Suspeitos de ataque a bancos estariam 'hospedados' em Barro

Um bar no distrito de Santo Antonio do Barro, no município vizinho a Milagres, seria um dos pontos de apoio à quadrilha que tentou explodir o Bradesco e o Banco do Brasil, numa ação que terminou com 14 mortos, entre eles seis reféns

Escrito por Melquiades Júnior , melquiades.junior@diariodonordeste.com.br

Após a madrugada de tiroteio, Milagres acordou desconfiada.

- Tem um cara muito estranho ali, que ninguém sabe quem é. Está muito nervoso, direto no WhatsApp. Tenho pra mim que esse cara ali?

Era um funcionário da Enel, companhia energética, dirigindo-se à concentração de policiais para apontar uma situação muito suspeita. Na manhã de sexta-feira, quando a cidade soube da 'guerra', qualquer pouco movimento diferente já parecia suspeito demais. No medo, todo diferente é estranho.

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Mas a suspeita estava correta. O tal rapaz nervoso, que acabava de entrar numa van, era Robson, prestes a fugir. Se o plano de roubo aos dois bancos não foi perfeito, se não trágico, a sua fuga tinha tudo para ser perfeita.

Durante o confronto, na madrugada, enquanto via seus comparsas fugirem de carro ou serem abatidos pela Polícia, Robson consegue sair de cena, em meio ao tiroteio, e dar uma volta no quarteirão para a rua por trás do Banco do Brasil. Na casa de portas e janelas amarelas, de número 120, enxerga uma luz acesa e mete o pé. 'Dinda', já acordada por conta dos estampidos, tenta não entrar em pânico.

- Não vou fazer nada.

A mulher continuava apavorada, afinal, entrar àquela hora em sua casa já era fazer.

Com pistola e escopeta, deixou-a refém da situação, assim como os três filhos que, dormindo, eram reféns sem saber.

Deu ruim

Ao celular, falava que tinha dado errado. Precisava de dinheiro pra sair, e para isso queria 300 reais. Na eternidade das horas até amanhecer, a mulher ficou ali, insone e preocupada. Ao seu modo, ele também.

- Agora eu quero que você vá lá na lotérica e saque com esse cartão.

Sem parar de pensar um só instante nos filhos, 'Dinda' lhe obedece. Passa pela movimentação de policiais e curiosos.

Após sacar o dinheiro e voltar para casa, só queria que o homem fosse embora. Mas ele precisava de outras roupas. Não só ele, mas os outros em fuga tinham como estratégia ligar ao celular para dar a localização (esperando resgate?) e mudar de roupa. Consegue, do filho mais velho de Dinda, uma bermuda jeans com dobra na altura do joelho e uma camisa amarela escrita Hollister California. Tira a munição das armas e deixa na casa. Como se fosse um comum, volta para bem perto da cena do crime. Porque fica na rua do Bradesco, que tentava explodir, o ponto informal onde se pega os carros de linha, para os municípios vizinhos.

Estava tudo saindo bem, até que poucos instantes após entrar na van para Brejo Santo, o coletivo é abordado pela Polícia.

- Documento de todo mundo, por favor.

O policial já pede olhando para quem queria. Robson 'perdeu'.

Sua prisão foi decisiva para a localização de outros suspeitos do ataque aos dois bancos de Milagres. Porque a Polícia fica sabendo de uma casa, em um bar, no distrito de Santo Antônio do Barro, no vizinho município de Barro. É uma área que faz limite com Milagres e Missão Velha.

Com apoio aéreo do Ciopaer, os policiais em terra prendem o dono do bar e a esposa. Um suspeito que acabava de chegar é morto. Conforme a Polícia, após trocar tiros.

Entre os comuns

Numa das linhas, investigadores acreditam que na fuga pelo matagal, os bandidos teriam jogado as armas para serem confundidos com populares. Poderia gerar dúvida na Polícia, mas não para morador. "Aqui todo mundo se conhece. Quando não conhece, sabe que é parecido com alguém que é familiar", explica o mecânico Humberto Chagas, que trabalha e mora na saída de Milagres pela BR 116.

Os planos da quadrilha eram se dispersar pelas cidades e tomar rumo ignorado. O cerco, no entanto, só fechava. Subiu a conta de mortos, subiria a conta de prisões.

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