta, até quase sofrer um acidente e a família o proibir. Como um ritual, Lunga saía de casa às 7h30 e retornava 11h30 para almoçar. Voltava para o trabalho às 13h30 e ia descansar às 17h30. Na refeição, não podiam faltar três coisas: arroz, feijão e banana.

A fama de não ter papas na língua se espalhou nesse contexto. Um exemplo aconteceu quando um cliente chegou à loja e perguntou: "Seu Lunga, esse ventilador pega?", prontamente, o comerciante respondeu: "Não, eu passei para lá e para cá e ele nunca me pegou. Se você perguntasse se ele estava funcionando, eu colocava para você ver", bradou. A filha mais velha, Socorro, confirma a veracidade da história, pois aconteceu com um amigo dela.

Causos em cordéis

As pessoas que conviveram com o personagem por mais de 50 anos, vizinhos a sua loja, presenciaram muitas situações como esta. "Ele não admitia que falasse errado. Corrigia na hora. Eu levava na brincadeira", diz a artista plástica Teresa Neuma Xavier, que mora em frente à antiga oficina. Segundo ela, pouco antes de falecer, o comerciante ainda soltou de suas respostas quando uma visitante lhe pediu informação. "Seu Lunga, como faço pra chegar ao cemitério?", indagou. "É muito fácil. Morra!".

O pesquisador Renato Casimiro contabilizou 78 títulos de cordéis contando supostas histórias do comerciante, além d'O Homem mais zangado do mundo. Foi assim que os causos tornaram-o famoso. 

Assuntos Relacionados