A percepção do outro marca a obra fotográfica de Pierre Verger

A capacidade de olhar para o diferente é uma das características mais significativas do fotógrafo francês, que ganha exposição no Museu da Fotografia, em Fortaleza

Escrito por Wolney Batista , wolney.santos@verdesmares.com.br

A singularidade da obra de Pierre Verger, seja na fotografia ou nas pesquisas etnográficas, em voltar o olhar para o exterior, o outro, o diferente, e conseguir retratá-lo com o apreço necessário é uma das características mais significativas do acervo do artista.

A opinião é comum entre Iana Soares, fotógrafa, jornalista e mestre em Criação Artística Contemporânea pela Universidade de Barcelona; e Silas de Paula, professor, fotógrafo e Doutor em Comunicação pela Universidade Loughborough, na Inglaterra.

Além de convergir com o pensamento da doutora em educação brasileira Silvia Maria Vieira, que se debruçou sobre o universo religioso do candomblé em suas pesquisas de mestrado e doutorado.

Iana conheceu o trabalho de Verger há cerca de uma década e meia, quando parte do acervo do francês passou por Fortaleza pela primeira vez. "Me chamou atenção a diversidade de rostos, gente, e os vários lugares do mundo retratados. A possibilidade de encontro entre mundos e do olhar de respeito pelo outro", relembra.

O encontro tocou a fotógrafa quando ela ainda nem cogitava enveredar na profissão e seguiu como referência, principalmente no início da carreira. "Me interessa esse lugar do diálogo, essa oportunidade de estar com pessoas diferentes. A foto, não só de Pierre, mas de outros fotógrafos mais humanistas", reflete.

O professor de fotografia Silas de Paula revela que as imagens de Verger o afetam profundamente. "Elas engrandecem o ser humano retratado. A luz, os ângulos, os recortes nas fotografias são aulas de visualidade humanista que nos ensinam um modo primordial de olhar o 'outro'. Ou melhor, de ver e não simplesmente olhar", analisa o profissional.

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O legado do francês se torna mais atual diante do cenário de intolerância, entre elas a religiosa, que estampam a contemporaneidade. "Muitas pessoas têm a tendência em perceber tradições religiosas diferentes das suas como uma ameaça às próprias crenças ou, na melhor das hipóteses, simplesmente como folclore. Verger assumiu a religiosidade negra baiana na qual vivenciava essa tradição como valores a serem preservados e respeitados", fundamenta Silas para apontar a relevância do fotógrafo na sociedade do século XXI.

"Suas fotos e textos sobre a religiosidade negra nos mostram e falam do humano que procura transcender, o que nos ensina que independe da cor, da raça, dos credos. Em suma, das diferenças".

Nesse pensamento, a doutora Silvia Maria reafirma o feito da exposição. "Ajuda as pessoas a se conhecerem e reconhecerem o candomblé como parte da cultura brasileira. E, a partir daí, valorizarem essa religião como parte das africanidades do Brasil".